LENDA DE ÒGÚN
" Ògún vivia em sua aldeia, quando foi requisitado para uma guerra, que não tinha data para acabar. Antes de partir, ele exigiu que seus habitantes dedicassem um dia em sua homenagem, fazendo o sacrifício de jejuar e fazer silêncio absoluto, além de outras oferendas.
Partiu, em sua longa jornada, para os campos de batalha, onde permaneceu sete anos. No regresso à sua aldeia, caminhou durante muitos dias, sentindo muito cansaço. A fome e a sede também o atormentavam. Na primeira casa que encontrou pediu água e comida, mas ninguém o atendeu, permanecendo calados e de olhos fixos no chão.
Resolveu, então, fazer outra tentativa na próxima casa, mas a cena foi a mesma, o que despertou sua ira. Ele esbravejou com os moradores, exigindo que falassem com ele, mas ninguém o fez.
Não se conformava com tamanha falta de respeito, depois de ter lutado tanto!
Ògún esperava uma recepção calorosa em sua própria aldeia, mas, ao contrário, só encontrou silêncio.
À medida que avançava pelo interior da cidade, a mesma coisa se repetia, casa após casa. Ògún nem imaginava o que estava acontecendo. Perguntava e não recebia resposta.
Sua ira já estava incontrolável, quando chegou ao centro do povoado, onde haviam muitas pessoas. Estranhou o fato de ninguém estar conversando. Perguntou a eles onde estavam suas famílias, mas não obteve resposta. Era uma afronta!
Foi assim que, evocando todos os seus poderes, `Ògún dizimou sua própria aldeia.
Caçadores que passavam pela cidade, entre eles seu filho, o reconheceram e tentaram aproximar-se. Vendo que sua cólera era imensa, resolveram evocar Esú para acalmá-lo.
A ira desse Òrìsá finalmente foi aplacada. Seu filho, indignado ao ver tanta destruição, indagou o motivo que levou seu pai a cometer tal atrocidade. Ògún respondeu que aquelas pessoas lhe faltaram com respeito quando não o reconheceram. Precisavam de um castigo.
Foi, então, que seu filho fez-lhe lembrar da exigência que fizera antes de partir para a guerra.
Ògún, tomado pelo remorso, devido à sua crueldade com pessoas que só estavam obedecendo ordens, abriu o chão com sua espada enterrando-se de pé."
LENDAS DE ÒSÙMÀRÈ
" Òsùmàrè, filho de Nanan e Orisalá receberam de Olórun uma missão muito especial e importante para dar continuidade ao processo de criação e renovação da natureza. Sua tarefa consistia em carregar, dentro de suas cabaças, toda água da Terra de volta para o céu. Era uma tarefa árdua e interminável, pois, nem bem ele enchia as nuvens, a água já começava a escorrer, molhando tudo novamente.
Ele não tinha tempo a perder, mas, numa dessas viagens, parou para olhar a Terra e viu um imenso lugar, onde tudo era extraído da lama. Estava faltando alguma coisa para dar mais alegria ao lugar.
O próprio Òsùmàrè já tinha colocado em movimento todos os seres criados, como Olórun havia ordenado, mas ainda não bastava, tudo parecia muito igual e sem vibração.
Ele resolveu, então, pedir a Deus que o ajudasse a encontrar uma maneira de trazer mais felicidade para a Terra, e Olórun concedeu a ele a realização desse desejo.
Quando estava carregando água, sem querer, deixou cair algumas gotas pelo caminho. De repente, formou-se um arco colorido, de uma beleza incrível.
Aquele arco mostrava as cores do universo, e, através dele e de suas infinitas combinações, Òsùmàrè poderia colorir toda a Terra com diversos matizes, tornando-a mais alegre e vibrante.
A partir de então, formou-se uma aliança entre Deus (Olórun) e os seres criados, que sempre poderia ser vista quando as águas do céu encontrassem a luz do sol.
O arco-íris tornou-se, também, símbolo desse Òrìsá, que gosta de movimento e harmonia em todas as coisas."
LENDA DE ÒSÁNIYN
" Òsániyn era o único Òrísá que sabia reconhecer e despertar os poderes mágicos das plantas e usá-los para curar as enfermidades, ou nos rituais litúrgicos. Ele sabia, como ninguém, fazer misturas mágicas com os vegetais, raízes e folhas.
Os outros Òrísás também tinham o desejo de possuir suas próprias folhas, bem como o conhecimento necessário para receber o asè proveniente delas, mas Òsániyn não revelava seus segredos e não deixava ninguém apanhar folhas em suas florestas.
Oyá não aceitava essa situação, pois sua aldeia estava sendo assolada por doenças, e nada podia ser feito. Foi, então, que ela pediu a Òsániyn que lhe desse algumas folhas e seus respectivos encantamentos, mas este negou-se a fazê-lo. Oyá ficou muito contrariada, não se conformando com uma atitude tão insensível. Sua fúria incontrolável fez levantar o vento. E o vento foi tão forte, que as folhas se desprenderam das árvores, voando para todos os cantos da floresta. Òsániyn gritava: "Minhas folhas, minhas folhas". A cabaça com os segredos ficou exposta por algum tempo, possibilitando aos Òrìsás a oportunidade de absorver uma pequena parte desse conhecimento. Assim, os Òrìsás cataram suas folhas, que seriam utilizadas em seus rituais sagrados; porém, não podiam dispensar a ajuda de Òsániyn, pois ele sempre será o grande sábio da floresta.
Outra lenda nos conta que Òsániyn trabalhava na roça de Òrúnmìlà, que é um Òrìsá Funfun (da cor branca) e detentor do conhecimento do oráculo divinatório. Òsániyn tinha a tarefa de cultivar os campos, mas recusava-se a limpar o terreno para fazer a semeadura. Ele não conseguia podar as plantas, pois achava utilidade em todas elas. Essas folhas podiam curar todo tipo de doença existente.
Òrúnmìlà, vendo que o serviço não saía, foi ver o que estava acontecendo.
Òsániyn explicou seus motivos, fazendo com que o grande Òrìsá Funfun percebesse estar diante de um ser encantado e de grande conhecimento. Ao invés de castigá-lo, deu-lhe uma posição de destaque dentro do oráculo de Ifá. Dessa forma, Òrúnmìlà teria, perto de si, alguém para lhe revelar os segredos das folhas. "
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