Muitas são as pessoas que se dizem do "santo". Anunciam aos quatro ventos que são raspados, que fazem parte desse maravilhoso Universo chamado Òrìsá. Outros propagam que são Sacerdotes e Sacerdotisas de nossa Religião.
Mas, a verdade, é que de inúmeras pessoas que se iniciam em nossos preceitos, muitos poucos podem se considerar verdadeiramente parte do "Mundo do Santo".
Isso porque sermos parte desse Universo não é fácil, pois, implica em uma série de fatores que em sua grande maioria as pessoas não estão preparadas para encarar e uma delas é o afastamento da vida mundana.
Um verdadeiro filho de Santo, não tem vida social. Por maior que seja o evento que pretende participar, sempre terá que abrir mão do mesmo para se dedicar aos assuntos do Òrìsá, pois como seres que governam à natureza, não compactuam com atos como: bebida, sexo e outros.
Sempre que uma “roça” entra em função, é de suma importância que seus filhos, ali estejam presentes de corpo e mente limpos para que possam dar sua contribuição nos afazeres que aquele Òrìsá solicita para que possa assim, a pessoa que está passando pelo processo e até mesmo os que ajuda, receber as dádivas daquela entidade.
O mesmo ocorre e de forma muito mais rigorosa com os Sacerdotes e demais pessoas que possuam cargo de alta hierarquia dentro de uma “roça” de Candomblé.
Como Sacerdotes, não temos direito a festas, sexo, bebidas e muitos outros prazeres da vida com abundância, pois nunca sabemos quando seremos chamados para praticarmos nosso sacerdócio. É uma missão árdua e em sua grande maioria as pessoas fracassam.
Para que possamos nos dedicar literalmente ao sacerdócio temos sim, que estar prontos para abrir mão de muita coisa em nossa vida. Quantas vezes somos chamados, por exemplo, em plena comemoração do ano novo para intercedermos na vida de alguém?
Quantas vezes estamos nos preparando para uma festa, um jantar e nosso telefone toca, e um consulente nos requisita para algo?
E, nos negarmos a atender é sermos negligentes com nosso "Santo". Temos que estar prontos sempre, não importa a hora, o dia ou mesmo o momento. E se formos conclamados a parar um ato por mais prazeroso que seja, temos a obrigação de atender, pois assim desejou nosso Òrìsá.
Como pode, por exemplo, um médico, se negar a atender um paciente seu que sofre um acidente e está muito mal em um hospital?
Como pode um obstetra se negar a atender uma parturiente na sua hora? O mesmo acontece conosco!
"Ser do Santo", não é somente sair por aí propagando aos quatro ventos que somos. Mas sim, ter uma vida de reclusão em sua grande maioria. Uma vida de sacrifício, de doação onde muito pouco recebemos.
É preciso termos em nossa consciência de que, nada podemos fazer esperando receber em troca.
Nosso Pai ou Mãe saberá nos compensar se assim formos merecedores. É de suma importância que estejam prontos sempre, para abrir mão de sua vida particular em beneficio dos assuntos do "Santo".
As pessoas precisam entender de que se, receberam um cargo, é porque aquele Òrìsá confiou nele para os momentos em que mais precisasse. E esses momentos são justamente as funções que existem em um Templo, pois, como pode um Zelador sozinho se dedicar a tanta coisa?
"Ser do Santo", não é festa, mas sim, uma vida de dedicação e submissão.
Texto gentilmente cedido por Sérgio Silveira - Tatetú N’Inkisi - Odé Mutaloiá.
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