quarta-feira, 23 de março de 2011

Onira - A Senhora de Ira




Itàn (Lenda):

Conta-se que Onira era uma ninfeta que sonhava com a vaidade de Òsún. Todos os dias,  ela ia ver Òsún se banhar no rio, apreciava como ela cuidava dos cabelos, peles e  etc. Havia uma pedra no meio deste rio que até uma determinada hora, quando as águas ainda estavam baixas, ela se apresentava como uma ilha e era onde Onira ficava até que as águas começassem a subir. Num belo dia, Onira adormeceu e as águas subiram o seu nível rapidamente e a encobriu antes que ela pudesse acordar. Neste mesmo momento Onira estava sonhando que era uma Òsún. Conta esta itan (lenda), que o Criador se penalisando de tão lindo sonho não permitiu que Ikù a pegasse e a encantou naquele exato momento, o que lhe permitiu de continuar vivendo este sonho na sua vida real.

Conta-se um outro itàn, que existia nas terras de Irá, uma linda moça chamada Onira, ela sempre comandava seu povo com sabedoria. Mas, ela tinha um grande problema: adorava lutar e se sentia bem em matar seus inimigos. Onira era descontrolada quando tinha em punho sua adaga de guerra. Certo dia enlouqueceu de vez, chegou a um vilarejo e matou todos q alí encontrou. Os sábios da cidade de Irá resolveram procurar Osáàlá para que Ele na condição de Rei, mandasse que Onira parasse de matar.
Onira recebeu o recado q Osáàlá queria vê-la e foi até Ilê Ifé (palácio de Osáàlá). Chegando lá, Osáálá assustou-se, pois as roupas de Onira eram vermelhas, de tanto sangue de suas vítimas. Ela ajoelhou-se e perguntou o que o grande Rei queria. Osáàlá mandou que trouxessem uma grande quantidade de Efun (seu pó branco sagrado). Pegou seu pó e jogou sobre Onira. Na mesma hora suas vestes de cor vermelha, tornaram-se rosa, por causa da mistura do pó branco com o sangue. Então, Osáàlá ordenou que Onira não mataria mais ninguém, e que ela jamais vestiria vermelho em publico, e que rosa seria sua cor, e como ela era uma moça tão quente, que fosse morar nas águas junto com Òsún.
E lhe disse:
Onira minha filha, és uma moça tão bela, tão doce, por que matas?
Sinto-me bem quando tiro a vida de alguém, mas sei q isso não é certo.
Foi então q Osáàlá teve uma idéia.
Já que você gosta lidar com a vida e com a morte, você terá junto com Oyá o domínio sobre os Eguns. Não tirarás mais a vida de ninguém, apenas irá conduzir os que já se foram.
Está certo Osáàlá, seu desejo será realizado mas não tire de mim minha adaga.
Osáàlá disse: Pode deixar, mais agora vá morar na cachoeira com Òsún.
Onira obedeceu a Osáàlá, foi morar na cachoeira. Chegando lá Òsún ria e debochava dela, mais resolveu ser sua amiga. Porém, Onira muito mal humorada, não queria papo. Até que um dia Onira adormeceu sobre uma pedra, olhando Òsún banhar-se e as águas da cachoeira subiram e Onira estava morrendo afogada, Òsún vendo o que estava acontecendo, mergulhou e foi salva-la, chegando lá Onira estava quase morta e Òsún resolveu fazer um feitiço e na mesma hora Onira reviveu e transformou-se em uma espécie de lava que correu rio a fora. Onira transformou-se em um rio de fogo. Òsún pensou que Onira havia morrido, chorou por horas, sem saber o que diria a Osáàlá, já q ele a incubiu de tomar conta da moça atrevida. Foi então que surgiu uma borboleta linda, de cor salmão com tons alaranjados, que voava ao redor de Òsún. Ela tentou pegar a borboleta que voou para dentro da floresta, Òsún seguiu a borboleta que parou em frente a uma árvore e tomou a forma da linda Onira. Òsún não acreditava no que via, e Onira lhe disse:
Por que choravas minha amiga, estou aqui viva, e graças a você!
Graças a mim porquê Onira? Eu não fiz nada.
Na hora que eu estava morrendo você fez um feitiço e dividiu comigo todo seu encanto, agora sou uma ninfa (mulher encantada), assim como você, tenho poderes de transformação. Posso ser um rio de fogo nos meus momentos de ira, posso ser um búfalo quando eu quiser ficar sozinha, e me transformar na mais bela borboleta quando estiver feliz. E Onira foi até Osáàlá lhe contar o q havia acontecido, ele ficou feliz mais sabia que toda esta mudança jamais acalmaria Onira, e que por dentro ela ainda seria aquela guerreira incansável. Mandou então que ela fosse morar com Oyá e aprender a dominar os Eguns. Depois, Onira mudou-se e foi viver com Osóòsi e como ela foi criada por caçadores, sabia caçar como ninguém. E Onira morou com quase todos os Òrìsás, aprendendo tudo que eles sabiam fazer.
 

Onira = a Senhora de Irá (terra de Oyá) 

Ela é impulsiva e suas filhas carregam suas características, são capazes em momentos de comoção doar, na hora e sem pensar, tudo o que tem, mas se a pessoa fizer uso indevido daquilo que ela doou, ela vai pra cima, sem mais delongas, se ela for traída então piorou, são capazes de tudo na hora de raiva; mas acabando esses momentos de impulsividade  momentânea são pessoas maravilhosas, prestativas. Possuem um pouco de difículdade em guardar segredos, mas, em determinadas ocasiões, sabem manter a regra.

Não vesti roupas de cores quentes, tendendo sempre ao rosa, amarelo, azul claro ou salmão para quebrar o branco total, mas geralmente rosa, devido ao seu cárater explosivo e também ter um enredo muito grande com Òsáàlá, porque foi esse caminho de Oyá que deu a Osògiyan, o poder sobre o atòri. Quando essa Oyá se manifesta é de costume colocarem ou preso em suas costas ou em sua saia um atòri, e é presença a ilustre nas festas dedicadas a Òsáàlá.

Onira reina no mundo dos mortos e tem ligação direta com Obaluwaiyè e Ògún, sendo que sua ligação maior é com Òsún Opará, que recebeu dessa qualidade de Oyá os ensinamentos para lutar e ser guerreira. 

Òsún Opará ser tornou então, companheira inseparável de Onira, comendo juntas no bambuzal ou nos rios e tendo aprendido os fundamentos dos Eguns. Sendo assim, essa qualidade de Òsún, também tem relação direta com os Eguns. Quando “Onira” e “Opará” se juntam, se tornam muito perigosas pois têm em dobro a força e a sabedoria dos guerreiros.

Òsún Opará é um caminho de Òsún jovem e guerreira, companheira de Ògún e Sangò, estando ligada diretamente com os caminhos de Osògiyan, o jovem guerreiro.


Onira está Ligada a Osògiyan, Òsún, Ògún, Ode, Obaluwaiyè ...


