quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Como devemos pensar para não desanimar!



O que fazer em relação as outras pessoas?
Muitas vezes as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas.
Perdoe-as assim mesmo.
Se você é gentil, as pessoas podem acusá-lo de egoísta, interesseiro.
Seja gentil assim mesmo.
Se você é um vencedor, terá alguns falsos amigos e alguns inimigos verdadeiros.
Vença assim mesmo.
Se você é honesto e franco, as pessoas podem enganá-lo.
Seja honesto e franco assim mesmo.
O que você levou anos para construir, alguém pode destruir de uma hora para outra.
Construa assim mesmo.
Se você tem paz e é feliz, as pessoas podem sentir inveja.
Seja feliz assim mesmo.
O bem que você faz hoje pode ser esquecido amanhã.
Faça o bem assim mesmo.
Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante.
Dê o melhor de você assim mesmo.
Veja você que, no final das contas, nunca foi entre você e as pessoas, e sim, entre você e Deus.
(Madre Teresa de Calcutá)

"Enquanto estiver vivo, sinta-se vivo.
Se sentir saudades do que fazia, volte a fazê-lo.
Não viva de fotografias amareladas...
Continue, quando todos esperam que desistas.
Não deixe que enferruje o ferro que existe em você.
Faça com que em vez de pena, tenham respeito por você.
Quando não conseguir correr através dos anos, trote.
Quando não conseguir trotar, caminhe.
Quando não conseguir caminhar, use uma bengala.
Mas nunca se detenha."
(Madre Teresa de Calcutá)

“Quando quiser fazer a caridade, prepare-se primeiro, para a ingratidão”. (Chico Xavier)

             “Seja forte, não como as ondas que destroem tudo, mas como as rochas que a tudo resistem”

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A Música e a Dança no Candomblé



Toque de Candomblé é o mesmo que festa, pois se refere às batidas dos atabaques, que possuem uma variedade significativa de ritmos identificados com a necessidade do momento. São mais de 15 ritmos diferentes, acompanhados de cântico ou não. Esses toques têm o poder de entrar em sintonia com o Òrìsà, pois fornecem elementos como gestos e movimentos do corpo que entram em afinidade de forma irresistível.
As celebrações de barracão, os toques, consistem numa seqüência de danças, em que, um por um, são honrados todos os Òrìsà, cada um se manifestando no corpo de seus filhos e filhas, sendo vestidos com roupas de cores específicas, usando nas mãos ferramentas e objetos particulares a cada um deles, expressando-se em gestos e passos que reproduzem simbolicamente cenas de suas biografias míticas. Essa seqüência de música e dança, sempre ao som dos tambores (chamados rum, rumpi e lé) é designada sirè, que em iorubá significa "vamos dançar". O lado público do candomblé é sempre festivo, bonito, esplendoroso, esteticamente exagerado para os padrões europeus e extrovertido. 
Para a realização da festa, que será movimentada por cânticos e danças, são necessárias as presenças dos Ogans, que tocarão os instrumentos musicais, os quais, de marcarem o ritmo, são os responsáveis pela vinda dos Òrìsà com cânticos apropriados. Nos Candomblés existem os cânticos que são entoados com os Òrìsà manifestados e outros não.
Os atabaques são tocados por Ogans confirmados da Casa ou por visitantes importantes, merecedores de homenagens especiais.
Os atabaques são instrumentos sagrados que passam por rituais de iniciação e recebem obrigações como verdadeiras divindades.  São devidamente paramentados com Òda cor  do Òrìsà homenageado ou na cor branca. São em número de 3, e, de acordo com a nação seguida pelo Candomblé, tomam nomes diferentes, do maior para o de menor tamanho, cada um com som diferenciado, de acordo com o tipo de toque ou com o tipo de som que queiram dar, percutidos com as mãos ou com varetas de madeira.

Os atabaques falam: São seres sagrados, dotados de força vital, e que somente os iniciados devem tocar. Os sons que eles emitem reproduzem as modulações da língua yorùbá, que apresenta três tonalidades: alta, média e grave. As frases rítmicas constituem uma espécie de onomatopéia; são as verdadeiras locuções que reproduzem versos, onde se exprime a natureza dos orixás chamados. Essa linguagem tem o poder de mobilizar o mundo sobrenatural. O som carrega asè, e o ritmo tem uma natureza idêntica à natureza do orixá. A mesma frase rítmica, assim como os mesmos versos são repetidos incansavelmente. Repetir a mesma sequência rítmica, o mesmo verso, é renovar a criação; daí o poder atribuído à linguagem dos tambores.

                  O maior dos três atabaques utilizados é o mais destacado, não só pelo seu tamanho, mas pelo que ele realiza. Ele é o solista, marcando os passos da dança com repiques e floreios. Só os mais experientes podem tocá-lo, e, na escala do aprendizado, ele é o último a ser percutido por quem deseja aprender a tocar, porque devem conhecer os momentos para os repiques que irão permitir que o Òrìsà, dançando, realize as variações nos movimentos que lembrarão as ondulações das águas de Òsun, as lutas e agilidade de Ògún e Sàngó, o ato da caça de Òsóò, o ninar da criança de Nàná, a extensão e beleza do arco-íris de Òsùmàrè, o balançar das folhas ao dançar com uma perna só por Òsányín ou o pilar do inhame por Òsàgiyán. Os atributos míticos dos Òrìsà são revelados desta forma.

É ele, ainda, que “dobra o couro”, avisando da chegada de visitantes ilustres, mudando o ritmo do momento, para um bater descompassado. Os dois, o intermediário e o menor, fazem o fundo sem variações maiores. É por eles que se começa o aprendizado e o desenvolvimentos do dom natural de tocar e memorizar.

