segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Lenda de Esù e Omulu

LENDA DE ESÙ
" Esú sempre foi o mais alegre e comunicativo de todos os Òrìsás. Olòrún, quando o criou, deu-lhe, entre outras funções, a de comunicador e elemento de ligação entre tudo o que existe. Por isso, nas festas que se realizavam no Òrun (céu), ele tocava tambores e cantava, para trazer alegria e animação a todos.
Sempre foi assim, até que um dia os Òrìsás acharam que o som dos tambores e dos cânticos estavam muito altos, e que não ficava bem tanta agitação.
Então, eles pediram a Esú, que parasse com aquela atividade barulhenta, para que a paz voltasse a reinar.
Assim foi feito, e Esú nunca mais tocou seus tambores, respeitando a vontade de todos.
Um belo dia, numa dessas festas, os Òrìsás começaram a sentir falta da alegria que a música trazia. As cerimônias ficavam muito mais bonitas ao som dos tambores.
Novamente, eles se reuniram e resolveram pedir a Esú que voltasse a animar as festas, pois elas estavam muito sem vida.
Esú negou-se a fazê-lo, pois havia ficado muito ofendido quando sua animação fora censurada, mas prometeu que daria essa função para a primeira pessoa que encontrasse.
Logo apareceu um homem, de nome Ogan. Esú confiou-lhe a missão de tocar tambores e entoar cânticos para animar todas as festividades dos Òrìsás. E, daquele dia em diante, os homens que exercessem esse cargo seriam respeitados como verdadeiros pais e denominados Ogans. "



LENDA DE OBALUWÁIYÈ – OMULU

" Nanan, esposa de Orisalá, gerou e deu à luz a um filho. Sua criação não foi perfeita, nascendo uma criança doente, com muitas chagas recobrindo seu pequeno corpo. Ela não conseguia imaginar que maldição era aquela, que trouxe de suas entranhas uma criatura tão infeliz!
Sentindo-se impossibilitada de cuidar daquela criança, pois mal conseguia olhar para ela, resolveu deixá-la perto do mar. Se a morte a levasse seria melhor para todos.
Yemojá, que estava saindo do mar, viu aquele pequeno ser deitado nas areias da praia. Ficou olhando por algum tempo, para ver se havia alguém tomando conta dele, mas ninguém aparecia. Então, a grande divindade da água foi ver o que estava acontecendo. Quando chegou mais perto, pôde compreender que aquela criança tinha sido abandonada por estar gravemente enferma. Sentindo uma imensa compaixão por aquela pobre criatura, não pensou em mais nada, a não ser em adotá-lo como a um filho.
Com seu grande instinto maternal, Yemojá dispensou a ele todo o carinho e os cuidados necessários para livrá-lo da doença. Ela envolveu todo o corpo do menino com palhas, para que sua pele pudesse respirar e, assim, fechar as chagas.
Obaluwáiyè cresceu e continuou usando aquele tipo de roupa, e ninguém, a não ser sua querida mãe, tinha visto seu rosto. Era um ser austero e misterioso, provocando olhares curiosos e assustador de todos. Ninguém conseguia imaginar o que se escondia sob aquelas palhas.
Oyá, certa vez, o encarou, pedindo que descobrisse seu rosto, pois queria desvendar, de uma vez por todas, aquele mistério. Obaluwáiyè, sem lhe dar a menor atenção, negou-se a fazê-lo. Ela, que nunca se deu por vencida, resolveu enfrentá-lo. Usando toda sua força, evocou o vento, fazendo voar as palhas que o protegiam.
Quando a poeira assentou, Oyá pode ver um ser de uma beleza tão radiante, que só poderia ser comparado ao sol. Nem mesmo ela, como Òrìsá conseguia erguer os olhos para ele. Assim, todos entenderam que aquele mistério deveria continuar escondido.
Uma outra lenda nos mostra que esse poderoso Òrìsá, em suas andanças pelo mundo, pode presenciar o desenrolar de muitas guerras. Os povos que Olórun criou e deu vida brigavam por um pedaço de terra. Muitas pessoas morriam, para que seus líderes pudessem conquistar extensões maiores para seu reinado. Os limites, para esses guerreiros, eram insuperáveis, e as guerras não tinham mais fim. Obaluwáiyè não entendia o motivo destas guerras, já que Olórun havia criado a terra para todos.
As lutas traziam muita dor e destruição, e ninguém mais sabia dar o devido valor à vida humana. Os homens só pensavam em seus interesses materiais.
Obaluwaiyè, indignado com essa situação, resolveu mostrar a eles que a vida é o maior tesouro que alguém pode ter.
O poderoso Òrìsá traçou, então, com seu cajado, um grande círculo no chão, no centro dos conflitos. Colocou dentro dele todo tipo de doença existente. Todo guerreiro, que por ali passasse, iria contrair algum tipo de doença.
De fato, foi o que aconteceu. Muitas pessoas adoeceram, inclusive os líderes dos exércitos. Só isso conseguiu por fim às guerras.
As doenças se transformaram em epidemias, deixando populações inteiras à beira da morte.
Um Bàbálawô revelou o mau presságio, pedindo a todos que refletissem sobre o que estava acontecendo, por culpa deles próprios. Obaluwáiyè havia mandado essas mazelas para a terra, a fim de mostrar que, enquanto temos saúde e uma vida plena, não devemos nos preocupar excessivamente com coisas materiais. Desta vida nada se leva, a não ser o conhecimento e a experiência que acumulamos.
Assim, os que aceitaram esses desígnios e fizeram oferendas, conforme explicou o Bábálawô, conseguiram livrar-se de suas enfermidades e restabelecer sua dignidade. Mas, infelizmente, nem todos agiram assim.
Talvez, por isso, existam tantos povos africanos vivendo do mesmo jeito há milhares de anos, tentando não se desligar da natureza. "







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