Fonte: www.candomble.wordpress.com (itans)

terça-feira, 22 de março de 2011

Oração do Perdão (Tradição Kahuna)



Buscando eliminar todos os bloqueios que atrapalham minha evolução dedicarei alguns momentos para perdoar.

A partir deste momento eu perdôo todas as pessoas que de alguma forma me ofenderam, me injuriaram ou me causaram dificuldades desnecessárias.

Perdôo, sinceramente, quem me rejeitou, me odiou, me abandonou, me traiu, me humilhou, me amedrontou, me iludiu.

Perdôo, especialmente, quem me provocou até que eu perdesse a paciência e reagisse violentamente para depois me fazer sentir vergonha, remorso e culpa inadequada.

Reconheço que também fui responsável pelas agressões que recebi pois várias vezes confiei em indivíduos negativos, permiti que me fizessem de boba e descarregassem sobre mim seu mau caráter.

Por longos anos suportei maus tratos, humilhações, perdendo tempo e energia, na tentativa inútil de conseguir um bom relacionamento com essas criaturas.

Já estou livre da necessidade compulsiva de sofrer e livre da obrigação de conviver com indivíduos e ambientes tóxicos. Iniciei, agora, uma nova etapa de minha vida, em companhia de gente amiga, sadia e competente. Queremos compartilhar sentimentos nobres, enquanto trabalhamos pelo progresso de todos nós.

Jamais voltarei a me queixar, falando sobre mágoas e pessoas negativas. Se, por acaso, pensar nelas, lembrarei que já estão perdoadas e descartadas de minha vida íntima definitivamente. Agradeço pelas dificuldades que essas pessoas me causaram, pois isso me ajudou a evoluir, do nível humano comum ao nível espiritualizado em que estou agora.

Quando me lembrar das pessoas que me fizeram sofrer, procurarei valorizar suas boas qualidades e pedirei ao Criador que as perdoe também, evitando que elas sejam castigadas pela lei da causa e efeito, nesta vida ou em futuras. Dou razão a todas as pessoas que rejeitaram o meu amor e minhas boas intenções, pois reconheço que é um direito que assiste a cada um me repelir, não me corresponder e me afastar de suas vidas.

(Fazer uma pausa para acúmulo de energia,
respirar profundamente algumas vezes)

Agora, sinceramente, peço perdão a todas as pessoas a quem, de alguma forma, consciente ou inconscientemente eu ofendi, injuriei, prejudiquei ou desagradei. Analisando e fazendo um julgamento de tudo que realizei ao longo de toda a minha vida, vejo que o valor das minhas boas ações é suficiente para pagar todas as minhas culpas, deixando um saldo positivo a meu favor.
 
Sinto-me em paz com minha consciência e de cabeça erguida respiro profundamente, prendo o ar e me concentro para enviar uma corrente de energia destinada ao EU SUPERIOR. Ao relaxar, minhas sensações revelam que este contato foi estabelecido.
 
Agora dirijo uma mensagem de fé ao meu EU SUPERIOR, pedindo orientação, proteção e ajuda para a realização, em ritmo acelerado, de um projeto muito importante que estou mentalizando e para o qual estou trabalhando com dedicação e amor.
 
Agradeço de todo o coração, a todas as pessoas que me ajudaram e comprometo-me a retribuir trabalhando para o bem do próximo, atuando como agente catalisador do entusiasmo, prosperidade e auto-realização. Tudo farei em harmonia com as leis da Natureza e com a permissão do nosso CRIADOR, eterno, infinito, indescritível que eu, intuitivamente sinto como o único poder real, atuante dentro e fora de mim.
 
ASSIM SEJA, ASSIM É... E ASSIM SERÁ.

Oração do perdão (Tradição Kahuna)
Escrito por Ademir Barbosa Júnior
Fonte: www.mundoaruanda.com

Doté Zezinho da Boa Viagem - homenagem

Registrou-se ontem, mais uma perda incomensurável dentro do nosso Candomblé, um dos nossos baluartes e o patriarca da nação Djedje Mahim. Faleceu, Doté Zezinho da Boa Viagem. Que Òsún com a sua força, os Voduns e seus Ancestres possam encaminhá-lo no retorno ao Òrun.

José Gomes de Lima, popularmente conhecido e respeitado por Pai  Zézinho da Boa Viagem, foi iniciado no Candomblé pelas mãos de Tata Fomutinho em 26 de Julho de 1943, para o Òrìsá Òsún, dando sua obrigação de sete anos em 14 de Outubro de 1961, fundou o Terreiro de Nossa Senhora dos Navegantes, São João de Meriti, no Rio de Janeiro.

O Povo de Djeje perde um grande Sacerdote e um Ícone dentro das religiões de matriz africana. Lastimável perda para toda a família candomblecista!









" Até aqui viajamos juntos.
Passaram vilas e cidades, cachoeiras e rios, bosques e florestas...
Não faltaram os grandes obstáculos.
Freqüentes foram as cercas, ajudando a transpor abismos...
As subidas e descidas foram realidade sempre presente.
Juntos, percorremos retas, nos apoiamos nas curvas, descobrimos cidades...
Chegou o momento de cada um seguir viagem sozinho...
Que as experiências compartilhadas no percurso até aqui sejam a alavanca para
alcançarmos a alegria de chegar ao destino projetado.
A nossa saudade e a nossa esperança de um reencontro aos que, por vários
motivos, nos deixaram, seguindo outros caminhos.
O nosso agradecimento àqueles que, mesmo de fora, mas sempre presentes, nos
quiseram bem e nos apoiaram nos bons e nos maus momentos.
Dividam conosco os méritos desta conquista, porque ela também pertence a
vocês. Uma despedida é necessária antes de podermos nos encontrar outra vez.
Que nossas despedidas sejam um eterno reencontro."



Ofò fún bibó Ori (Encantamento para propiciar a cabeça)



Esta reza é para ser feita todas as manhãs, ou pelo menos, 4 vezes na semana. Ao acordar, pela manhã, bem cedo, não fale com ninguém. Vá até o seu quarto de Òrìsá, em frente ao Igbá de seu Òrìsá Funfun (Obatalá). Caso não tenha em casa, vá à uma área onde vc veja o Sol nascendo. Coloque uma enin (esteira), caso não tenha, coloque um lençol branco. Ajoelhe-se, de frente para o Sol. Pegue um pouco de gin e bocheche, cuspindo para o lado. Não engula o gin. Pegue um copo de água fresca. Molhe o centro de sua cabeça e invoque ORI: Ori oooooo. Ori oooooo. Ori ooooo. E então proceda essa reza. Não é necessário rezar em Yorubá, mas pode rezar. IRE O (BOA SORTE PARA VOCÊ)!

OFÒ FÚN BIBÓ ORÍ (Encantamento para propiciar a cabeça).