Enfim, os ritmos musicais diferenciam as nações, não podendo ser misturados, e constituem sequências que não devem ser interrompidas. Permitem diferenciar facilmente três grandes grupos rapidamente identificáveis de orixás, que correspondem as três nações que já conhecemos: Ketu, Angola, Djeje e Ijexá. Por exemplo, os ritmos Ijexá são essencialmente consagrados a Òsún, a divindade de Òsògbò; mas Òsóòsi dança junto com ela, por ser seu marido, assim como Ògún "porque também passou por lá".



"O som é o condutor do Asè do Òrìsá, é o som do couro e da madeira vibrando que trazem os Òrìsás, são sinfonias africanas sem partitura."


Fonte: Awon omi Òsáàlá - José Beniste e Culto aos Orixás - Vivaldo da Costa Lima

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Oração a Òsún





Ìyá mi Òsún...
Olhai por seus filhos...
Que as pedras sejam removidas dos seus caminhos,
Que tenham forças para carregar seus fardos,
Que encontrem coragem para resistir ao mal.
Que possam ver o amor em todos os seres,
Que sejam abraçados pela lealdade,
Que encontrem conforto e saúde se estiverem doentes,
Que sejam prósperos e saibam partilhar.
Que tenham paz cobrindo seu espírito,
Que suas mentes obtenham conhecimentos,
Que usem sabedoria para aplicá-los,
Que saibam distinguir o bem do mal
Que tenham fé para manter-se forte na dor.
Òsún, protegei cada passo dos seus filhos
Que a cada novo dia eles aceitem o novo,
Que saibam alegremente comunicar novidades.
Que vos sinta em todos os momentos
E que tenham o vosso colo por toda a eternidade.


Um carinho e um pedido especial para todos os meus filhos de santo.
Filhos amados, dedicados, fiéis e orgulhosos por serem obè-fari  Òsún. 

Òsún sure fun O!



O Terreiro de Candomblé


É o espaço religioso onde são revividas as coisas sagradas e estabelecidos os contatos diretos com as divindades. O local não  é esolhido para ser edificado, mas sim "descoberto". Algumas circunstâncias podem tomar um lugar pleno de significados a ponto de justificar a sua construção
O mundo sagrado é um mundo independente. O homem nada entende ou realiza sem sentir ou estar localizado a partir de uma definição pessoal. Quando alguém diz ao outro: estou do seu lado, ele não está pensando na proximidade ou numa determinada distância. Pessoas juntas podem estar distantes umas das outras, da mesma forma que a distância pode aproximar e unir, lado a lado, as pessoas. Assim é o espaço religioso.
Há lugares em que todos podem transitar, há outros, porém, onde só alguns podem permanecer. São os locais sagrados e preparados para tal fim. Um bosque, uma árvore, um monte de terra podem vir a ser plens de significados, locais dos quais só se deve aproximar com cuidado e respeito. O mito da fundação do mundo nagô com a terra primordial, a ave encantada que a espalhou por um determinado espaço, onde o poder criador de Òsáàá se manifestou e tornou possível traçar as coordenadas do mundo. Este ponto foi denominado Ilé Ifè e veio a ser o centro do mundo no qual se desenvolveram reinos, tribos, culturas e existência.
Para viver no mundo é preciso fundá-lo e isto é feito através de preceitos no solo que se irá habitar. Cada um constrói o seu mundo. E como se chega até ele? Uma pedra retirada das águas, o encontro de um desconhecido que indicou um caminho, uma árvore especial, os sonhos podem tornar o lugar repleto de significados a ponto de justificar a edificação de um templo, uma comunidade ou um povo.
Muitos templos de Candomblé começam assim. Há sempre uma história para justificá-lo, e quando isto acontece, o reconhecimento pelo agradecimento é dado. Não é a sua dirigente que escolhe o espaço onde irá instalar suas dependências, mas sim o espaço que escolhe através de seu Òrìsá. Nada é feito sem sua anuência, esta é a regra e o motivos de oferendas feitas ao chão. Na realidade, está se considerando o respeito ao local, invariavelmente morada de espirítos, os Onílè, os Senhores da Terra, e a eles devem ser feitas as reverências. Nos ritos de oferendas e sacrifícios, os primeiros líquidos são destinados à terra: " Onílè mo juba o Ìbá Òrìsá Ìbá Onílè  " (Senhores da Terra, meus respeitos Saudamos os orixás Também saudados os Senhores da Terra).
Um templo é o símbolo do espaço sagrado e suas portas separam este espaço, que é inviolável, do espaço profano. O lugar principal transforma-se num centro de força, no centro do mundo. No alto, o òrun, embaixo, o àiyé, e à volta do mundo circundante com seus atributos, vegetações, o poço encantado, animais e os seus habitantes. Um poste central por onde circulam as diferentes formas de danças votivas revela o elemento que une os dois espaços.
É neste ambiente que se produz a intimidade com as divindades e onde se protege e garante a vida e o bem-estar de um povo. É a mistura entre divindades, seres vivos e seres sobrenaturais, cada um delimitado em seu plano de trabalho e separados por sistemas de culto. Todo espaço destinado ao culto de um Òrìsá representa a "face da divindade". Esta é a razão de denominar esses locais de Ojúbo.
O planejamento de um terreiro tem suas formas fixadas inicialment nos assentamentos de determinados Òrìsás, entre eles, Èsú, e a instalação de seu barracão para o desenvolvimento dos rituais públicos. Com o crescimento de seus adeptos, vai tomando novas formas numa tarefa longa a fim de superar os custos financeiros. Daí um terreiro dificilmente ser exatamente de forma como começou. Dar de comer ao chão e à cumeeira são momentos básicos e primordiais para a imantação do espaço sagrado.

