sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Agradecimento a Òsún pelo ano de 2011

Mo Dùpé Ìyá Mi Òsún e Gbogbo Òrìsás!



Agradeço por exerceres presença tão marcante em minha vida neste ano de 2011. Quero agradecer por todas as minhas conquistas, pois sem as suas bênçãos, eu jamais poderia alcançá-las. Agradeço pela minha família, por meu filho, meus filhos de santo, meus amigos.
Quero agradecer também por ter colocado algumas barreiras na minha vida. Adversidades que de alguma forma, contribuíram para o meu amadurecimento, aprendizado, crescimento e  fortalecimento. Agradeço por exatamente nesses momentos, sempre sentir a vossa presença, sentir o seu aconchego, o seu acalanto... fosse no cantar dos pássaros, na chuva que irrigava a terra, na brisa suave que tocava meu rosto, no sorriso do meu filho, no telefonema na hora certa de um amigo.
Peço desculpas por algumas vezes, pelas atribuições do dia-a-dia, não ter sido perspicaz o bastante, para poder interpretar os vossos sinais. 
Agradeço por abençoar as minhas mãos, que sempre deram bons caminhos aos que delas precisaram, independente dos beneficiados terem essa consciência ou reconhecimento. Obrigada por abençoar os meus ouvidos, para que eu possa ouvir sempre alguém que necessita de atenção. Obrigada por abençoar a minha boca para que eu possa falar palavras de conforto, obrigada por meus dentes para que eu possa continuar a sorrir,  melhorando o humor e a vida de alguém de alguma forma.
Obrigada por estar ocupando o meu coração por inteiro, desde o dia da minha iniciação espiritual, por me ajudar sempre, por ser minha amiga mais fiel, por todas as alegrias que tive, que tenho, que ainda terei a permissão de ter... Obrigado por todas as conquistas, mas e principalmente, pelas novas conquistas que realizarei nesse novo ano, se me julgares merecedora.
Agradeço pelas pessoas que passaram em minha vida, e até por aquelas que de alguma forma me machucaram. Pois daí,  aprendi e agora sei,  o que não quero pra mim. Tudo vale como crescimento!
Agradeço Ìyá mi Òsún, porque apesar de todas as pedras e obstáculos inerentes a caminhada da vida, ainda assim, não perdi em momento algum,  a esperança de lutar pelo que acredito, a minha fé na minha religião, no meu Sagrado, a capacidade de ser feliz com a realidade que vivo e o olhar otimista perante os seres, circunstâncias e coisas... penso que essa maleabilidade traz a sensação de dever diário cumprido e de sucesso pessoal realizado, e nenhuma palavra traduz melhor esse sentimento de bem-estar tão bem quanto PAZ DE ESPÍRITO, que é exatamente o que sinto!
Que o seu Asè,  se estenda também a minha família carnal e espiritual, aos meus amigos presentes, aos que me admiram à distância, aos meus irmãos de fé. Que o ano de  2012 possa ser regido por suas águas claras, lavando os males do mundo. Que o canto de suas águas embale meus sentimentos alimentando meu coração com as vibrações de paz e perdão, transformando-me a cada dia em um ser-humano melhor.
Senhora do ouro, clareia meus caminhos e os
caminhos de todos que amo e me querem bem. 
Peço somente a vossa permanência como Grande Mãe e Senhora da minha vida, vossa proteção e coragem para continuar a lutar pelos meus objetivos. 
Agradeço por tudo, pelo sol que brilha todos os dias em minha vida.
Agradeço por todas as orientações que recebo de vós. Proteja o meu caminho, proteja as pessoas que amo, ainda que estejam muito distantes. Dai-me forças para vencer
e continuar trilhando de maneira digna a missão que me concedeste. 

Mo dùpé Ìyá mi Òsún...  Ore yeye O!
Mo dùpé Òrìsá gbogbo!
Mo dúpé Olòrun!
E ku odun dàrá!



Òrìsás - quem conhece Ama!

 
 
"Orixás são divindades...
Fagulhas de um sagrado que mistura o entendimento humano, nossa capacidade de entendimento de tais seres, com a força emanada por eles que nos dão sustento.
Principalmente nos piores momentos de nossas vidas.

Orixás são vida...
Uma chama tranquila de vida que nos desperta para uma outra consciência, em que não existe bem nem mau, mas um significado para todos os nossos atos e ações.
Fazendo com que saibamos que eles estão lá, em um lugar qualquer, nos orientando, nos guiando, nos enriquecendo de sabedoria.
Porém, não são responsáveis pelos nossos erros, nossas escolhas ruins, nossos infortúnios, nossas quedas, nossa ignorância, pois Eles avisam, alertam, orientam ...
Mas é nossa a vida e são nossas as escolhas.

Orixás são caminhos...
Que deveríamos seguir, mas acabamos desviando, tentando atalhos, uma maneira melhor e mais rápida ... Daí voltamos, e Eles estão lá nos esperando. Sempre de braços abertos, mesmo que nos sacudam e nos dêem broncas, estão lá, aguardando por nós.

Orixás são temperança...
Têm vontade própria, caráter, glória, perseverança, bondade, carisma ...
Todas as características humanas, pois somente assim poderíamos definí-los.; somente assim, poderíamos descrevê-los.; somente assim, eles poderiam se revelar diante de nós.
Como um espelho onde é refletida a nossa imagem, mas que tem sua própria têmpera e brilho, os quais não podemos ver com os nossos frágeis olhos, porém, sabemos que Eles estão ali, pois a força que vem do olhar do reflexo é algo a mais que não enxergamos, mas que podemos apenas sentir. Vemos, mas não enxergamos, apenas sentimos.