ÒRÚNMÌLÀ NÍ ODI ÈDÙN, MO NÍ ODI ÈDÙN. ÒRÚNMÌLÀ NÍ ODI ÈDÙN OKÀN, MO NÍ ODI ÈDÙN OKÀN. ONÍ TÍ EGBÉ ENI NBÁ LÓWÓ, T’A ÀBÁ LÒWÒ, Ò NÍ ORÍ ENI L’ÀÁ KÉPÈ. ONÍ TÍ EGBÉ ENI BÁ À NSE, OHUN RERE TÁÀBÁ RÍ OHUN RERE SE, Ò NÍ ORÍ ENI L’ÀÁ KÉPÈ. ORÍ MÌ, WÁ SE LÉ GBÈ LÉHÌN MI. IGBA, IGBA, NÍ ORÒGBÒ NSO LÓKO; IGBA, NÍ OBÌ NSO LÓKO . IGBA, IGBA NÍ ATAARE NSO LÓKO. IGBA , AJÉ KÓ WOLÉ TÓ MI WÁ. OÒGÙN, ÀÌSÀN, EJÓ, WÀHÁLÀ, IKÚ, ÀÍRÍJE, ÀÌRÍMU KÓ PÒÓRÁ . TÍ EFUN BÁ WO INÚ OSÙN, ÁPÒÓRÁ . KÍ GBOGBO WÀHÁLÀ MI PÒÓRÁ . ÀWÍSE NÍ TI IFÁ, ÀFÒSE NÍ TI ÒRÚNMÌLÀ. ÀBÁ TÍ ALÁGEMO BÁDÁ NI ÒRÌSÀ ÒKÈ NGBÀ. KON KON NÍ EWÉ INÓN NJÓ, WÀRÀ, WÀRÀ, NI OMODÉ NBO OKO ÈSÌSÌ. ILÉ ÒGBÁ ÒNÒN Ò GBÁ NÍ TI ÀRÁGBÁ. GBOGBO OHUN TÍ MO SO YÌÍ , KÍ ARÒ KÓ RÒ MÒ ÀSE, ÀSE, ÀSE! 
 
Tradução: (ÒRÚNMÌLÀ que fortifica os tristes, Fortifique-me, eu estou triste. Òrúnmìlà que fortifica o coração triste, fortifique o meu coração triste. Senhor da comunidade, Aquele que é honrado e respeitado, é a cabeça de alguém cansado que invoca tua ajuda. Senhor da comunidade, esteja conosco (me acompanhe), que as coisas boas nos encontrem, e que obtenhamos coisas boas, é a cabeça de alguém cansado que invoca tua a ajuda. Minha cabeça, venha cobrir a casa e minha retaguarda. Duzentos, duzentos, que orògbò cresça na floresta; Duzentos, que obì cresça na floresta. Duzentos, duzentos, que atarê cresça na fazenda. Duzentos, que o poder do dinheiro adentre minha casa. Que as feitiçarias, as doenças, os problemas, as aflições, a morte, a fome, a sede, desapareçam da minha vida. Quando efun entra no osùn, ele desaparece. Que todas as minhas aflições desapareçam. Que a palavra de Ifá se realize, e a de Òrúnmìlà também (como um canto). E ao encontrarem Alágemo realizem-se através dos Òrìsàs, que aceitam do alto. A folha no fogo queima rapidamente (que meus pedidos realizem-se assim). Leite, leite, escorra para as crianças em quantidade, como é na Fazenda Èsìsì. Que minha casa, meus caminhos, meus conhecidos se engrandeçam. Que todos os meus votos façam desabrochar, e transformar-se para mim, afim de que ao nascer do dia eu encontre facilidades. Assim seja!

Reza enviada pelo meu grande amigo Bàbálòrìsá Daniel ti Jagun! Àwùré!!!

Bori - Ajalá criou o Ori

O BORI é o ritual que harmoniza o ORI, dando assim a possibilidade de transformar um " ORI BURUKU" em "ORI RERE".
É através do Jogo de Búzios que o Bàbálòrìsá e/ou Ìyálòrìsá recebe as instruções para realizar este ato (BORI) ritualístico que possibilitará não só a mudança da sorte como também a manutenção da mesma, para que não se perca.

É o BORI que diminui a ansiedade, o medo, a dor e a tristeza,  trazendo a esperança, alegria e a harmonia. Desta forma, o BORI é uma das oferendas mais importantes que visa o bem estar individual no Candomblé.
 
O Ritual de Bori é muito sério, complexo e profundo. Por isso, o Sacerdote deve ter grande conhecimento e respeito em relação à questão do Ori e da evolução humana. Ori é o Orisá mais importante na vida de um homem, uma vez que, sem ele, o homem simplesmente não existiria. Ori significa, literalmente, cabeça e é, misticamente, o primeiro Orisá a ser cultuado. É ele o portador do destino humano.

O Ritual de Bori independe de qualquer processo iniciático e independe do culto aos outros Orisás.(variando assim de casa para casa, mas, sem fugir da finalidade em si). Seu objetivo é o de alimentar o Ori, seja qual for o sexo, raça, profissão, idade, nível social da pessoa. Com este ritual busca-se o equilíbrio através da ação do Ori, condutor do destino pessoal. Muitas vezes se realiza um ritual de Bori com o objetivo de afastar o mal do caminho da pessoa, o que não significa que, retirada esta ameaça nenhum outro mal possa ocorrer. Assim sendo, o Ritual de Bori não tem "prazo de validade", não tem freqüência determinada (anual, semestral, mensal, etc.), devendo ser repetido sempre que se mostre necessário.

O Odu manifestado através do" jogo" é que determina a necessidade de realização do Bori e indica quais materiais devem ser usados. Há dois tipos de Bori:

Aquele que é considerado pré-requisito para uma iniciação, ou seja, primeiramente se alimenta o Ori, divindade pessoal, para a seguir, alimentar outros Orisás.

Aquele realizado a fim de buscar a solução de um problema que aflige a pessoa através do alimento oferecido ao seu Ori, sem que haja necessidade de iniciação.

O local mais apropriado para realização deste ritual é a casa de santo. Este deve ter bom senso quanto a necessidade de recolhimento. Se o Bori for acompanhado de Eje, é recomendável o recolhimento como meio de repouso e proteção, pois o Ori que está sendo venerado não deve receber energia do sol nem do sereno. O recolhimento evita, ainda, que a "sombra daquele que passou pelo bori seja pisada."

O Sacerdote deve saber que durante este ritual a pessoa somente poderá entrar em transe no momento que seu Orisá for louvado. No bori, não se tem o costume de ter a presença do Òrìsá, uma vez que é um ritual destinado a "alimentação da cabeça". Deve conhecer a finalidade e o significado de cada material que usa. Omi, Obi e Orogbò, por exemplo, são elementos indispensáveis no BORI. Omi, a água, representa paz, abundância e fertilidade, enquanto o Obi e o Orogbò é usado para aplacar a fúria das adversidades, alimentar e agradar às divindades.