 Fonte: Àwon Omi Òsáàlá - José Beniste

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O Yorubà e o Candomblé 1

O Yorùbà e o Candomblé

O Candomblé, em sua essência Yorùbá foi deturpando-se no geral com o passar dos séculos, desde a chegada dos primeiros negros oriundos da África, particularmente da Nigéria e do Dahomé (atual República Popular de Benin), sendo que os de origem Yorùbá foram dos últimos a chegarem ao Brasil, já próximo ao término da escravidão.
Por sua diferença de maneiras (embora se diga que não) foram aproveitados em grande número como escravos domésticos, pois eram considerados mais refinados. Mas, com a sua adaptabilidade do tão conhecido jeitinho brasileiro, moldou-se segundo a nossa personalidade, adaptando-se e forjando-nos como afro-brasileiros para nos classificarmos, se assim se pode dizer.
A nossa religião é uma das mais belas e originais manifestações de espiritualidade, com um vasto e riquíssimo naipe de nuanças, com personalidade, feição e expressão próprias, traduzidas em linguagem também própria e particularizadas, apesar de variada.
A linguagem oral: através da qual se expressam os orins (cânticos), àdúràs (rezas), ofós (encantamentos) e oríkìs (louvações). É através dela que se conversa com os Òrìsà.
Nossa religião é eminentemente de transmissão oral, e a despeito disso, preservaram grande parte dos seus rituais, cânticos e liturgia com sua língua litúrgica falada quase que fluentemente em seu bojo, pelas pessoas mais proeminentes, mas, infelizmente, em número bem restrito.
A língua oficial nos cultos Kétu, Ègbá, Ifón e Ìjèsà é o Yorùbá, que apesar disso é também muito utilizada nos cultos de origem Angola e Jeje, que são oriundos de países e culturas diferentes.
            Apesar de pouco conhecido pela grande maioria dos adeptos da religião, o Yorùbá é amplamente falado de maneira empírica apenas mecânica e meramente mimética, repetindo-se o que foi dito e decorado anteriormente.
Diz algumas pessoas, que o Yorúbá é uma língua morta e está para o culto aos Òrìsà assim como o Latim está para o Catolicismo. Mas isso é um engano, o Yorùbá é uma língua viva e dinâmica e é falado ainda nos dias atuais por cerca de 20 a 25% da população da Nigéria e possui elevado número de dialetos, cuja língua oficial é o Inglês, introduzido ali pelos colonizadores.
            No Benin, são mais ou menos 20 a 25% também de sua população, dentre outros tantos dialetos, que falam o Yorùbá como sua primeira língua ou segunda, dependendo do aculturamento.
            O Yorùbá é a primeira língua de aproximadamente 30 milhões de africanos ocidentais, e é falada pelas populações no Sudoeste da Nigéria, Togo, Benin, Camarões e Serra Leoa.
A língua também sobreviveu em Cuba (onde é chamada de Lukumi) e no Brasil (onde é chamada Nagô), termo que inicialmente era usado pejorativamente, querendo significar "gentinha, gentalha, ralé".
À parte de vários dialetos, existe o Yorùbá padrão, que é usado para propósitos educacionais (ex. em jornais, revistas, no rádio, TV e em escolas). Esta forma padrão é compreendida por oradores dos vários dialetos que atuam como tradutores do Yorùbá oficial para o dialetal e vice-versa.
No Brasil o interesse pelo Yorùbá dá-se principalmente entre as pessoas adeptas da Religião dos Òrìsà, que recebe o nome genérico e popular de Candomblé, não importando a origem, se Yorùbá, Fon (Jeje) ou Bantu (Angola).
            O Candomblé nasceu da necessidade dos negros escravos em realizarem seus rituais religiosos que no princípio eram proibidos pelos senhores de escravos. E para burlar essa proibição, os negros faziam seus assentamentos e os escondiam, preferencialmente fazendo um buraco no chão, cobrindo-os e por cima colocavam uma imagem de um santo católico. Então eles cantavam e dançavam para seus Òrìsà, dizendo que estavam cantando e dançando em homenagem àquele santo católico; daí nasceu o sincretismo religioso, que foi abandonado mais tarde pela maioria dos adeptos do Candomblé tradicional, com o "término" da escravidão e mais concretamente quando o Candomblé foi aceito como religião com a liberdade de culto garantida pela Constituição Brasileira.
À primeira vista para os leigos, o Candomblé é uma coisa só. Mas, não é bem assim. Existem vários grupos, onde o mais expressivo, sem dúvida, é o grupo Yorùbá (na atualidade). Na época do tráfico de escravos, vieram muitos negros oriundos de Angola e Moçambique: os Bantos, Cassanges, Kicongos, Kiocos, Umbundos, Kimbudos, de onde se originou o “Candomblé Angola”, facilmente reconhecido por quem é da religião, pela maneira diferente de falar, cantar, dançar e percutir os tambores, o que é feito com as mãos diretamente sobre o couro com ritmos e cadências próprios, alegres e ligeiros.
É o Candomblé de onde se originou o Samba, que tomou emprestado o próprio nome, que em Kimbundo significa "oração". É também origem do "Samba de roda", que era feito como recreação, principalmente pelas mulheres, após os afazeres rituais, dançando e cantando dizeres em sua maioria jocosos e galhofeiros. Mais tarde assimilado pelo Samba de Caboclos, aí já em sua versão mais “abrasileirada” como um culto ameríndio que era feito pelos Caboclos, neste momento incorporados em seus "cavalos" e já em idioma aportuguesado com versos chamados de "sotaque". Isto, porque quase sempre eram parábolas ou charadas que poucos entendiam, muito em voga ainda hoje.