Orixás são idealizações...
Onde Eles se colocam tudo do que há bom, e onde não conseguimos alcançar esse bom.
Ao contrário, só sabemos pedir, arriar, oferecer, obrigações materiais, onde não vemos o retorno útil, pois somos egoístas demais, ignorantes demais, brutos demais e muitos não sentem o retorno daquilo que é oferecido e revertido em nossas vidas. A transmutação da matéria ofertada em energia geradora de uma construção interior que poucos ainda conseguem entender e utilizá-la em suas vidas.

Orixás são luta...
Luta pela vida, por viver, por continuar, por existir, pela família, pelos amigos, pela tribo, pela glória de ser humano ... Ser especial da criação, que luta desde o ventre e continua lutando, não se deixando subjulgar nem se derrotar pelo mau do sofrimento, do egoísmo, da ganância, do soberba, da exploração do homem pelo próprio homem.

Orixás são amor...
Amor de mães, de pais, de fraternidade, de dividir a comida, compartilhar as responsabilidades, do ensinar às gerações futuras para que se possa preservar uma crença, os ritos, a doutrina, a fé.

Orixás são comunhão...
Entre Deus (Olórun ou Zambi) e os homens, nas pessoas das entidades. Dos pretos-velhos, dos caboclos, dos exús e pombogiras, dos boiadeiros, dos baianos, das crianças, dos marinheiros, dos ciganos, de tantos e tantos outros que se dispuseram a retornar, para munidos com a força de seus Orixás, orientar e guiar os homens no mundo da Terra, trocando o sofrimento pela alegria; a dor pelo alívio; a discriminação e o preconceito, pela liberdade e pelo respeito; a inveja pelo dividir e compartilhar; a ignorância pela consciência da humildade do conhecimento de ensinar e aprender ...

Orixás são a minha vida e sem Eles eu não sou nada, eu não existo."
 
Texto publicado no Correio da Umbanda – Edição 14 – Fevereiro de 2007.

Reflexão


"Gostei de me testar,
De ter sido testada.
Surpreendeu-me, o resultado.
Quero ver até onde,
Até que ponto no horizonte,
Consigo tocar!

Nunca imaginei passar pelo que passei,
Chegar aonde cheguei,
Ainda mais dessa forma:
Cada vez mais positiva,
Segura sobre a corda...
Até esboçando um sorriso.

Portanto, agora, quero ir além,
Já que estou me sentindo muitíssima bem!
Aliviada de alguns complexos,
Explodindo de energia em todos os plexos,
Estou convicta que posso ser uma pessoa melhor,
Já que tenho um propósito maior!

A devoção ao meu ofício,
Eliminou da minha vida a palavra sacrifício.
Voltei-o todo para o processo evolutivo planetário.
É o meu holístico itinerário.
Enquanto termino de acordar,
Semear o despertar!

Todo o meu ser pulsa essa meta:
Servir de seta
Para quem na vida
Resolveu se voltar para a subida.
É a razão de minha existência,
O segredo da resiliência!

Enquanto for profunda a respiração
E inesgotável a inspiração,
Dedicar-me-ei, integralmente, ao papel de arauto
Desse novo tempo,
Com seu harmonioso argumento.
Do alto do escolhido palco."


(Claudio Poeta)


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ìtán - OS GÊMEOS QUE FIZERAM A MORTE DANÇAR