O jogo de búzios determinará, através de Odu, que material deve ser usado no Bori e este material poderá ser desde apenas uma quartinha com água e um Obi até uma oferenda maior.

ORI RERE = ORI de sorte = Cabeça de sorte, cabeça iluminada
ORI BURUKU = ORI sem sorte = Cabeça sem sorte, confusa, insegura, ruim
ORI INU = "Cabeça Interna"

É o ORI INU que gerencia a cabeça física do homem.
É o Òrìsá mais importante do ser humano, pois ele é ÚNICO, cada pessoa tem o seu. É Ele quem conhece e está ligado ao destino de cada indivíduo, conhece e sabe das suas restrições, das suas fragilidades , das suas potencialidades. É no ORI que se encontra a ferramenta para a solução dos nossos problemas…

Quando estamos em harmonia com ele, superamos os obstáculos mais facilmente e assim, certamente conectados à positividade interna e à dinâmica perfeita da natureza, encontramos a vitória e o sucesso na concretização dos nossos objetivos pessoais….
Da fusão da palavra bó, que em yoruba significa oferenda, com ori, que quer dizer cabeça, surge o termo bori, que literalmente traduzido significa “Oferenda à Cabeça”. Do ponto de vista da interpretação do ritual, pode–se afirmar que o bori é uma iniciação à religião, na realidade, a grande iniciação, sem a qual nenhum noviço pode passar pelos rituais de raspagem, ou seja, pela iniciação ao sacerdócio. Sendo assim, quem deu bori é (Lesè Òrìsà).


Cada pessoa, antes de nascer escolhe o seu Ori, o seu princípio individual, a sua cabeça. Ele revela que cada ser humano é único, tendo escolhido suas próprias potencialidades. Odu é o caminho pelo qual se chega à plena realização de ori, portanto não se pode cobiçar as conquistas do outro. Cada um, como ensina Orùnmilá – Ifá, deve ser grande em seu próprio caminho, pois, embora se escolha o Ori antes de nascer na Terra, os caminhos vão sendo traçados ao longo da vida.
Os mais antigos souberam que Ajalá é o Òrìsá Funfun responsável pela criação de Ori. Dessa forma, ensinaram–nos que Osàálá sempre deve ser evocado na cerimônia de bori. Yemoja é a mãe da individualidade e por essa razão está diretamente relacionada a Ori, sendo imprescindível a sua participação no ritual.


A própria cabeça é síntese de caminhos entrecruzados. A individualidade e a iniciação (que são únicas e acabem, muitas vezes, se configurando como sinônimos) começam no ori, que ao mesmo tempo aponta para as seguintes direções:


OBI ORI - A TESTA
OBI OKAN - O CORAÇÃO
OPA OTUM - MÃO DIREITA
OPA OSSI - MÃO ESQUERDA
ESE OTUM - PÉ DIREITO
ESE OSSI - PÉ ESQUERDO


Da mesma forma, a Terra também é dividida em quatro pontos: norte, sul, leste e oeste; o centro é a referencia, logo toda pessoa deve se colocar como o centro do mundo, tendo à sua volta os pontos cardeais: os caminhos a escolher e seguir. A cabeça é uma síntese do mundo, com todas as possibilidades e contradições.
O bori prepara a cabeça para que o Òrìsá possa manifestar–se plenamente. Há um provérbio nagô que diz: Ori buruku kósi Òrìsá (A cabeça ruim não tem orixá. É o bori que torna a cabeça boa. Entre as oferendas que são feitas ao ori algumas merecem menção especial. É o caso da galinha d’angola, chamada nos Candomblés de etú ou konkém, que é o maior símbolo de individuação e representa a própria iniciação. A etú é adosú, ou seja, é feita nos mistérios do òrìsá. Ela já nasce com osù, por isso relaciona–se com começo e fim, com a vida e a morte, e por isso está no bori e no asèsè.


O peixe representa às potencialidades, pois a imensidão do oceano é a sua casa e a liberdade, o seu próprio caminho. As comidas brancas, principalmente os grãos, evocam fertilidade e fartura. Flores, que aguardam a germinação, e frutas, a germinação, simbolizam fartura e riqueza.


O pombo branco é o maior símbolo do poder criador, portanto não pode faltar. A noz cola, isto é, o obi é sempre o primeiro alimento oferecido a ori; é a boa semente que se planta e espera-se que dê bons frutos.


Todos os elementos que constituem a oferenda à cabeça exprimem desejos comuns a todas as pessoas: paz, tranqüilidade, saúde, prosperidade, riqueza, boa sorte, amor, longevidade, mas cabe ao Ori de cada um eleger prioridades e, uma vez cultuado como se deve, proporcioná-las aos seus filhos.
 


Nenhum Deus abençoa o homem, sem que sua cabeça o permita.


Fonte: www.toluaye.com
http://bamgboseobtico.blogspot.com/

segunda-feira, 21 de março de 2011

Lorogun - ritual quase em extinção???

Lorogun, lórogún ou olorogum é uma cerimônia ritual que paralisa a maioria das atividades nos terreiros de Candomblé, estimulando seus crentes e adeptos ao descanso coletivo, marcado o final do ano litúrgico.

O lorogun acontece propositadamente no período da quaresma católica, logo depois do carnaval, terminando justamente no sábado de aleluia (primeiro sábado da lua cheia), onde começa o início do ano litúrgico (Ano Novo) para o povo do santo.

Neste ritual não acontece sacrifício animal, embora seja oferecida comida ritual não só aos Deuses, mas à todos os participantes, servido diretamente por todos os Òrìsás do terreiro, extraordinariamente vestidos com roupas estampadas, menos os òrìsás funfuns que sempre estão com as suas vestes brancos. A comida é comportada em duas capangas à tira colo e distribuida a todos os presentes, depois estas capangas são penduradas na árvore sagrada do terreiro.

Em seguida, todos os Òrìsás saem com um isan  (Atòrì é um apetrecho da cultura nago-vodum em forma de cipó "vara"), feito de uma planta chamada glyphaca lateriflora abraham, inerente aos Òrìsás Nanan, Òsògiyan, Obaluwàiyè, Òsùmàrè, Osaniyn e Yànsán, principalmente a Oyá Igbalè e muito utilizado nos cultos de Egungun.
 
Indispensável na festa do Pilão e na construção de vários objetos sagrados como Sasará e Ibirin, sua imitação de metal em forma de seta pode ser vista nos assentamentos sagrados: igbà Òsùmàrè, igbà Osaniyn e igbà Obaluwàiyè, o mesmo material serve para confecção das colheres de madeira sobrepostas no igbà Nanan. Suas hastes são simbolizadas com os ancestrais e tem finalidade de afastar os espíritos (eguns) para o seu espaço sagrado, e eliminar as energias negativas da comunidade, proporcionando a saúde e longevidade dos crentes.) devidamente enrolado com tecidos ou papéis e começam simbolicamente uma luta, parecido com maculelê, este mesmo objeto é levado e depositado aos pés da árvore sagrada do terreiro. Neste momento todos os òrìsás seguram nas mãos uma quantidade de folha sagrada, que são passada no corpo de todos os presentes, inclusive uns aos outros, formando um verdadeiro alarido, dando uma impressão de briga "guerra" que é interrompida com a manifestação de Òsáàlá, imediatamente tudo volta a calmaria e todos dançam sob um grande alá (pano branco), os cânticos sagrado deste Òrìsá da paz.
 