Acha-se que este Samba de Caboclos foi o embrião da Umbanda, onde nasceu o culto aos Òrìsà cantado e falado em português, fazendo assim a nacionalização dos Òrìsà africanos, que algumas pessoas faziam objeção por ter uma língua estrangeira não bem aceita pelos já nascidos brasileiros e que foram perdendo os conhecimentos da língua ancestral, principalmente por causa do analfabetismo. 
A Umbanda é a mistura do culto aos Òrìsà, do Catolicismo e do Kardecismo, resultando numa religião Brasileira, que hoje em dia é até exportada para os países vizinhos, principalmente os do cone Sul, como Argentina, Paraguai e Uruguai, onde existem até confederações de Umbanda e onde o Brasil está para eles, assim como a África está para nós. 
A origem da força cultural Yorùbá foi demonstrada em uma das guerras havidas entre o Dahomé e a Nigéria, mais ou menos do meado para o final do século dezesseis, em que o Estado de Kétu teve praticamente metade do seu território anexado ao Dahomé como espólio de guerra, após sua população, juntamente com a de Meko, ter sido saqueada e parte dela capturada como escravos perdurando essa anexação militar até os dias atuais.
            Como resultado dessa guerra, muitos foram capturados de ambos os lados, e foram vendidos aos portugueses como escravos. Foi quando, já ao final do século, começaram a chegar tantos os escravos de origem Ewe-Fon, conhecidos popularmente por Jejes, oriundos do Benin, antigo Dahomé, que foram capturados pelos Yorùbá, como recíproca dos Yorùbá capturados pelos Ewe-Fon, também vendidos como escravos. Os Yorùbá em sua maioria, eram oriundos de Kétu, o território anexado. Mas, também vieram negros trazidos de outras áreas Yorùbás como Òyó, Ègbá, Ilesá, Ifón, Abeokutá, Irê, Ìfé, etc. 
Estes dois grupos (Jeje e Yorùbá) quando chegaram ao Brasil, continuaram inimigos ferrenhos e não havia hipótese de um aceitar o outro. Mas, eram indivíduos de tradições sociais religiosas tribais e não podiam sobreviver sozinhos. Então procuraram unirem-se em virtude da condição cativa de ambos. Essa união era difícil tanto pela barreira do idioma, pois eram vários e diferentes em dialetos, quanto pelo ódio que alguns nutriam contra os outros. Do que os senhores de escravos e feitores se aproveitavam em tirar proveito para fomentar mais ainda a animosidade entre eles. Pois, os senhores de Engenho, principalmente, temiam a união do grande número de escravos, o que certamente poderia colocar em risco a segurança dos brancos. Então, quando eles permitiam que os negros se reunissem no terreiro para cantar e dançar, estimulava-lhes a que fizessem "rodas" separadas, somente com seus compatriotas, onde os Kétu não misturavam-se aos Jejes nem Bantu e assim também os outros faziam o mesmo eles próprios com relação aos outros. Mas, com o tempo essa tática foi deixando de dar certo, porque os negros entenderam que sua maior fraqueza era a sua própria desunião, e resolveram se unir para facilitar um pouco à sobrevivência, unindo-se contra o inimigo comum, isto é, o branco. Isso é mais evidenciado com a instituição dos quilombos, que eram focos de resistência dos negros fujões, e que não se curvavam à escravidão.   
Na nossa religião nós cantamos, oramos e, até dialogamos em Yorùbá com pequenas frases e termos usuais do dia-a-dia nas casas de culto com a assimilação de um até vasto vocabulário, se levarmos em consideração as condições em que se deu a preservação disto. 
            É de suma importância às linguagens da nossa religião, sobretudo, a oral porque a entendendo, entenderemos os rituais e poderemos nos comunicar com os nossos Òrìsà e Ancestrais, através da palavra.
            Se não souber falar Yorùbá a pessoa falará aos emane em português mesmo, os Òrìsà ouvirão e atenderão da mesma maneira. O que é mais importante é a fé e a sinceridade com que nos dirigimos a eles. Contudo, se nos comunicamos em Yorùbá é muito mais gratificante a emoção que sentimos ao saber que o fazemos da mesma maneira que os nossos Ancestrais faziam há vários séculos atrás em nossa língua mãe religiosa.
            Então, nós louvamos, elogiamos, exaltamos, enaltecemos os imalè no culto aos Òrìsà, no Candomblé, de acordo com a herança a nós legada pelos nossos antepassados, negros oriundos de vários lugares d'África, atravessando os séculos e chegando até nossos dias. As cantigas são um modo de enaltecer e glorificar fatos e feitos relacionados com determinado Òrìsà, reportando-se à mitologia daquele Òrìsà.
            Louvar é: elogiar, dirigir louvores, exaltar, enaltecer, etc. Isto nós o fazemos diuturnamente no culto aos Òrìsà, de acordo com a herança a nós legada pelos nossos ancestrais negros que nos ensinaram como fazê-lo através dos séculos desde então, da mesma maneira como eles o faziam. Essas maneiras são variadas e diversas, embora, aos olhos do leigo, possa parecer tudo a mesma coisa.
Dessas maneiras, a mais popular é o ORIN (a cantiga-música). Com ela nós louvamos qualquer orixá ou imalè (espíritos). As cantigas são modos de enaltecer e glorificar os fatos e feitos relacionados a determinado Òrìsà ou imalè, reportando um acontecimento ligado à mitologia daquele Òrìsà.
Portanto, aprender a cantar corretamente e rezar para louvar os Orisá faz-se necessário, inclusive para um maior conhecimento e entendimento das suas lendas.