"Na velha aldeia de Ifá tudo transcorria normalmente. Todos faziam seu trabalho, as lavouras davam seus bons frutos, os animais procriavam, crianças nasciam fortes e saudáveis.
Mas um dia, a Morte resolveu concentrar ali sua colheita. Aí tudo começou a dar errado. As lavouras ficaram inférteis, as fontes e correntes de água secaram, o gado e tudo o que era bicho de criação definharam.
Já não havia o que comer e beber. No desespero da difícil sobrevivência, as pessoas se agrediam umas às outras, ninguém se entendia, tudo virava uma guerra.
As pessoas começaram a morrer aos montes. Instalada ali no povoado, a Morte vivia rondando todos, especialmente aspessoas fracas, velhas e doentes.
A Morte roubava essas pessoas e as levava para o outro mundo, longe da família e dos amigos.
A Morte tirava a vida delas.
Na aldeia morria-se de todas as causas possíveis: de doença, de velhice, e até mesmo ao nascer.
Morria-se afogado, envenenado, enfeitiçado. Morria-se por causa de acidentes, maus-tratos e violência. Morria-se de fome, principalmente de fome.
Mas também de tristeza, de saudade e até de amor.
A Morte estava fazendo o seu grande banquete. Havia luto em todas as casas. Todas as famílias choravam seus mortos.
O rei mandou muitos emissários falar com a malvada, mas a Morte sempre respondia que não fazia acordos.
Que ia destruir um por um, sem piedade. Se alguém fosse forte o suficiente para enfrentá-la, que tentasse, mas seu fim seria ainda muito mais sofrido e penoso.
Ela mandou dizer ao rei, por fim:
“Para não dizerem que sou muito rabugenta, até concordo em dar uma chance à aldeia.”
E ria e escarrava ao mesmo tempo, dizendo:
“Basta que uma pessoa me obrigue a fazer o que não quero. Se alguém aqui me fizer agir contra a minha vontade, eu irei embora.”
Depois, cuspindo nos seus interlocutores, completou:
“Mas só vou dar essa oportunidade a uma única pessoa. Não vou dar nem a duas, nem a três.”
E foi-se embora dali, saboreando antecipadamente mais uma vitória.
Mas quem se atreveria a enfrentar a Morte?
Quem, se os mais bravos guerreiros estavam mortos ou ardiam de febre em suas últimas horas de vida?
Quem, se os mais astutos diplomatas havia muito tinham partido?
Foi então que dois meninos, os Ibejis, os irmãos gêmeos Taió e Caiandê, que os fofoqueiros da cidade diziam ser filhos de Ifá, resolveram pregar uma peça na horrenda criatura.
Antes que toda a aldeia fosse completamente dizimada, eles resolveram dar umbasta aos ataques da Morte.
Decidiram os Ibejis:
“Vamos dar um chega-pra-lá nessa fedorenta figura.”
Os meninos pegaram o tambor mágico, que tocavam como ninguém, e saíram à procura da Morte.
Não foi difícil achá-la numa estrada próxima, por onde ela perambulava em busca de mais vítimas.
Sua presença era anunciada, do alto, por um bando de urubus que sobrevoavam a incrível peçonhenta.
E o cheiro, ah, o cheiro!
A fedentina que a Morte produzia à sua volta faria vomitar até uma estatueta de madeira.
Os meninos se esconderam numa moita e, tapando o nariz com um lenço, esperaram que ela se aproximasse.
Não tardou e a Morte foi chegando.
Os irmãos tremeram da cabeça aos pés.
Ainda escondidos na moita, só de olhar para ela sentiram como os pêlos dos seus braços se arrepiavam.
A pele era branca, fria e escamosa; o cabelo, sem cor, desgrenhado e quebradiço.
Sua boca sem dentes expelia uma baba esbranquiçada e purulenta.
Seu hálito era de um fedor tremendo.
Mas podia-se dizer que a Morte estava feliz e contente.
Ela estava até cantando!
Pudera, tendo ceifado tantas vidas e tendo tantas outras para extinguir.
Mas o canto da Morte era tão cavernoso e desafinado que os passarinhos que ainda sobreviviam silenciavam como se fossem mudos brinquedos de pedra.
O canto da Morte, se é que podemos chamar aquele ruído de canto, era tão desconfortável e medonho que os cachorros esqueléticos uivavam feito loucos e os gatos magrelos bufavam e se arrepiavam todos.
Nesse momento, numa curva do caminho, enquanto um dos irmão ficava escondido, o outro saltou do mato para a estrada, a poucos passos da Morte.
Saltou com seu tambor mágico, que tocava sem cessar, com muito ritmo.
Tocava com toda a sua arte, todo o seu vigor.
Tocava com determinação e alegria.
Tocava bem como nunca tinha tocado antes.
A Morte se encantou com o ritmo do menino que, com seu passo trôpego, ensaiou um dança sem graça.
E lá foi ela, alegre como ninguém, dançando atrás do menino e de seu tambor, ele na frente, ela atrás.
O espetáculo era grotesco, a dança da Morte era, no mínimo, patética.
Nem vou contar como foi a cena: cada um que imagine por conta própria.
E é bem fácil imaginar.
Bem; lá ia o menino tocador e atrás ia a Morte.
Passou-se uma hora, passou-se outra e mais outra.
O menino não fazia nenhuma pausa e a Morte começou a se cansar.
O sol já ia alto, os dois seguiam pela estrada afora, e o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá.
O dia deu lugar à noite e o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá.
E assim ia a coisa, madrugada adentro.
O menino tocava, a Morte dançava.
O menino ia à frente, sempre ligeiro e folgazão.
A Morte seguia atrás, exausta, não agüentando mais.
“Pára de tocar, menino, vamos descansar um pouco”, ela disse mais de uma vez.
Ele não parava.
“Pára essa porcaria de tambor, moleque, ou hás de me pagar com a vida”, ela ameaçou mais de uma vez.
E ele não parava.
“Pára que eu não agüento mais”, ela implorava.
E ele não parava.
Taió e Kaiandê eram gêmeos idênticos.
Ninguém sabia diferenciar um do outro, muito menos a Morte, que sempre foi cega e burra.
Pois bem, o moleque que a Morte via tocando na estrada sem parar não era sempre o mesmo menino.
Uma hora tocava Taió, enquanto Kaiandê seguia por dentro do mato.
Outra hora, quando Taió estava cansado, Kaiandê, aproveitando um curva da estrada, substituía o irmão no tambor.
Taió entrava no mato e acompanhava a dupla sem se deixar ver.
No mato o Irmão que descansava podia fazer xixi, beber a água depositada nas folhas dos arbustos, enganar a fome comendo frutinhas silvestres.
Os gêmeos se revezavam e a música não parava nunca, não parava nem por um minuto sequer.
Mas a Morte, coitada, não tinha substituto, não podia parar, nem descansar, nem um minutinho só.
E o tambor sem cessar, tá tá tatá tá tá tatá.
Ela já nem respirava:
“Pára, pára, menino maldito.”
Mas o menino não parava.
E assim foi, por dias e dias.
Até os urubus já tinham deixado de acompanhar a Morte, preferindo pousar na copa de umas árvores secas.
E o tambor sem parar, tá tá tatá tá tá tatá, uma hora Taió, outra hora Kaiandê.
Por fim, não agüentando mais, a aparição gritou:
“Pára com esse tambor maldito e eu faço tudo o que me pedires.”
O menino virou-se para trás e disse:
“Pois então vá embora e deixe a minha aldeia em paz.”
“Aceito”, berrou a nauseabunda, vomitando na estrada.
O menino parou de tocar e ouviu a Morte dizer:
“Ah! que fracasso o meu. Ser vencida por um simples pirralho.”
Então ela virou-se e foi embora.
Foi para longe do povoado, mas foi se lastimado:
“Eu me odeio. Eu me odeio.”
Só as moscas acompanhavam a Morte, circundando sua cabeça descarnada.
Tocando e dançando, os gêmeos voltaram para a aldeia para dar a boa notícia.
Foram recebidos de braços abertos.
Todos queriam abraçá-los e beijá-los.
Em pouco tempo a vida normal voltou a reinar no povoado, a saúde retornou às casas e a alegria reapareceu nas ruas.
Muitas homenagens foram feitas aos valentes Ibejis.
Mesmo depois de transcorrido certo tempo, sempre que Taió e Kaiandê passavam na direção do mercado, havia alguém que comentava:
“Olha os meninos gêmeos que nos salvaram.”
E mais alguém complementava:
“Que a lembrança de sua valentia nunca se apague de nossa memória.”
Ao que alguém acrescentava:
“Mas eles não são a cara do Adivinho?”
 