 

Fonte: Orún Aiyè - Encontro de Dois Mundos - José Beniste
OS RITUAIS DE SACRIFÍCIO


O culto demanda sacrifício de sangue animal, oferta de alimentos e vários ingredientes. A carne dos animais abatidos nos sacrifícios votivos é comida pelos membros da comunidade religiosa, enquanto o sangue e certas partes dos animais, como patas e cabeça, órgãos internos e costelas, são oferecidas aos Òrìsà. Somente iniciados têm acesso a estas cerimônias, conduzidas em espaços privativos denominados quartos-de-santo. Uma vez que o aprendizado religioso sempre se dá longe dos olhos do público, a religião acaba por se recobrir de uma aura de sombras e mistérios, embora todas as danças, que são o ponto alto das celebrações, ocorram sempre no barracão, que é o espaço aberto ao público.

Os ritos de sacrifício animal são destinados aos Òrìsà e outras formas de espíritos. Olórun ou Olódùmarè, o Ser Supremo, não solicita sacrifício com derramamento de sangue nem oferenda, pois Ele está acima das contingências por ser o Senhor das Essências, sem figurações, porque Infinito não pode ser traçado. A comunicação Homem-Deus é feita por pensamento e a palavra por excelência é Àse, que significa “que assim seja”, ou “que Deus permita que isto aconteça”, da qual os Òrìsà são seus intermediários e encaminhadores dos pedidos.

Sacrifício – vem da palavra sacrificar que no sentido religioso é oferecer em holocausto por meio de cerimônias próprias. Sua origem etimológica é sacr (de origem provavelmente judaica) e a palavra latina ofício).

No Candomblé, esta parte do ritual denominada de sacrifício não é propriamente secreta; porém não se realiza senão diante de um reduzido número de pessoas, todos fiéis da religião. Deve-se temer que a vista do sangue revigore entre os não iniciados, os estereótipos sobre a barbárie ou o caráter supersticioso da religião africana.

Uma pessoa especializada no sacrifício, o Asogun, que tem tal função na hierarquia sacerdotal, é quem o realiza ou, na sua falta o Bàbálòrìsá ou Ìyálòrìsá. O Asogun não pode deixar o animal sentir dor ou sofrer porque a oferenda não seria aceita pelo Òrìsá. O objeto do sacrifício, que é sempre um animal, muda conforme o Òrìsá ao qual é oferecido; trata-se, conforme a terminologia tradicional, ora de um animal de duas patas, ora de um animal de quatro patas, galinha, pombo, bode, carneiro. Na realidade não se trata de um único sacrifício: sempre que se fizer um sacrifício a qualquer Òrìsá, deve ser antes feito um para Esú, o primeiro a ser servido.

Esse sacrifício não é só uma oferenda aos Òrìsás. Todas as partes do animal vão servir de alimento, nada é jogado fora. O couro do animal é usado para encourar os atabaques, o animal inteiro é limpo e cortado em partes, algumas partes são preparadas para os Òrìsás e o restante é destinado aos demais. Tudo é aproveitado: até a porção oferecida aos Òrìsás é posteriormente distribuída entre os filhos da casa como o Asè do Òrìsá. É usada para confraternização: unem-se os filhos a comer com o pai ou mãe, havendo repartição do Asè gerado pelo Òrìsá. (Acredita-se que após algum tempo que a comida esteja no Peji ela fica impregnada pelo Asè do Òrìsá). O sacrifício no candomblé é a renovação do Asè, feito uma vez por ano para cada Òrìsá da casa ou em circunstâncias especiais.

Os reinos animal, vegetal e mineral está à disposição do ser humano. Eles liberam energias que são dirigidas ao destino especificado, segundo os desejos e objetivos. Este processo que os menos esclarecidos costumam chamar de feitiçaria, é denominado magia. Cada Òrìsà possui um determinado animal, vegetal, mineral e comidas, e tudo libera energia. É uma alquimia que depende de muita habilidade, como a do Asògún, que sabe exatamente como segurar uma faca, como a Ìyá gbàsè, que conhece os ingredientes do prato, e a Ìyálórìsà, que sabe o Orò determinado, que conhece as regiões do corpo humano onde estão localizados os centros de força em que atuam os Òrìsà e o que eles representam por ocasião dos oferecimentos. Convém lembrar que certas partes do corpo humano são tocadas e utilizadas por ocasião de determinados ritos: o Bori, por exemplo.

Todo ser humano possui um corpo físico, o Ara, e um corpo metafísico, denominado Enikéjì, literalmente a 2ª pessoa. A magia dos trabalhos que se realizam no corpo físico tem por objetivo penetrar o mundo metafísico, alcançar a matriz para modificar ou restabelecer o equilíbrio da cópia, através das energias mineral, vegetal e animal. Orientado pela intenção, o desejo atinge o alvo, liberando as propriedades necessárias:

Kò má ìkú — nada de morte
Kò má’run — nada de doenças
Kò má sè jó — nada de problemas
Kò má èpè — nada de maldades
Àarin dede wa — entre todos nós.

O sangue é o elemento considerado indispensável, pois se a vida do animal está no sangue, por essa razão é o primeiro elemento a ser oferecido às divindades, sendo colocado em cima dos assentamentos, que representam o próprio Òrìsà. Recebendo a vida, preservam a da pessoa, estabelecendo uma troca. Os animais são selecionados pela sua natureza, pela sua tranqüilidade e o calor do seu corpo, de acordo com a necessidade do momento.

A cabeça do animal é oferecida em troca da cabeça da pessoa. Trata-se, portanto, de um ritual de troca.

“Orí eran e gbá, e máse gba orìì mi”. (Receba a cabeça do animal, deixe a minha em paz.)

Após o sacrifício, a cabeça do animal é colocada, desamarrada, em cima do assentamento. É o jogo que diz o que o Òrìsà deseja, os animais e os oferecimentos. Para todo animal de quatro patas são feitos sacrifícios de aves para cada pata do animal; a isso se dá o nome de Ìbòsè, que significa cobrir os pés, ou seja, calçar as patas do animal. Determinado o número de animais, estabelece-se a ordem dos oferecimentos:

1º Animal de quatro patas
2º Calçar o animal de quatro patas
3º Oferecimentos de galinha ou galo/
4º Pato
5º Galinha d’angola
6º Pombo
7º Ìgbín (Caramujo)

Além do sangue, da cabeça e das patas, outras partes dos animais são tratadas de forma especial: Èdò, o fígado; Fúkùfúkù, pulmões; Iwe, a moela; Okán, coração; Iwe Inú, rins. São consideradas partes vitais e oferecidas às divindades num ritual denominado de Ìyanlé. As partes restantes, dependendo do tipo de sacrifício, são preparadas para serem servidas aos praticantes, numa manifestação comunitária em que a vida é celebrada em ritual de festa e confraternização.

