segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Cachoeira Encantada



"As águas caem com uma violência que me colocam com medo, estática. Fico ali recebendo os respingos daquela água limpa, pura, cristalina.
Sinto vontade de receber aquele jato de pura limpeza, onde irei relaxar, arrancar o meu "eu" tão pesado, tão denso de escuridão!
Mas não ouso, o medo me consome, o jato é poderoso e minha fragilidade não me permite enfrentar.
Arrisco colocar o pé no laguinho que se forma em baixo daquela torrente de águas claras. quero me banhar. Arrisco outro pé, as duas pernas e assim vou aos poucos me confraternizando, inteirando meu corpo cansado e quente no frescor daquela água. Me sinto abençoada. Tímida, amedrontada, feliz!
Vou um pouco mais fundo e vejo meus pés, tudo está tão limpo, que a minha densa escuridão se apaga com a luz do sol que reflete em mim, dentro da água.
Sinto seu calor, sua luz dissipando o frio intenso e a escuridão taciturna que se faz em mim.
Fico extasiada, me sentido pequena, frágil, sendo abraçada por aquele carinho que me abraça.
Estou no útero da vida. Retorno ao meu princípio me sentindo um pequeno feto que nada dentro de sua mãe.
Ali descubro cada pedaço meu. Cada ponto que me negava enxergar porque a escuridão não saia dos olhos do meu âmago.
Agora a proteção daquela imensa luz me faz semi acordada, chutando o ventre, quero nascer!
Me preparo para o parto, onde a mãe em meio a dores, mostra-me seu amor ao abrir um grande sorriso em meio a lágrimas de sua dor de parir.
Faço movimentos giratórios dentro daquele útero magnífico e me vejo perfeita, saudável, limpa! Sinto seu peito arfar de dor e de amor!
E as águas puras e quentes, encaloradas do meu pai sol lavam os meus últimos resquícios de escuridão, porque agora verei a luz. A luz de quem é expulso do útero para viver essa vida tão apartada do calor de mãe.
Mas em meus giros para nascer vejo que tudo se torna um imenso redemoinho onde não posso mais ficar estática diante da grandeza da vida!
Reciclo meu ser, e ganho uma alma de aprendiz, onde a primeira coisa a aprender é falar!
Falar com a alma, com o ser, onde as palavras são sempre novas, curtas, bonitas e precisas. Tenho certeza que não aprenderei frases grandes, mas grandes frases.
O parto é tão intenso de carinho que a dor de minha mãe se transforma em vida para mim!
A vida que vem através da dor do amor, do alicerce do compartilhamento de sua própria alma.
Vim desintegrada de ego, para nascer inteira na alma. Vim correndo em minhas estradas bifurcadas para encontrar o caminho da paz.
Quando o útero expele minha cabeça, as lágrimas vêm lavando minha face, exteriorizando assim os últimos respingos de água que lavaram minha alma. Vejo a vida, e saio completamente. Me deparo comigo!
O som das águas caindo é a minha canção de ninar, onde eu sinto as mãos de minha mãe envolverem todo o meu ser, com sua voz suave, com seu sorriso terno, num ápice do amor maior.
Agora o mundo não gira mais em torno de mim, porque eu giro em torno da vida. Sou a própria vida!
Detenho em minhas mãos o amor do nascimento, onde a dor se fez existência, as lágrimas se fizeram certeza!
O sangue que me gerou, não deixou qualquer imperfeição,qualquer deficiência!
Estou pronta, os raios do sol secam meu corpo e iluminam todo meu ser. Já abri os olhos e o azul é a primeira cor que vejo, o amarelo não é mais capaz de me cegar porque todas as cores agora vêm do branco e não se dirigem para o ponto obscuro e sim para o reflexo do arco íris."



(Artigonal SC #3704075) -  Texto da minha linda amiga e irmã @SileLessy (Inês Maria).

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