Fonte: Cantinho Poético

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Elemento Fogo

O elemento fogo - na religião

A humanidade sempre nutriu um respeito profundo pelo fogo e o poder à ele atribuído. Esse respeito pelo fogo e a curiosidade em relação a ele provavelmente começaram quando os seres humanos adquiriram coragem suficiente para levar o fogo causado pelo relâmpago para seus acampamentos e usá-lo para se aquecer e cozinhar. Alguns arqueólogos colocam essa ocorrência entre 250 e quinhentos mil anos atrás. Enquanto os seres humanos não aprendiam a acender sozinhos o fogo, nossos ancestrais tinham muito cuidado em manter aceso o tempo todo esse fogo "capturado e sagrado".
Não demorou muito para os seres humanos descobrirem que o fogo possuía dois aspectos: um sagrado e um mundano. OS Xamãs acendiam o fogo de maneiras específicas com madeiras especiais. Eles usavam esse fogo para iluminar cavernas misteriosas e locais de poder sagrado onde somente certas pessoas entravam para participar de rituais místicos. Esse fogo sagrado ajudava o xamã e outros participantes iniciados a entrar em contato com os mundos espirituais onde eles recebiam mensagens e aprendiam em primeiro lugar a magia e a arte da cura. Uma vez que o fogo podia ser ou criativo ou destrutivo, acreditava-se que aqueles que lidavam com ele haviam sido tocados pelo divino.
Muitas divindidades de culturas de todo o mundo são associadas ao fogo em uma ou vários de suas formas, como a lareira, os vulcões e o relâmpago.
Muito mais tarde na história, os seres humanos desenvolveram formas mais portáteis para usar o fogo sagrado. Primeiro surgiu a tocha e depois a lamparina de azeite e as velas. Os lugares sagrados eram sempre iluminados por essas formas de fogo em miniatura, bem como também o eram os altares privados nos lares. Os sacerdotes ensinavam que a chama das lamparinas e das velas representavam o mais elevado potencial do espírito e que a fumaça conduzia as preces e os desejos dos adoradores para a esfera espiritual.
As ervas eram queimadas como incenso, onde não apenas exalavam um aroma agradável, como também frequentemente eram escolhidas pela sua capacidade de desencadear estados alterados que conduziam o sacerdote a um estado de consciência mais elevado. Acompanhados pela prece, cantos, danças e/ou concentração profunda, os sacerdotes aprendiam que eram capazes de transformar seus desejos em realidade.
Desse modo, a magia foi descoberta.
Até mesmo hoje, os rituais do fogo ainda são usados em muitas culturas e religiões ao redor do mundo. Quase todas as religiões usam velas, lamparinas ou incenso para caracterizar seus templos religiosos e cerimônias.
O fogo sempre foi sagrado. As memórias genéticas nos fazem lembrar que ele ainda é. Como resposta, somos atraídos pelas velas, quer as usemos em rituais quer simplesmente as acendamos em um bolo de aniversário ou na mesa para um jantar especial.

Fragmento do livro - Velas magia e ritual de D.J.Conway

O Asè nosso de cada dia!

Axé (Asè)
 


A palavra Axé é de origem yorubá e é muito usada nas casas de Candomblé.
Asè significa "força, poder", mas também é empregada para sacramentar certas frases ditas entre o povo de santo, como por exemplo: - "Eu estou muito bem." Outro responde: -"Asè!". Esse "Asè" ai dito equivaleria ao "Amém" do catolicismo (Que Deus permita).

Mas, o
Asè ainda pode significar a própria casa de Candomblé em toda a sua plenitude. Daí uma ìyálòrìsá também ser chamada de Yalaxê (Ìyálasè), ou seja, "Mãe do Asè", ou a pessoa responsável pelo zelo do Asè ou força da casa de Òrìsá.

Asè também pode significar "Vida". E tudo que tem vida tem origem. Chamar a vida é chamar o Asè e as origens. Os òrìsás são Asè, os òrìsás são vida. Agora, o que seria contra-asè?? O contra-asè são todas as estruturas de opressão e morte que destroem a vida das comunidades. O contra-asè ainda pode ser todas as kizilas e ewós dentro de uma casa de òrísá e também certos tabus que cercam o omo-òrìsá.

Na tradição dos Òrìsás,
Asè também pode significar a "força das águas, do fogo, da terra, do ar, das árvores, das pedras", enfim de tudo que tem vida. Pois, o Candomblé é um culto de celebração à vida e a toda a força que dela advém ou seja, o próprio culto, é o próprio Asé.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Quando o Òrìsá escolhe



Quando uma pessoa é escolhida pelo Òrìsá, ele traz uma marca que não passa desapercebida... é igual a um perfume bom que alguém passa e exala e que muitas vezes não se comenta. Mas, a curiosidade nos faz querer saber o nome da fragrância. 