A força sagrada… O conteúdo mais precioso do terreiro é o Asè. É a força que assegura a existência dinâmica, que permite o acontecer e o dividir. Sem Asè a existência estaria paralisada, desprovida de toda a possibilidade de realização. É o princípio que torna possível o processo vital.          

Sacrifício não é sinônimo de assassinato, está relacionado a ritual sagrado, no Candomblé, sacrificar significa ampliar, acumular e distribuir a força vital  e chamamos esta forca de Asè. Boa parte das religiões utilizava sacrifícios, em seus rituais, mas na maioria das vezes num sentido expiatório, não se aplicando essa noção ao Candomblé por um motivo aparentemente simples: No Candomblé, não existe pecado, portanto não há o que expiar, pois acreditamos na ação, reação e conseqüências.  

Entre os cristãos, por exemplo, a extinção do sacrifício (em termos reais), justifica-se pela morte de Jesus, o Cristo, que teria morrido para salvar a humanidade, no mais importante sacrifício que o mundo assistiu. Ocorre que Jesus morreu pelos Cristãos, e não pelo Candomblé, e isso significa, na realidade, que os ritos processados em outras doutrinas religiosas não fazem nenhum sentido para os Òrìsás; da mesma forma que os rituais de Candomblé fogem a compreensão das outras denominações. Esta é uma das principais razões dos terreiros de candomblés serem considerados espaços marginalizados. 

Inclusive vemos no livro Cristão, quando (Jesus é apresentado ao templo Lucas 2:21, cumpridos os oito dias para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo que lhe fora posto antes de ser concebido. Quando e completaram os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor, conforme o que está escrito na lei do Senhor. Todo primogênito será consagrado ao Senhor, e para dar a oferta segundo o que está disposto na Lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos. )

Em outras palavras, o Candomblé só se explica pelo Candomblé, não adiantando recorrer à bíblia para explicar e muito menos condenar as práticas da religião dos Òrìsás.

O sangue é de importância vital para os Òrìsás, pois está ligada à concepção, à fertilidade, ao nascimento e a todas as etapas da vida. Acreditamos que sem sangue não há Asè, ninguém nasce sem sangue. Quando deixar de haver sacrifícios, o Candomblé deixará de existir.

Não se derramam o sangue do animal por maldade ou crueldade e muitos menos para fazer mal a alguém. O sacrifício é a condição para que a vida continue, e não apenas no Candomblé. Todos se alimentam, seja de carne, seja de vegetal, e um boi pode ser comido em bifes, ou seja, em partes e depois de morto; uma alface, ao ser desconectada de sua raiz, também é morta. Por que não se pode atribuir um significado religioso a um ato essencial para a sobrevivência humana? Será mesmo que a condenação do Candomblé se deve ao sacrifício? Não seria uma forma da sociedade camuflar preconceitos mais profundos?

O ritual macabro não está nos Candomblés, e sim nos matadouros, onde os animais são submetidos a inúmeras crueldades e morrem com muito sofrimento. Imaginem um animal ainda vivo tendo a sua pele arrancada: isso é um exemplo que ocorre nos matadouros. É por isso que a carne que será consumida pelos iniciados do Candomblé deve ser sacralizada por meios de rituais específicos, a carne de um animal que morreu com o sofrimento não faz bem a ninguém. Os Judeus e Muçulmanos, por exemplo, só comem carnes de animais abatidos de acordo com seus preceitos, por que o Candomblé não pode fazer o mesmo?

É um absurdo acusar o Candomblé de fazer sacrifícios humanos, como têm feito certas igrejas. O Candomblé não é uma religião hipócrita e assume o que faz. São sacrificados, sim, bois, bodes, galinhas, patos e muitos outros animais, que depois servem de alimentos à comunidade, mas nunca seres humanos, pois o Òrìsá vive no Homem e através do Homem.

Todo homem sacrifica não necessariamente num sentido religioso, e mata para sobreviver. Que mal pode haver em oferecer aos Deuses as partes que o homem não consome?
Lembre-se de que Jesus foi condenado à morte por pessoas que viriam a santificá-lo depois, fazendo o sinal-da-cruz, adorando a sua imagem ensangüentada. Pois que fique bem claro: Não somos contra o homem Jesus, mas contra os homens que mataram Jesus. Nós não matamos nossos Òrìsá, “nós os amamos com todos os seus defeitos e qualidades”!

Para o Candomblé tudo que a natureza produz é sangue, pois o que define o sangue é a força que detém o asè, ou seja, o Asè é um sacrifício que requer a utilização de vários tipos de sangue, vindos das mais variadas fontes da natureza, atribuindo vida e sentido ao Òrìsá, aos homens e à própria existência.

SANGUE VERMELHO

O sangue divide-se em três categorias:
O Vermelho, O Preto e o Branco, e os elementos detentores de asè são encontrados nos reinos animal, vegetal e mineral, configurando a parte material, visível e palpável da força vital.

O sangue vermelho do reino animal é representado pelo fluxo menstrual, pelo sangue dos animais e pelo sangue humano, portanto todas as pessoas são portadoras do Asè. No reino vegetal, o azeite de dendê, o osùn e o mel extraído das flores são os melhores exemplos. Os metais como o bronze e o cobre são portadores de sangue vermelho proveniente do reino mineral.

O sangue vermelho está mais diretamente relacionado às coisas quentes, ao movimento e ao fogo, razão pela qual os Òrìsás que exigem uma quantidade maior desses elementos dominam exatamente esses aspectos da natureza, como Esù, Sangò e Yànsán!

SANGUE PRETO

No reino vegetal o sangue preto é encontrado principalmente nas cinzas de galhos e folhas das árvores sacrificados, sendo a cor verde variação da cor preta, assim como o azul, o sumo das folhas, o pó azul chamado waji que é extraído das árvores, são exemplos de sangue preto do reino vegetal. Já no reino mineral, encontramos o carvão e o ferro.

A esses elementos relacionam-se diretamente os Òrìsás da terra como Ògún, Òsóòsi, Osàniyn e muitos outros. Isso não quer dizer evidentemente, que Deuses ligados a outros elementos não os utilizem, porém da mesma forma que a cor vermelha é imediatamente associada ao fogo, o preto é associado à terra e o branco a água e o ar.

SANGUE BRANCO

O sêmen, a saliva, o hálito, as secreções e o plasma são considerados os portadores de sangue branco do reino animal. O caracol sacrificado para Òsáàlá é um bom exemplo de animal de sangue branco. No Reino vegetal está o sumo das plantas leitosas e nas bebidas alcoólicas extraídas das palmeiras e de outros vegetais, também está no iyèrosùn (pó utilizado pelos Bàbálawos no Opelé Ifá), e no ori (espécie de banha vegetal). No reino mineral temos o sal, o efun (espécie de giz), a prata, a água e o chumbo.

