" Muita gente acredita que os Òrìsás são seres inferiores, perversos e de pouca luz. Ou, então, chegam a definí-los como criaturas demoníacas, com grande poder de destruição, usados somente para o mal. Mas, então, o que realmente são os Òrísás?
Para nós, os Òrìsás são seres divinos criados por Olórun, nosso Deus único, que o auxiliaram na criação do universo e de todos os seus componentes. A partir daí, eles ganharam a função de intermediários entre o criador e a criatura. É através deles que podemos tentar chegar um pouco mais perto de Deus, se isso não for muita pretensão para nós, meros mortais.
Segundo os Yorubás, os Òrìsás são os donos da nossa cabeça, ou "Ori", e nossos protetores individuais. Eles estão sempre tentando nos transmitir seus conhecimentos, que, muitas vezes, passam desapercebidos pela nossa razão, mas não pelos nossos sentidos. Infelizmente, não damos a devida importância a esse fato, achando que são "coisas da nossa imaginação". Segundo acreditamos, houve uma grande ruptura entre os seres humanos e os Òrìsás, que antes viviam lado a lado, cada um podendo visitar o mundo um do outro; ou seja, a Terra (Àiyé) e o céu (Òrún), estavam ligados entre si, não existindo barreiras. Algumas lendas do Candomblé contam que tudo corria muito bem, até um ser humano desrespeitar a ordem estabelecida por Olórun. Seu erro foi adentrar em um local proibido, maculando-o com a sujeira da Terra. Isso não foi perdoado, e a separação tornou-se inevitável. Assim, Osàálá soprou o seu hálito divino sobre a Terra, criando o ar atmosférico, que seria, daí em diante, a barreira entre esses dois mundos. Desde então, os seres humanos vivem tentando alcançar o céu e seus seres encantados, sem obter resultado.
Nós, através do Candomblé, conseguimos restabelecer essa ligação com o Òrún, e temos o poder de presenciar claramente a manifestação da centelha divina em nosso interior, que é a experiência mais maravilhosa que alguém pode experimentar. A esse conjunto de mecanismos criados pelos seres humanos para tentar chegar mais perto do criador e reatar, assim, a comunicação interrompida no passado, é a melhor definição para a palavra religião.
Há varias formas de um mesmo Òrìsá, isto é, existem vários tipos diferentes provenientes de uma mesma origem divina. A esse fenômeno damos o nome de qualidades. Tomemos o exemplo do Òrìsá Òsún, que reina nas águas doces. Ele irá subdividir-se em várias formas ou qualidades, como: Ìyápondá, Opará, Kàré, etc. Todas essas qualidades têm a mesma essência, mas diferem entre si em muitas coisas, inclusive no que diz respeito a seus fundamentos e rituais. Esse tema é muito complexo, gerando dúvidas até mesmo entre os Bàbálòrìsás e Ìyálòrìsás.
Por isso, para podermos detectar o Òrìsá de uma pessoa, assim como sua forma ou qualidade, é preciso consultar o oráculo de Ifá, ou jogo de búzios. Não existe outro meio mais seguro e eficaz.
Através dos búzios, um bom sacerdote será capaz de identificar, o Òrìsá ao qual a pessoa pertence, e também verificar se há, realmente, a necessidade de se fazer a iniciação. Caso isso seja inevitável, a pessoa em questão deverá passar por vários preceitos de confirmação até o dia da feitura. É fundamental que não haja erros de espécie alguma, pois é com a vida de um ser humano que estamos lidando.
Quando o Bàbálòrìsá identifica o Òrìsá de alguém, terá, necessariamente de levantar todos os detalhes que estão ligados a ele, como a família ao qual pertence, as oferendas de que gosta, o tipo de comida que mais lhe agrada, seus lugares de ebós, rezas, cantigas, etc. É, também, muito importante saber sobre o elemento da natureza que ele habita e domina, bem como a função que desempenha dentro do Universo.
Os Òrìsás podem ser evocados através de rezas (Aduras), cantigas especiais (Orikis), ou pelo seu nome dentro do plantel dos Òrìsás (Orukó). Cada um deles tem suas cores predominantes, que derivam das três cores básicas do Universo, que, segundo os Yorubás, são o vermelho, o preto e o branco. As roupas rituais de cada Òrìsá, além de todos os adereços e ferramentas que lhe são peculiares, também exibirão essas cores. As comidas também são indispensáveis nas oferendas, variando muito de Òrìsá para Òrìsá.
Existem infinitas lendas a respeito dos Òrìsás, que foram transmitidas de geração em geração, seguindo a tradição oral. Nelas encontramos casos de casamentos entre os Òrìsás como, por exemplo, o de Sangò com Yànsán. Na realidade, o que essas lendas querem mostrar, através de uma linguagem simples e inteligível, é que esses casamentos representam uniões entre dois ou mais elementos da natureza. Não podemos atribuir aos Òrìsás características e sentimentos humanos. "
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