   
Fonte:Texto de Altair T’Ogun
Adaptado por Babalorixá Fábio Ti Sangó (Obagodô)

A Cachoeira Encantada



"As águas caem com uma violência que me colocam com medo, estática. Fico ali recebendo os respingos daquela água limpa, pura, cristalina.
Sinto vontade de receber aquele jato de pura limpeza, onde irei relaxar, arrancar o meu "eu" tão pesado, tão denso de escuridão!
Mas não ouso, o medo me consome, o jato é poderoso e minha fragilidade não me permite enfrentar.
Arrisco colocar o pé no laguinho que se forma em baixo daquela torrente de águas claras. quero me banhar. Arrisco outro pé, as duas pernas e assim vou aos poucos me confraternizando, inteirando meu corpo cansado e quente no frescor daquela água. Me sinto abençoada. Tímida, amedrontada, feliz!
Vou um pouco mais fundo e vejo meus pés, tudo está tão limpo, que a minha densa escuridão se apaga com a luz do sol que reflete em mim, dentro da água.
Sinto seu calor, sua luz dissipando o frio intenso e a escuridão taciturna que se faz em mim.
Fico extasiada, me sentido pequena, frágil, sendo abraçada por aquele carinho que me abraça.
Estou no útero da vida. Retorno ao meu princípio me sentindo um pequeno feto que nada dentro de sua mãe.
Ali descubro cada pedaço meu. Cada ponto que me negava enxergar porque a escuridão não saia dos olhos do meu âmago.
Agora a proteção daquela imensa luz me faz semi acordada, chutando o ventre, quero nascer!
Me preparo para o parto, onde a mãe em meio a dores, mostra-me seu amor ao abrir um grande sorriso em meio a lágrimas de sua dor de parir.
Faço movimentos giratórios dentro daquele útero magnífico e me vejo perfeita, saudável, limpa! Sinto seu peito arfar de dor e de amor!
E as águas puras e quentes, encaloradas do meu pai sol lavam os meus últimos resquícios de escuridão, porque agora verei a luz. A luz de quem é expulso do útero para viver essa vida tão apartada do calor de mãe.
Mas em meus giros para nascer vejo que tudo se torna um imenso redemoinho onde não posso mais ficar estática diante da grandeza da vida!
Reciclo meu ser, e ganho uma alma de aprendiz, onde a primeira coisa a aprender é falar!
Falar com a alma, com o ser, onde as palavras são sempre novas, curtas, bonitas e precisas. Tenho certeza que não aprenderei frases grandes, mas grandes frases.
O parto é tão intenso de carinho que a dor de minha mãe se transforma em vida para mim!
A vida que vem através da dor do amor, do alicerce do compartilhamento de sua própria alma.
Vim desintegrada de ego, para nascer inteira na alma. Vim correndo em minhas estradas bifurcadas para encontrar o caminho da paz.
Quando o útero expele minha cabeça, as lágrimas vêm lavando minha face, exteriorizando assim os últimos respingos de água que lavaram minha alma. Vejo a vida, e saio completamente. Me deparo comigo!
O som das águas caindo é a minha canção de ninar, onde eu sinto as mãos de minha mãe envolverem todo o meu ser, com sua voz suave, com seu sorriso terno, num ápice do amor maior.
Agora o mundo não gira mais em torno de mim, porque eu giro em torno da vida. Sou a própria vida!
Detenho em minhas mãos o amor do nascimento, onde a dor se fez existência, as lágrimas se fizeram certeza!
O sangue que me gerou, não deixou qualquer imperfeição,qualquer deficiência!
Estou pronta, os raios do sol secam meu corpo e iluminam todo meu ser. Já abri os olhos e o azul é a primeira cor que vejo, o amarelo não é mais capaz de me cegar porque todas as cores agora vêm do branco e não se dirigem para o ponto obscuro e sim para o reflexo do arco íris."



(Artigonal SC #3704075) -  Texto da minha linda amiga e irmã @SileLessy (Inês Maria).

sábado, 8 de janeiro de 2011

Lendas de Òsún, Yemoja, Nanan e Yewá

LENDA DE ÒSÚN

"Conta à lenda que Òsáàlá numa de suas caminhadas pelo mundo, iria passar pela aldeia de Òsún, onde pretendia parar e descansar.
Esú, mensageiro dos Òrìsás, correu para avisar Òsún que o grande Òrìsá Funfun estava a caminho de sua cidade. Era preciso organizar uma grande recepção, pois a visita era muito importante para todos. Ela, então, apressou-se com os preparativos da festa, ordenando a limpeza de todas as casas e lugares públicos da aldeia, bem como que os enfeites utilizados fossem da cor branca. Òsún cuidou pessoalmente da ornamentação e limpeza de seu palácio, pois tudo tinha que estar perfeito, à altura de Òsáàlá.
Com tantos afazeres importantes, em tão curto espaço de tempo, Òsún não se lembrou de convidar as Ìyámins para a grande festa.
As feiticeiras não perdoaram essa desfeita. Sentindo-se muito desprestigiadas, resolveram desmoralizar Òsún perante os convidados.
No dia da chegada de Òsáàlá à cidade, Òsòrongá entrou disfarçada no palácio para colocar, no assento do trono da Òsún, um preparado mágico, que não fora notado por ninguém.
Toda a cidade estava impecavelmente limpa e ornamentada. O palácio de Òsún, que fora caprichosamente preparado, tinha seus móveis e utensílios cobertos por tecidos de uma alvura imaculada. Branca também seria a cor das roupas utilizadas na cerimônia.
Òsáàlá finalmente chegou, sendo respeitosamente reverenciado numa grande demonstração de fé e admiração ao grande mensageiro da paz.
Òsún, sentada em seu trono, esperava com impaciência a entrada de Òsáàlá em seu palácio, quando iria oferecer-lhe seu próprio assento. Mas, ao tentar levantar-se, percebeu que estava presa em sua cadeira e, por mais força que fizesse, não conseguia soltar-se. O esforço que empreendeu foi tão grande, que, mesmo ferida, conseguiu ficar em pé, mas uma poça de sangue havia manchado suas roupas e também sua cadeira.
Quando Òsáàlá viu aquele sangue vermelho no trono em que se sentaria, ficou tão contrariado, que saiu imediatamente do recinto, sentindo-se muito ofendido.
Òsún, envergonhada com o acontecido, não conseguia entender porque havia ficado presa em sua própria cadeira, uma vez que ela mesma tinha cuidado de todos os preparativos.
Escondendo-se de todos, foi consultar o oráculo de Ifá para obter um conselho. O jogo, então, lhe revelou que Oxorongá havia colocado feitiço em seu assento, por não ter sido convidada.
Esú, a pedido de Òsún, foi em busca do grande pai, para relatar-lhe o ocorrido.
Òsáàlá retornou ao palácio, onde a grande mãe das águas estava sentada de cabeça baixa, muito constrangida. Quando ela o viu, começou a abanar seu abebe, transformando o sangue de suas roupas em penas vermelhas, que, ao voar, caíram sobre a cabeça de todos os que ali estavam, inclusive a de Òsáàlá. Em reconhecimento ao esforço que ela empreendeu para homenageá-lo, ele aceitou aquela pena vermelha (ekodide), prostrando-se à sua frente, em sinal de agradecimento.
A partir de então, essa pena foi introduzida nos rituais de feitura do Candomblé. "