Todos esses elementos são portadores de asè e combinados reforçam, ampliam e restabelecem a relação entre os homens e os Òrìsás. O Asè é uma força vital que pode ser acumulada, aumentada, e o sacrifício, com a utilização das mais variadas fontes de Asè, provenientes da natureza, é que fortalece o poder dos Òrìsás, do Candomblé e do povo do santo!

 
Fonte: Ìgbá - a utilização da cabaça
Fonte: www.http://toluaye.wordpress.com/

sexta-feira, 18 de março de 2011

Falando de ética



Pegando carona no post do blogger da irmã Ìyá Fernanda de Òsún (http://maefernandadeoxum.blogspot.com), senti a necessidade de reiterar um tema sobre a ética dentro do mundo do Candomblé. Irmã Fernanda, Àwúrè!

Comento este post, pois o acho de extrema importância... infelizmente, tenho visto (e como...), a falta de ética dentro da nossa religião, cada vez mais inflamada. Inclusive, em meu blog escrevi sobre isso, com o tema de intolerância interna. A ética e a moral são conceitos que deveriam fazer parte do caráter humano, principalmente dos nossos, como omo-òrìsás, onde o caráter é super evidenciado pelos nossos ancestrais. Esquecem de ter "Ifá Aya" (a consciência de Deus no coração). Como se não bastasse, termos que conviver com uma série de preconceitos contra a nossa religião, ainda temos que conviver com a triste realidade, de Bàbás e Ìyás que se acham acima do bem e do mal, que se acham superiores e julgadores da doutrina e procedimentos das casas alheias; como vc bem disse: chegam aos nossos ilès, "se achando", confraternizam (se é que podemos chamar esse comportamento de confraternização), com o objetivo único e absoluto de aliciar os filhos daquela casa, sem o menor pudor ou vergonha, na primeira oportunidade, colocam sempre defeitos nos ritos, e se oferecem como "poção mágica" aos nossos noviços como a resolução dos seus possíveis problemas, quando não, acabam plantando uma gama de dúvidas e questionamentos. Tal postura deveria ser repelida, pois a estas pessoas, acredita-se que ao ser empossada em seus Oyès deveriam na verdade, repassar aos mais novos, a rigorosa e necessária hierarquia espiritual, porém, aguçam com a sua lábia de "urubus em busca de carniça", o desrespeito às lições e mostras do poder dos nossos Òrìsás, que em dúvidas, acabam por desmerecer as mãos seguras dos seus iniciadores, que em sua maioria, foi escolhida pelo "Òrìsá" do próprio filho. 
Sou do tempo, onde o Òrìsá escolhia a mão do seu Zelador, e nos dias de hoje, infelizmente, somos obrigados a conviver com os descartes cada vez mais frequentes. Acredito, que não precisamos de uma igreja evangélica para dissipar com a nossa religião, infelizmente, os maus adeptos (pessoas desse tipo), acabarão fazendo-o, e colocando a perder, uma religião rica, cheia de cultura, filosofia e beleza, onde os nossos ancestrais lutaram em toda a sua plenitude para deixar seu legado, apenas movidos por suas vaidades, disputas, concorrências, dinheiro fácil e outros tantos sentimentos mesquinhos.
Obrigada por sua postagem... temos que incurtir  e repercurtir a ética, em todos os sentidos da nossa vida, porém, a ética religiosa, infelizmente, encontra-se indo de mal à pior. O Sacerdócio não é visto de maneira plena por alguns... eu por exemplo, mantenho sempre o cuidado em não atender, pessoas que supostamente, tenham ou frequentem uma casa de santo, mas infelizmente, para alguns o dinheiro e a vaidade de arrecadar mais um "Ori" é mais importante.
Nossa defesa quanto esse tipo de gente, é realmente a orientação e a transparência aos nossos filhos sobre essa situação... sempre evidenciando um Conselho de Ifá: "Nem tudo que reluz é ouro", é claro... que acabamos tendo algumas "baixas" pelo longo do caminho, mas, se formos fortes, determinados e religiosos, e respeitarmos à ética e a moral, vão estar conosco àqueles filhos que realmente devem estar. 


"Afinal, muitos são os que lucram com essa desordem religiosa atual! E quem perde é a Religião Africana como um todo! " by Fernanda ti Òsún 

Mo jùbá!!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Porque se iniciar ou não no Candomblé