Assim somos nós... quando o Òrìsá nos marca com algo especial como o cargo de Zelador(a), muitos querem saber o segredo, e o porque de ter sido você? Logo vão querer copiar, mas não dá! O segredo está no coração do Òrìsá e existem detalhes em você que é só seu. 

E o preço que se paga por ser escolhido pelo Òrìsá muitas vezes é dolorido! Tem falta de compreensão carregada de inveja e muitas vezes, com calúnia e falta de fé. Fora,  o inimigo que vai tentar usar de "armas" pra te neutralizar. Mas isto não adianta diante da grandeza do Òrìsá na sua vida, se o "selo de fidelidade" dele estiver em nós Zeladores(as) honestos, corretos e amigos. Nós vencemos tudo! 

Seja sempre grato por este amor que o Òrìsá deposita em nós, por mais difícil que possa parecer...pois Ele está conosco por hoje e sempre.

Asè!

Fonte: blogger Mulher Encantada by Suami Portinhal

O ciclo espiritual



A essência espiritual do ser humano, ou seja, sua alma, compõem-se os três elementos principais. O primeiro é o eledá, ou iponri, que é o seu espírito, a energia do seu guia ancestral, ligado a sua cabeça, ao seu destino e à sua cadeia reencarnatória.

O segundo é o emi, a respiração que, além de morar nos pulmões e no tórax, serve-se das narinas com as duas aberturas do fole do ferreiro. A respiração é o sopro vital, que faz o indivíduo trabalhar e lhe propicia a vida.

O terceiro elemento é ojiji, a sombra, que não tem outra função na vida a de seguir o corpo vivo, expressando a sua existência. Pode-se ver a sombra, ouvir e sentir a respiração, mas ninguém ouve ou sente o eledá. A sombra não tem substância e nem precisa ser alimentada, e a respiração nutre-se do alimento que o indivíduo ingere.

Contudo, o eledá, que se confunde com o próprio eu do indivíduo, deve ser nutrido através do ritual destinado a alimentar à cabeça, o bori.

A cabeça é o invólucro da mente e do cérebro - cabeça interior (ori inu) - que concentra a essência e o destino do ser humano e dirige a sua personalidade. Por isso, é cultuada como uma divindade, recebendo súplicas, louvores e oferendas.


Trecho do livro Kitábu - o livro do saber dos espíritos negro-africanos por Nei Lopes

DEIXEM OS NOSSOS ATABAQUES "TOCAREM" EM PAZ!!!



DEIXEM OS NOSSOS ATABAQUES "TOCAREM" EM PAZ!!!

"Sacrifício" ou "matanca cruel" de animais nos cultos do Candomblé?

Mediante as últimas polêmicas geradas sobre a lei de sacrifício de animais em rituais religiosos, que tenta proibir assim, o direito à nossa fé, aos nossos costumes e a nossa tradição, deparei-me com esse texto bem objetivo e lúcido do amigo Ogan Marcos e resolvi postar. 
Agradeço a gentileza do amigo, que autorizou a sua postagem! Àwúrè!





"Sacrifício" ou "matança cruel" de animais nos cultos do Candomblé?


Primeiramente, a bênção de quem é de bênção. Meus respeitos a todos os mais velhos, aos mais novos e aos "não nascidos" (abiyan), que são a semente do futuro de nossos cultos.

Não é pretensão minha discorrer com "autoridade" sobre esse assunto, mas tentar expor a minha visão como adepto, crente, dos rituais do Candomblé. E também pedir desculpas em meus deslizes no português. Não revisei o texto.

É importantíssimo salientar, que não é prática do Candomblé, qualquer tentativa de "catequizar", ou angariar adeptos de qualquer forma. ("Trago o seu amor em 3 segundos"... esqueça. Isso não é Candomblé). 

Na prática do dia-a-dia de um terreiro constata-se que não somos nos quem "escolhemos" o Candomblé. Antes, fomos "escolhidos" para a prática dos rituais destinados a adoração do Divino. 

Conseguinte, também não é a minha intenção outra a não ser tentar ajudar, de alguma forma, desmistificar às inverdades atribuídas aos nossos cultos, muitas vezes motivadas pela ignorância (falta de conhecimento), ou com o intuito proposital de denegrir. 

Agó mi.

O Candomblé é essencialmente iniciático. O conhecimento é adquirido na medida em que o adepto recebe a preparação para lidar com o que aprendeu. A palavra Awó (traduzida na prática como segredos) é na verdade um sistema de ensino gradativo. Por tanto, não o faremos qualquer referência a estes pontos particulares dos cultos.

É um sistema de cultos adaptados aqui no Brasil por nossos ancestrais Africanos após à Diáspora. 

Por tanto, é um conjunto de liturgias herdado, sistematizado aqui, e é a primeira forma de culto ao Divino genuinamente Brasileiro. Logo, não é um culto "Africano", mas de matriz africana, assim como, os decorrentes posteriores.

Para os nossos mais antigos, a comida era sagrada (ainda o é), por manter a vida doada pelo Divino. Já que não podemos originá-la, a mantemos através da vida de outro ser vivo.

O Candomblé órbita à culinária, praticamente tudo remete-se ao alimento ou está envolvido nele. 

Na sua origem Africana, a escassez de alimentos era e, ainda o é em algumas regiões, muito grande. Então, quando havia alimento para as aldeias e tribos era motivo de alegria para aquele povo. 

Esse fato é a razão dos nossos Sirè (roda, festa em torno do Asè) onde o nosso povo tem a oportunidade de "comer todos juntos com o Divino", numa celebração repleta de alegria e comunhão. 