LENDA DE YEMO
 
Yemojá, grande òrìsá das águas, era filha de Olókun, o senhor dos oceanos. Era possuidora de um grande instinto maternal, que fez dela mãe de dez filhos. Embora casada, não tinha grande apego por seu marido. Às vezes, pensava em deixá-lo, mas ele era um homem muito importante e poderoso, e não permitiria tal desonra. Yemo também pensava no bem-estar de seus filhos, não podendo deixá-los desamparados.
Seu marido usava o poder com tirania, inclusive com sua família, tornando a vida dela insuportável. Ela não agüentava mais se submeter aos caprichos de um homem que ela desprezava.
Ela procurou seu pai para aconselhar-se sobre a atitude que deveria tomar. No fundo, ela já estava decidida a fugir, mas precisava de seu apoio. Olókun não a recriminou, pois ela era uma soberana e, como tal, não poderia aceitar o jugo de ninguém. Ele, então, deu à sua filha uma cabaça com encantamentos, para que ela usasse quando estivesse em perigo.
Yemo colocou seu plano em prática, fugindo com todos os seus filhos.
Quando ela já estava bem longe de sua aldeia, viu que estava sendo perseguida pelo exército de seu marido. Pensou em enfrentá-los, mas eles eram muitos e seria uma luta desleal. Yemo odeia os confrontos, pela destruição que causam, já que é um orixá propagador de vida.
Quando se sentiu acuada, resolveu abrir a cabaça e pedir socorro ao seu pai. Do seu interior escoou um líquido escuro, que, ao tocar o chão, imediatamente formou um rio, que corria em direção ao oceano.
Foi nessas águas que Yemo e seu povo encontraram um caminho para a liberdade. "



LENDA DE NANAN

Olorun enviou Nanan e Òsáàlá para viverem na Terra e criarem a humanidade.  Os dois foram dotados de grandes poderes para desempenharem essa tarefa, mas somente Nanan tinha o domínio do reinado dos eguns, e guardava esses segredos, bem como o da geração da vida, em sua cabaça.

Osáàlá não se conformava com esta situação, queria poder compartilhar desses segredos. Tentava agradar sua companheira com oferendas para convencê-la a revelar seu conhecimento.
Nanan, sentindo-se feliz com as atitudes de Òsáàlá, decide mostrar-lhe Egun, mas apenas ela era reconhecida nesse reinado.
Certa vez, enquanto Nanan trabalhava com a lama, Òsáàlá, disfarçando-se com as roupas dela, foi visitar egun, sem lhe pedir autorização.
Quando Nanan, sentiu a falta de Òsáàlá e de sua própria vestimenta, teve certeza de que ele havia invadido o seu reinado, atraiçoando-a gravemente.  Enfurecida com a descoberta, resolveu fechar a passagem do mundo proibido,  deixando Òsáàlá preso.
Enquanto isso, Òsáàlá caminhava no reinado de Nanan, tentando descobrir seus mistérios, mas apenas ela conseguia comunicar-se com os eguns.
Egun, sempre envolto em seus panos coloridos, não tinha rosto, nem voz.  Òsáàlá, usando um pedaço de carvão, criou um rosto para ele, como já havia feito com os seres humanos, e, com seu sopro divino, abriu-lhe a fala.  Assim, ele conseguiu desvendar os segredos que tanto queria, mas, quando se deu conta, viu que não conseguia achar a saída.
Nanan não sabia o que fazer, por isso fechou a passagem para mantê-lo preso até encontrar uma forma de castigá-lo. Contou a Olorun sobre a traição de Òsáàlá, que não aprovou a atitude de ambos.  Nanan errou ao revelar a Òsáàlá os segredos que o próprio Olorun lhe confiara.  Para castigá-la, tomou o seu reinado e o entregou a Òsáàlá, pois ele desempenhara melhor a tarefa de zelar pelo eguns.  Òsáàlá também foi castigado, pois invadiu o domínio de um outro òrìsá.  Daquele dia em diante, Òsáàlá seria obrigado a usar as roupas brancas de Nanan, cobrindo o seu rosto com um chorão, que somente as ìyágbás usam."


LENDA DE YEWÁ 

" Yewá era filha de Nanan. Também filhos de Nanan eram Obaluwàiyè, Osùmàrè e Osaniyn. Esses irmãos regiam o chão da Terra. A terra, o solo, o subsolo, era tudo propriedade de Nanan e sua família. Nanan queria o melhor para seus filhos, queria que Yewá casasse com alguém que a amparasse. Nanan pediu a Orunmìlà bom casamento para Yewá. Yewá era linda e carinhosa, mas ninguém se lembrou de oferecer sacrifício algum para garantir a empreitada. 
Vários príncipes ofereceram-se prontamente a desposar Yewá. E eram tantos os pretendentes que logo uma contenda se armou. A concorrência pela mão da princesa transformou-se em pugna incessante e mortal. Jovens se digladiavam até a morte. Vinham de muito longe, lutavam como valentes para conquistar a sua beleza. Mas a cada vencedor, Yewá não se decidia. Yewá não aceitava o pretendente. Vinham novos candidatos e outros combates. Yewá não conseguia decidir-se, ainda que tão ansiosa estivesse para casar-se e acabar de vez com o sangrento campeonato.
Tudo estava feio e triste no reino de Nanan; a terra seca, o sol quase se apagara. Só a morte dos noivos imperava. Yewá foi então à casa de Orunmìlà para que ele a ajudasse a resolver aquela situação desesperadora e por fim àquela mortandade. Yewá fez os ebós encomendados por Ifá. Os ventos mudaram, os céus se abriram, o sol escaldava a terra e, para o espanto de todos, a princesa começou a desintegrar-se.
Foi desaparecendo, perdendo a forma, até evaporar-se completamente e transformar-se em densa e branca bruma. E a névoa radiante de Yewá espalhou-se pela Terra. E na névoa da manhã Yewá cantarolava feliz e radiante. Com força e expressões inigualáveis cantava a bruma. O Supremo Deus determinou então que Yewá zelasse pelos indecisos amantes olhasse seus problemas, guiasse suas relações." 