Com a globalização e a Internet é difícil esconder segredos guardados a sete chaves como acontecia há uma centena de anos pelos antigos do candomblé. A finalidade de se guardar esses segredos era justamente para que não caíssem em mãos erradas e fossem usados para fins inescrupulosos como acontece nos dias atuais.
O candomblé é uma religião iniciática. No entanto nem todos nasceram para serem sacerdotes, gostaria de salientar que essa iniciação só deve ser feita em última instância, em caso de extrema necessidade, quando não houver outra alternativa.
A iniciação no candomblé não é uma coisa que se faça levianamente sem observar as conseqüências provenientes de erros, caso o pai ou mãe de santo não estejam devidamente preparados para isto.
Por que iniciar uma pessoa que não precisa ser iniciada? Só pelo dinheiro? Há muitos “sacerdotes” fazendo isso sem nenhum escrúpulo. São os mercenários de nossa religião que não tem o menor respeito pelo Orixá e muito menos pelas pessoas desavisadas que caem em suas mãos.
Sempre que for fazer uma consulta em qualquer casa de candomblé, fique atento, não dê dinheiro algum sem antes confirmar em outros lugares se é isso mesmo que estão dizendo. Se disserem que tem que fazer um ebó, borí, ou iniciação, vá jogar em outros lugares para confirmar a resposta do jogo, se for igual em pelo menos três lugares diferentes então faça. Caso contrário não faça nada, não gaste seu dinheiro sem saber realmente o que é preciso ser feito.
Muitos pensam que é só fazer o santo e já pode ser pai ou mãe de santo, a coisa não é bem assim… Não é porque alguém se iniciou, que obrigatoriamente terá que abrir uma casa ao completar sua iniciação na obrigação de sete anos. Não são todos filhos de santo que tem cargo para ser um sacerdote. O sacerdote já nasce com essa missão e em proporção seria 1 em cada 1000 que deveria se preparar para essa árdua tarefa.
O que está acontecendo no candomblé é uma distorção grave, quando se pensa que todo ìyáwò tem que abrir casa. Um absurdo!
Muitos não têm nem fibra e nem capacidade para ser um líder, abrem suas casas e depois de um tempo despacham tudo no rio e vão para as igrejas evangélicas como se isso resolvesse o problema.
Os culpados dessa decadência da religião são os pais e mães de santo que inventaram essa nova modalidade de ganhar dinheiro, pois cada ìyáwò que o sacerdote despreparado for tirar terá que chamar um pai ou uma mãe para raspar porque ele não sabe. Pois não conviveu o tempo suficiente na roça para aprender o mínimo necessário e já abriu uma casa. Não podemos esquecer que existem muitos sacerdotes dignos, que levam o culto a sério e se preparam durante muito tempo antes de assumir uma casa e todas as conseqüências que a mesma trás, mostrando um culto limpo, cheio de magia e lendas riquíssimas. Trazendo a evolução do homem e mostrando que cada um tem o seu caminho evolutivo.
O candomblé não se resume às festas de barracão, a festa é só a ponta do iceberg, não é só chegar na hora da festa para dançar, candomblé não é só isso. O candomblé propriamente dito começa semanas antes de cada festa, com muitas pessoas na casa lavando, passando, cozinhando, limpando e enfeitando, quando você entra no barracão e vê as bandeirinhas no teto da cor do Orixá que está sendo homenageado, alguém teve que comprar cortar e colar as bandeirinhas e colocá-las no lugar para que o barracão fique bonito.
As anáguas, toalhas brancas, ojás precisam ser engomadas e passadas, (detalhe na maioria das roças é no tanque por não ter máquina de lavar e quanto tem não é usada porque gasta muita luz) isso normalmente é feito pelas ekedjis ou pessoas que moram na casa de candomblé, mas e as suas anáguas quem vai engomar? Quem vai passar? É durante o período de abiyan que muita gente vai aprender a lavar suas roupas, engomar e passar para poder usar na festa.
Caso não saiba lavar roupa ou nunca lavou terá que aprender ou pagar para que alguém faça. Na maioria das vezes é do que vivem as pessoas que moram dentro de uma casa de candomblé, lavam e passam as roupas dos que não sabem ou não tem tempo para fazer.
Durante as semanas, diversas obrigações são feitas, de acordo com a determinação do jogo de búzios, Exús, Eguns e os Orixás homenageados.  Os bichos precisam ser limpos por alguém e tratados pois será servido uma parte para os Orixás e outra parte para todos os presentes na festa.
Você já limpou uma galinha, um pato, um pombo ou um cabrito?
Ahhh! tem dó?!!!, Tem nojo? ah bom!!! Então pode ir pensando no assunto, na hora de tirar as penas todo mundo tem que ajudar não importa cargo, é uma das coisas que os abiyans e iyawos podem fazer.
Alguém precisa limpar a casa e deixar impecável para a festa e os  convidados. Isso os abiyans e iyawos também podem fazer sem problemas. Se você  nunca varreu sua casa, vai aprender a varrer barracão e quintal que normalmente são enormes. A comida precisa ser preparada e estar pronta antes de começar a festa para que aqueles que estavam no fogão possam tomar banho e se arrumar.

Quando chegar num candomblé e notar algumas pessoas com cara de cansadas e cochilando em alguma cadeira, não repare, com certeza essa pessoa deve estar com todos os ossos do corpo doendo de semanas de trabalho duro para que você possa ver uma festa bonita.
Se você é leigo no assunto, procure conhecer um pouco mais antes de fazer qualquer coisa. Não deve se iniciar só  porque acha bonito, porque gosta das roupas, porque gosta do ritmo envolvente sem pensar nas responsabilidades e conseqüências da iniciação. Não se inicia para depois de um ano chegar à conclusão que não era bem isso que queria.
Quando se iniciar no candomblé estará criando um vínculo com o seu Orixá, com a casa, com o pai ou mãe de santo, você passa a fazer parte de uma comunidade, por isso deve escolher bem a casa.
Antes de qualquer coisa é necessário consultar vários jogos de búzios para saber se todas as respostas de jogo são iguais, não se deve confiar cegamente em ninguém.
Somente depois disso dá para saber se precisa realmente ser iniciado ou não, desta forma pode-se escolher a casa e o pai ou mãe de santo que mais lhe inspire confiança, procurar saber quem são seus ancestrais, em que casa ele foi feito, tudo isso para não ter surpresas e aborrecimentos no futuro. Estou dizendo isto porque existem muitas pessoas com casa aberta e nem são iniciados no candomblé e dizem que são. Uma pessoa que não foi iniciada, não pode iniciar outras pessoas, porque não recebeu o Axé de ninguém. E pelo que me consta ninguém pode dar aquilo que não tem.
Mesmo que lhe digam que precisa ser iniciado (fazer o santo), tenha calma e não vá fazendo no primeiro lugar que lhe disseram, procure outros lugares, se informe, o santo não vai te matar se você não fizer imediatamente, se ele é seu Orixá ele quer o melhor para você. Por isso mesmo existem os abiyans nas casas de candomblé, são pessoas que participam das festas e algumas obrigações na casa sem a responsabilidade de ser um iniciado.
Para fazer parte do candomblé não pode ser preguiçoso, se está pensando que vai chegar numa roça de candomblé e ficar encostado olhando os outros trabalharem, esqueça, todos trabalham por igual em prol da comunidade, se é uma casa prá todos os filhos, todos os filhos tem que ajudar.  E não é ao pai ou mãe de santo que estão ajudando. Quando limpar a roça pense que alguém está fazendo a comida que você vai comer e o que você está fazendo se reverterá em benefício de todos e para que todos tenham um lugar agradável e limpo para ficar.
Durante o período de abiyan é que você aprende a dançar no barracão, aprende as cantigas, convive com todos da roça e tem a possibilidade de conhecer um por um, nesse período é que você vai descobrir se está no lugar certo, caso não seja poderá ir para outra casa, pois ainda não tem vínculo nenhum com o pai ou mãe de santo e nem com a casa.
O Axé é transmitido do pai ou mãe de santo para o iniciado de diversas formas, uma delas é na iniciação através do Adoshu que é colocado na parte superior da cabeça, onde penetrará o Axé ali depositado.
O Axé vai sendo transmitido aos poucos, através das rezas, cantigas, banhos, boris, na feitura, na obrigação de 1 ano, 3 anos, (em algumas nações tem a de 5 anos), 7 anos, 14 anos, 21 anos de santo, daí em diante enquanto o pai ou mãe for vivo.
O certo é permanecer na casa onde se foi iniciado, mas em decorrência de muitos desentendimentos entre pais e filhos de santo tem havido uma constante mudança de casa.
Para os que não sabem…você nunca vai ser tratado em outras casas como na casa onde você foi iniciado, existe uma diferença, ou seja (você não é do meu Axé), pode ser muito bem camuflado mas que esse sentimento existe, existe….
Na primeira discussão você pode ouvir isso, não digo do pai de santo, mas dos outros filhos da casa com certeza.





Fonte: http://povodosanto.wordpress.com
http://www.marceloalban.com.br/index_arquivos/iniciacao.htm

Retificando fonte original do texto: Egbomi Jurema D'Oxum, também conhecida como Jurema Oliveira.