Daí, oferecer "alimento" como reverência ao Divino, é a forma que perpetuamos em nossos cultos, manifestos em festividades (algumas públicas, outras particulares aos filhos da casa).

Considerando, que nem todas as pessoas são "vegetarianas" (alimentam-se da Vida, da Essência de plantas), muito do nosso culto herda o costume de comer carne de animais (prática verdadeiramente atávica).

Ora, considerando-se ainda que não é costume humano comer animais ainda vivos, de alguma forma eles devem ser abatidos, preparados para o consumo do homem.

Às vezes, penso que as pessoas acreditam que "frangos já nascem mortos e ensacados nas geladeiras de supermercados e inclusive, com código de barras". Não. Por questões de economia, muitos são abatidos cruelmente, depenados em água quente enquanto o corpo ainda treme sob os reflexos nervosos. (basta procurar no YouTube e se horrorizar).

Com base nessas premissas, vamos entender que por se tratar de objeto dedicado ao Sagrado, aquele "franguinho" que ainda cisca nos nossos terreiros, para cada Sacerdote ele não é um "simples franguinho". Ele "É O FRANGO!", tratado como sagrado ainda em vida e assim respeitado até o momento de ser consumido por todos da comunidade.

Existem preceitos rígidos que orientam a forma de imolar cada animal, fazer o sacrifício (do Latim, "sacro fatio", fazer sagrado, sacralizar...).

E não é qualquer um que chega lá e "pimba"... Não, o Sacerdote encarregado daquele ato litúrgico ele é por muito tempo preparado, observando e aprendendo com os mais velhos, cada detalhe até estar apto e digno dos atos sagrados. 

Cada parte dos nossos cultos é composto por diversos e infindáveis DETALHES. E não adianta tentar-se oferecer 99,9% do certo. Ou está certo ou está errado, logo sem valor na prática.

Que hajam distorções nesses conceitos que, aparentemente seja "romantismo de minha parte", devemos considerar o Livre Arbítrio de quem pratica o culto. O conhecimento existe e é preservado ao longo de gerações, mas estes podem ser adulterados ou pela ignorância ou pelo desrespeito à ancestralidade. Assim como acontece com outras práticas religiosas em que nem todos os sacerdotes são dignos de seus cargos investidos.

Logo, quando algum dos irmãos, não Candomblecistas, for convidado à ir a uma Festa, pode ir sem medo. E, principalmente, façam o Ajeum ("comida"). Nós acreditamos em um Deus que canta, dança e come junto conosco. 

Parafraseando o Doté Heraldo de Xangô: "COMO PODE SER CHAMADA DE "MACUMBA", UMA RELIGIÃO CUJO O OBJETIVO É HARMONIZAR O HOMEM À NATUREZA? DEVERIA SER CHAMADA DE "BOACUMBA"."

Portanto, a frase com a qual comecei a escrever essa humilde nota, tornou-se o fechamento do texto: 

NÃO QUEREMOS SER TOLERADOS. MERECEMOS RESPEITO, APENAS.

Bàbá mi Gbogbo asè o!



Texto gentilmente cedido por Ogan Marcos.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Okutá - O verdadeiro Òrìsá



O okutá é uma pedra sacralizada ao Òrìsá, sendo sua própria representação e sobre a qual são oferecidos os sacrifícios propiciatórios a ele endereçados. 

O assentamento ou igbá do Òrìsá recém feito é depositado no quarto de seu correspondente na casa, simbolizando o reagrupamento do que um dia, por qualquer motivo, tenha sido dispersado. 

No Brasil é costume manter-se o igbá do Òrìsá do iniciado junto ao do "Santo da Casa" durante sete anos, tempo exigido para que o iniciado, após fazer as "obrigações" de praxe, receba um grau hierárquico mais alto, quando poderá, se assim quiser, levar seu Òrìsá para sua casa ou, se tiver cargo para tal, abrir seu próprio Candomblé, o que por certo implica num complexo procedimento ritualístico que não pode nem deve ser descrito em suas minúcias. 

Em Cuba, onde o culto recebe o nome de Santeria, segundo informações, o igbá do iniciando permanece na "Casa de Santo" somente durante os três meses subseqüentes ao "dia do nome", ocasião em que, em cerimônia pública, o Òrìsá traz o seu nome ao conhecimento de todos, o que caracteriza que realmente "está feito". Este costume, segundo informações, prende-se ao fato de que o Òrìsá em questão pertence ao seu filho e não ao sacerdote que o consagrou, o que implica num contato diário entre o iniciado e seu Òrìsá, contato este considerado indispensável e obrigatório.

O ìyáwò tem que, todos os dias, logo que despertar, lavar a boca e, antes de falar com qualquer pessoa, "bater cabeça" para seu Òrìsá, saudá-lo conforme tenha aprendido e pedir-lhe tudo o que deseja de bom para si, seus familiares e amigos. Nunca se deve pedir coisas ruins aos Òrìsás, pois isto é uma atitude condenável e desrespeitosa, que pode provocar a sua fúria e resultar em severas punições.


 





Fonte: Mulher Encantada by Suami Portinhal

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Bons Vídeos - Orgulho em ser de Candomblé!

O Candomblé não é religião de conversão, muito menos, uma religião de escolhas, mas sim de "escolhidos". "Escolhidos" pela Ancestralidade, "escolhidos pelos Òrìsás, Voduns e Inkises. 

Religião de resistência, de cultura milenar, de filosofia à favor da diversidade, da tradição, da origem e dos costumes. 

Orgulho em ser Afro-descendente e Candomblecista!!


"O Candomblé é uma religião de domínio público."










sábado, 1 de outubro de 2011

Artigos Interessantes - O mal como o bem...se plantando...colhe!!!