A semana na casa de Candomblé



A semana para o povo Yorubá era composta de 4 dias, pois foi neste espaço de tempo que o mundo foi criado. Segundo as narrativas tradicionais o quinto dia foi reservado para reverenciar o Ser Supremo, Olórun, e para descansar.
Para cada dia da semana — Ojó òsè — é designado um Òrìsà regente, identificado com a tarefa a ser exercida pela humanidade:

1º Dia — Ojó Awo.
Consagrado ao exercício da sabedoria pelo poder de Òrúnmìlà, na revelação dos fatos pertinentes ao destino das pessoas, suas aflições, desejos e condução de vida com retidão. Para isso, o primeiro dia é sempre destinado à prática da consulta divinatória — Awo — por meio dos búzios ou do Ifá.


2º Dia — Ojó Ògún.
Dedicado à tarefa da luta pela sobrevivência e conquista de posições consagradas pela sociedade. É o trabalho diário para o sustento familiar, desbravando as batalhas  que a vida apresenta, superando-as com dignidade na busca das realizações que lhes foram destinadas.


3º Dia — Ojó Jàkúta.
O terceiro dia exalta a justiça a que todos estão sujeitos quando infringem as lei do Ser Supremo. Jàkúta é a denominação de um antigo Òrìsà, anterior a Sàngó, cujo nome significa “o atirador de pedras”, numa alusão aos meteoritos que caem do espaço atingindo pessoas, casas e comunidades, como forma de punição divina por erros cometidos. Por isso é cognominado o Justiceiro de Olódùmarè.


4º Dia — Ojó Obàtálá.
Reverencia Òsàlá, a quem foi incumbida a criação da Terra. Neste dia é reverenciado o princípio criador e formalizador das idéias. Determina um comportamento digno, boa conduta e caráter íntegro das pessoas.

O primeiro dia após o quarto dia da semana Yorubá é denominado de Ojó Ojà Ifé — dia do mercado de Ifé.
O contato cultural entre negros e brancos exigiu uma revisão na ordenação dos dias da semana, sendo aceito o sistema ocidental de sete dias. Foram designadas divindades tutelares para cada dia a fim de definir o tempo sagrado:

Segunda-feira — Èsù, Omolu
Terça-feiraNànán, Òsùmàrè, Ògún
Quarta-feira — Sàngó, Yánsàn
Quinta-feiraÒsóòsì, Logún Edè
Sexta-feira — Òsàlá
SábadoYemo, Òsun
Domingo — Todas.

Os dias específicos para determinados rituais foram convencionados como variações de acordo com a natureza de certas divindades e as tradições seguidas por determinadas Casas:

Segunda-feira — obrigação para Èsù na maioria dos casos, com trabalhos de sacudimento e outros serviços espirituais.
Quarta-feira — oferecimento do Àmàlà e oferendas votivas; ritos de Bori; nos ritos de iniciação, determina a entrada para as obrigações, a fim de que os 16 ou 17 dias de recolhimento tenham o seu término num Sábado, para a festa pública do Nome de Ìyàwó. Em alguns casos, não há esta obrigatoriedade de o nome ser dado num Sábado.
Sexta-feira — neste dia, o Candomblé paralisa suas atividades, por ser consagrado à Òsàlà. Resquícios do sincretismo pelo fato de Jesus ter morrido neste dia da semana, daí a expressão Sexta-feira Santa. Nos Candomblés jeje, uma pessoa recolhida para iniciação fica virada sempre, só desvirando às sextas-feiras.

Sábado — de madrugada, ritos de sacrifício, e à noite, as festas públicas.



Fonte: Igbà - a utilização da cabaça

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Lenda de Òsáàlá

LENDA DE OSÀLUFAN - OSÀÁLÁ (A CRIAÇÃO DA TERRA) 