O MAL COMO O BEM, SE PLANTANDO... COLHE!




Muitas são as pessoas que se dedicam a uma vida de enganos, achando que fazendo o mal, estarão galgando degraus na hierarquia terrestre. Ledo engano! Esquecem-se essas pessoas, de que acima de tudo existe um Deus, supremo e infalível, que tudo vê e tudo sabe, e com certeza, dará a cada um de nós, o saldo merecido por nossos atos aqui na Terra.

Alguns chegam até mesmo a procurarem pactos com espíritos inferiores na intenção de obterem favores dos mais variados, que vão desde o retorno de um amor até mesmo o enriquecimento. Mas, essas pessoas não se dão conta de que, tudo aquilo que vem fácil, vai mais fácil ainda.

Enganar, mentir, tirar proveito próprio do sofrimento alheio, ludibriar de que forma for às pessoas apenas para se ter algum dinheiro a mais, não faz parte dos ritos dos Orixás. Muito menos pactos com forças malígnas. Essa não nos compete de forma alguma, pois que somos criaturas de Deus somente.

Obviamente, que não cremos nesses seres infernais que o cristianismo prega, mas temos a certeza de que Olorun criou tudo, e para tudo ele deu a dualidade. Cremos em uma força negativa, que não disputa com Deus seu trono, mas que tenta sim, desapropriar os seres humanos do seu bem mais precioso:  A vida! O espírito!

O verdadeiro seguidor da doutrina dos Orixás e da Umbanda jamais pratica o mal, pois sabe que tudo o que vai...volta. Tudo que se planta.... colhe. Ao contrário: os verdadeiros seguidores dessas doutrinas primam sempre por andarem em caminho reto, evitando tudo que venha conflitar com as Leis de Deus, pois sabem que a Lei do Universo é séria em demasia e que mais dia menos dia, daremos conta de tudo que aqui fizermos.

Aprendi com a Sacerdotisa que me iniciou, que “temos uma alma para dar conta a Deus” e assim sendo temos que nos acautelar com nossos atos, pensamentos, palavras e sentimentos. Não podemos em hipótese alguma desejar mal a quem quer que seja, pois seremos vítimas desse mal .

Temos, pois, que nos precaver, evitando sentimentos de ódio, rancor, ira, ciúmes, inveja, avareza, e tantos outros que como ácido no ferro, corroem nossa alma, fazendo com que nosso espírito se distancie cada dia mais das bençãos do nosso Criador.

Termos um Orixá imantado em nossa cabeça é antes de tudo, um privilégio, mas com dor no coração, podemos notar que são poucos os que se fazem merecedores de tal encantamento.

Ao sermos iniciados, somos conduzidos a buscarmos Deus, Oxalá, e nossos Orixás, para que nos aliviem a dor a fim de que possamos superar as dificuldades da Terra, mas infelizmente alguns preferem os caminhos do mal, prejudicando a quem quer que seja por uns trocados, imitando Judas que traiu nosso Redentor por míseras trinta moedas.

Esses que assim agem, não se enganem, pois prestarão contas de cada vintém que tiveram à custa da dor e das lágrimas de seus semelhantes.

Somos de uma doutrina tão séria que um dos mandamentos de Orunmilá para a humanidade, que diz assim : - “Não enganem as pessoas (trocando a pena de papagaio por morcego); não conduzam as pessoas a uma vida falsa (mostrando a folha de ìrókò e dizendo que é folha de oriro)"; e assim devemos seguir, pois segundo ainda esses mandamentos, a natureza cobrará de nossos descendentes e de nós mesmos, tudo de ruim que aqui fizermos.

Temos que nos lembrar de que “viver é colher hoje o que plantamos ontem” e assim sendo, não adianta a pessoa que semeou vento, tentar colher outra coisa que não seja tempestade.

A vida se encarrega de colocar tudo em seu lugar para que a Justiça Divina se faça, sem que nem o mais ínfimo ponto fique sem ser observado e corrigido por Ela. Muitos são os que se dizem sacerdotes, mas, pouquíssimos são aqueles que realmente praticam esse cargo tão importante, pois que: nem luxo nem avareza, condizem com a realidade de Olorun, e de seus Ministros, nossos Orixás.

Lembremo-nos, pois, que o bem assim como o mal, será colhido, depende apenas da mão que semeou qual a semente que escolheu.

Texto gentilmente cedido por Sérgio Silveira -  Tatetú N’Inkisi - Odé Mutaloiá

SER DO SANTO




Muitas são as pessoas que se dizem do "santo". Anunciam aos quatro ventos que são raspados, que fazem parte desse maravilhoso Universo chamado Òrìsá. Outros propagam que são Sacerdotes e Sacerdotisas de nossa Religião.

Mas, a verdade, é que de inúmeras pessoas que se iniciam em nossos preceitos, muitos poucos podem se considerar verdadeiramente parte do "Mundo do Santo".

Isso porque sermos parte desse Universo não é fácil, pois, implica em uma série de fatores que em sua grande maioria as pessoas não estão preparadas para encarar e uma delas é o afastamento da vida mundana.

Um verdadeiro filho de Santo, não tem vida social. Por maior que seja o evento que pretende participar, sempre terá que abrir mão do mesmo para se dedicar aos assuntos do Òrìsá, pois como seres que governam à natureza, não compactuam com atos como: bebida, sexo e outros.

Sempre que uma “roça” entra em função, é de suma importância que seus filhos, ali estejam presentes de corpo e mente limpos para que possam dar sua contribuição nos afazeres que aquele Òrìsá solicita para que possa assim, a pessoa que está passando pelo processo e até mesmo os que ajuda, receber as dádivas daquela entidade.

O mesmo ocorre e de forma muito mais rigorosa com os Sacerdotes e demais pessoas que possuam cargo de alta hierarquia dentro de uma “roça” de Candomblé.

Como Sacerdotes, não temos direito a festas, sexo, bebidas e muitos outros prazeres da vida com abundância, pois nunca sabemos quando seremos chamados para praticarmos nosso sacerdócio. É uma missão árdua e em sua grande maioria as pessoas fracassam.

Para que possamos nos dedicar literalmente ao sacerdócio temos sim, que estar prontos para abrir mão de muita coisa em nossa vida. Quantas vezes somos chamados, por exemplo, em plena comemoração do ano novo para intercedermos na vida de alguém?

Quantas vezes estamos nos preparando para uma festa, um jantar e nosso telefone toca, e um consulente nos requisita para algo?

E, nos negarmos a atender é sermos negligentes com nosso "Santo". Temos que estar prontos sempre, não importa a hora, o dia ou mesmo o momento. E se formos conclamados a parar um ato por mais prazeroso que seja, temos a obrigação de atender, pois assim desejou nosso Òrìsá.

Como pode, por exemplo, um médico, se negar a atender um paciente seu que sofre um acidente e está muito mal em um hospital?

Como pode um obstetra se negar a atender uma parturiente na sua hora? O mesmo acontece conosco!

"Ser do Santo", não é somente sair por aí propagando aos quatro ventos que somos. Mas sim, ter uma vida de reclusão em sua grande maioria. Uma vida de sacrifício, de doação onde muito pouco recebemos.

É preciso termos em nossa consciência de que, nada podemos fazer esperando receber em troca.

Nosso Pai ou Mãe saberá nos compensar se assim formos merecedores. É de suma importância que estejam prontos sempre, para abrir mão de sua vida particular em beneficio dos assuntos do "Santo".

As pessoas precisam entender de que se, receberam um cargo, é porque aquele Òrìsá confiou nele para os momentos em que mais precisasse. E esses momentos são justamente as funções que existem em um Templo, pois, como pode um Zelador sozinho se dedicar a tanta coisa?

"Ser do Santo", não é festa, mas sim, uma vida de dedicação e submissão.

Texto gentilmente cedido por Sérgio Silveira -  Tatetú N’Inkisi - Odé Mutaloiá.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O "Eu" Sagrado



O "Eu" é sagrado no Candomblé. Ele não é somente parte do Òrìsá geral (Augras, 1983). Cada pessoa tem um deus particular, que deve ser assentado num altar privativo, que tem um nome que é só dele, em geral conhecido apenas pela pessoa e por seu zelador, o pai-de-santo. O "Deus" de uma pessoa importante na religião pode ser herdado e continuará a merecer culto, mas ainda assim não substituirá o Òrìsá pessoal do herdeiro.

No Candomblé, além das qualidades (Verger, 1985; Lépine, 1981), o Òrìsá ainda se desdobrará em Òrìsá da pessoa — único e intransferível, assentado na iniciação. O momento culminante da iniciação, não por acaso, é aquele em que, no barracão, o ìyáwó, “virado” (em transe) no orixá, rodopia, salta e grita seu nome — única vez que o pronunciará em público, na chamada saída do nome, ou saída do orukó (nome, em ioruba) no linguajar-do-santo.

Para cada indivíduo, um "Deus". Mas todos os Òrìsás particulares assemelhados se constituem em qualidades do Òrìsá, que juntos formam o Òrìsá geral. Da força (Asè) de cada Òrìsá particular dependerá a força do Òrìsá geral. E não se pode cultuar um Òrìsá geral a menos que se cultuem os Òrìsás particulares, ou os Òrìsás de um grupo, os Òrìsás coletivos, da casa, denominados Ojugbós, e que são coletivos por representar exatamente a origem ancestral daquela casa, daquela família, que, no Novo Mundo, perdida a origem clânica, só pode ser a família ritual, a família-de-santo, o terreiro, o axé.

Mas antes do culto ao "deus" vem o culto à individualidade do homem, à cabeça, o que está dentro da cabeça, o Ori. O ritual de dar comida à cabeça, o bori, é dos mais registrados pela etnografia afro-brasileira (Querino, 1938:63-66; Carvalho, 1984, entre outros). Para os iorubanos, o Ori tem status de divindade, recebendo cultos tão complexos quanto os dirigidos aos Òrìsás (Abimbola, 1976: 113-150; 1975: 32-35, 158-177). No Brasil, como em Cuba, o rito de dar comida à cabeça preservou-se como primeira etapa da iniciação.

Entre nós, o cerimonial do bori é usado não apenas para a iniciação e renovação de forças do iniciado, como também no tratamento de doentes.

É necessário alimentar o Ori como é necessário alimentar o Òrìsá. Não se faz nada para Òrìsá sem antes cuidar da cabeça. “Ori buruku, kossi Òrìsá”, diz-se, ou seja, cabeça ruim não dá Òrìsá. É no Ori que o Òrìsá da pessoa será fixado. 

Entre os iorubanos, diz-se que é o Òrìsá Ajalá é o responsável pelas cabeças. Ele as modela em barro e as coze. Mas Ajalá é velho, distraído e está cansado de fazer cabeças, e assim às vezes ele se descuida e algumas não saem bem feitas: "Quem carregar um ori malfabricado terá muitos problemas na vida, jamais deixará de ter dificuldades com o próprio destino" (ver Abimbola, 1975: 178-207).

Com a nossa morte, o Ori morre, mas não o Òrìsá nem a nossa memória, que poderá ser assentada e cultuada, o Egun.

Reginaldo Prandi