" Olorun, Deus supremo, criou um ser, a partir do ar (que havia no início dos tempos) e das primeiras águas. Esse ser encantado, que era todo branco e muito poderoso, foi chamado Osáàlá. Logo em seguida, criou um outro orìsá que possuía o mesmo poder do primeiro, dando-lhe o nome de Nanan. Os dois nasceram da vontade de Olorun de criar o universo.
Osáàlá passou a representar a essência masculina de todos os seres, tornando-se o lado direito de Olorun. Nanan, por sua vez, teria a essência feminina, e representaria o lado esquerdo. Outros orìsás também foram criados, formando-se um verdadeiro exército à serviço de Olorun, cada um com uma função determinada para executar os planos divinos.
Esú foi o terceiro elemento criado, para ser o elo de ligação entre todos os orìsás, e deles com Olorun. Tornou-se costume prestar-lhe homenagens antes de qualquer outro, pois é ele quem leva as mensagens e carrega os ebós.
Olorun confiou à Osáàlá a missão de criar a Terra, investindo-o de toda a sabedoria e poderes necessários para o sucesso dessa importante tarefa. Deu a ele uma cabaça contendo todo asè que seria utilizado.
Osáàlá, orgulhoso por ter recebido tamanha honraria, achou desnecessário fazer as oferendas a Esú.
Esú, vendo que Osáàlá partira sem lhe fazer as oferendas, previu que a missão não seria cumprida, pois, mesmo com a cabaça e toda a força do mundo, sem a sua ajuda não conseguiria chegar ao local indicado por Olorun.
A caminhada era longa e difícil, e Osáàlá começou a sentir sede, mas, devido à importância de sua missão, não podia se dar ao luxo de parar para beber água. Não aceitou nada do que lhe foi oferecido, nem mesmo quando passou perto de um rio interrompeu a sua jornada. Mais à frente, encontrou uma aldeia, onde lhe ofereceram leite de cabra para saciar sua sede, que também foi recusado.
Todos os caminhos pareciam iguais e, depois de andar por muito tempo, sentiu-se perdido. De repente, ele avistou uma palmeira muito frondosa, logo à sua frente, Osáàlá, já delirando de tanta sede, atingiu o tronco da palmeira com seu cajado, sorvendo todo o líquido que saía de suas entranhas (era vinho de palma). Embriagado pela bebida, desmaiou ali mesmo, ficando desacordado por muito tempo.
Esú avisou Nanan que Osáàlá não havia feito as oferendas propiciatórias, por isso não terminaria sua tarefa. Ela, agindo por contra própria, resolveu consultar um Bàbálawò para realizar devidamente as oferendas. O sacerdote enumerou uma série de coisas que ela deveria oferecer, entre elas um camaleão, uma pomba, uma galinha com cinco dedos e uma corrente com nove elos. Esù aceitou tudo, mas só ficou com a corrente, devolvendo o restante à Nanan, pois ela iria precisar mais tarde. Outros sacrifícios foram realizados, até que Olorun a chamou para procurar Osáàlá, que havia esquecido o saco da criação com o qual criaria a Terra. Nanan, após terminar suas oferendas, foi atrás de Osáàlá, encontrando-o desacordado próximo ao local onde deveria chegar.
Ao saber que Osáàlá havia falhado em sua missão, Olorun ordenou que a própria Nanan prosseguisse naquela tarefa com a ajuda de todos os òrìsás. E assim foi feito. Nanan pegou o saco da criação e o entregou à pomba, para que voasse em círculo. A galinha com cinco dedos foi solta, para espalhar aquela imensa quantidade de terra, e, finalmente, o camaleão arrastou-se vagarosamente, para compactá-la e torná-la firme.
Quando Osáàlá acordou, viu que a Terra já havia sido criada, e não o fora por ele. Desesperado, correu até Olorun, que o advertiu duramente por não ter reverenciado Esú antes de partir, julgando-se superior a ele. Osáàlá, arrependido, implorou perdão. Olorun, sempre magnânimo, deu-lhe uma nova e importantíssima tarefa, que seria a de criar todos os seres que habitariam a Terra. Desta vez ele não poderia falhar!
Usando a mesma lama que criou a Terra, Osáàlá modelou todos os seres, e, insuflando-lhes seu hálito sagrado (emi), deu-lhes a vida.
Desta forma, Nanan e Osáàlá desempenharam tarefas igualmente importantes, juntamente com a valiosa ajuda de todos os Òrìsás, que possibilitaram o surgimento deste novo e maravilhoso mundo em que vivemos. "




"Qual direção tomará nossa religião?

Pejigan Vanderlei de Otolú, um amigo de Orkut, me autorizou a postar neste blog, esta mensagem, que considero ser verdadeira e uma bela reflexão sobre os andamentos futuros da nossa religiosidade. Gostaria de agradecer imensamente ao irmão pela gentileza, e parabenizá-lo por suas considerações, de extrema importância não só para nós adeptos das religiões de matriz africana, mas também , para integrantes de outras religiões. Temos que rever nos conceitos imediatamente, concluo.

Mo dùpé Pejigan Vanderlei! Kolofè, Àwùré, Motumbà!


Qual direção tomará nossa religião?
 
" Todos os seres humanos são suscetíveis à dúvida, por isso, se não tivermos bem calçados em nossa fé, titubeamos ao menor sinal de contradição.
Para aqueles que amam a religião, como eu, só a verdade é o que importa.
Não consolidamos nossa fé baseados em mágicas, truques ou fatos que não são reais, chegamos, há um tempo, onde só a verdade poderá libertar os nossos medos, mitos ou fanatismos.
Todos nós sabemos que não se trata só de um culto aos Orixás ou aos Exus, são verdades que queimam nossa alma.
Vimos várias religiões no mundo chegarem a um abismo, porque se basearam em fatos que não consolidam a verdade e a razão por meio do discernimento.
A própria Igreja católica se encontra em uma situação de degradação, pois furtou a humanidade da verdade, dando assim sua contribuição para o caos religioso.
Hoje temos o poder em nossas mãos, porque podemos olhar em todas as direções e, com isso, escolhemos o melhor de um modo geral.
Ouvimos muito se falar em separação do joio e do trigo e, muitas vezes, não interpretamos da maneira correta, na grandeza que essa frase tem. Separar a religião da mentira, separar os religiosos dos mentirosos. Acho que essa será a luta mais difícil que travaremos, pois, os mulçumanos saíram em nossa frente e ainda não conseguiu essa separação, ainda são vistos como "homens bombas".
Como transformar uma religião que não tem quase escrita em uma verdade consumada? Nossos Orixás são negros, nossos negros ainda são escravos, vivemos com o peso de 100 anos de retroação. Da Vinci não pintou nenhum quadro de Oxalá com cabelos longos, e, já no mundo moderno, ainda somos marginalizados porque não se há o conhecimento pleno de nossa religião, socialmente. Somos vistos como aqueles que matam galinhas e cabras para feitiçarias.
Deter o conhecimento algumas vezes, pode parecer bom, quando esse conhecimento não nos enche com os devaneios de poder, quando esse conhecimento diminui as arestas da injustiça e nos leva à verdade e ao crescimento evolutivo.
Vivemos milagres diários, alguns pequenos, outros maiores. Somos tocados pela graça de Deus, Oxalá, Alá, Jeová, do momento que nascemos até quando partimos daqui. Enfim, é grandioso e complexo o plano divino, e, fazemos parte dele com um pouco da contribuição de cada um com suas histórias pessoais, com suas lutas e vitórias, exercendo o pleno direito de viver em busca da verdade absoluta.
A distância de primitiva para extinta pêndula no que é difundido com verdade!
Um forte abraço do Pejigan Vanderlei! "