quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A Música e a Dança no Candomblé



Toque de Candomblé é o mesmo que festa, pois se refere às batidas dos atabaques, que possuem uma variedade significativa de ritmos identificados com a necessidade do momento. São mais de 15 ritmos diferentes, acompanhados de cântico ou não. Esses toques têm o poder de entrar em sintonia com o Òrìsà, pois fornecem elementos como gestos e movimentos do corpo que entram em afinidade de forma irresistível.
As celebrações de barracão, os toques, consistem numa seqüência de danças, em que, um por um, são honrados todos os Òrìsà, cada um se manifestando no corpo de seus filhos e filhas, sendo vestidos com roupas de cores específicas, usando nas mãos ferramentas e objetos particulares a cada um deles, expressando-se em gestos e passos que reproduzem simbolicamente cenas de suas biografias míticas. Essa seqüência de música e dança, sempre ao som dos tambores (chamados rum, rumpi e lé) é designada sirè, que em iorubá significa "vamos dançar". O lado público do candomblé é sempre festivo, bonito, esplendoroso, esteticamente exagerado para os padrões europeus e extrovertido. 
Para a realização da festa, que será movimentada por cânticos e danças, são necessárias as presenças dos Ogans, que tocarão os instrumentos musicais, os quais, de marcarem o ritmo, são os responsáveis pela vinda dos Òrìsà com cânticos apropriados. Nos Candomblés existem os cânticos que são entoados com os Òrìsà manifestados e outros não.
Os atabaques são tocados por Ogans confirmados da Casa ou por visitantes importantes, merecedores de homenagens especiais.
Os atabaques são instrumentos sagrados que passam por rituais de iniciação e recebem obrigações como verdadeiras divindades.  São devidamente paramentados com Òda cor  do Òrìsà homenageado ou na cor branca. São em número de 3, e, de acordo com a nação seguida pelo Candomblé, tomam nomes diferentes, do maior para o de menor tamanho, cada um com som diferenciado, de acordo com o tipo de toque ou com o tipo de som que queiram dar, percutidos com as mãos ou com varetas de madeira.

Os atabaques falam: São seres sagrados, dotados de força vital, e que somente os iniciados devem tocar. Os sons que eles emitem reproduzem as modulações da língua yorùbá, que apresenta três tonalidades: alta, média e grave. As frases rítmicas constituem uma espécie de onomatopéia; são as verdadeiras locuções que reproduzem versos, onde se exprime a natureza dos orixás chamados. Essa linguagem tem o poder de mobilizar o mundo sobrenatural. O som carrega asè, e o ritmo tem uma natureza idêntica à natureza do orixá. A mesma frase rítmica, assim como os mesmos versos são repetidos incansavelmente. Repetir a mesma sequência rítmica, o mesmo verso, é renovar a criação; daí o poder atribuído à linguagem dos tambores.

                  O maior dos três atabaques utilizados é o mais destacado, não só pelo seu tamanho, mas pelo que ele realiza. Ele é o solista, marcando os passos da dança com repiques e floreios. Só os mais experientes podem tocá-lo, e, na escala do aprendizado, ele é o último a ser percutido por quem deseja aprender a tocar, porque devem conhecer os momentos para os repiques que irão permitir que o Òrìsà, dançando, realize as variações nos movimentos que lembrarão as ondulações das águas de Òsun, as lutas e agilidade de Ògún e Sàngó, o ato da caça de Òsóò, o ninar da criança de Nàná, a extensão e beleza do arco-íris de Òsùmàrè, o balançar das folhas ao dançar com uma perna só por Òsányín ou o pilar do inhame por Òsàgiyán. Os atributos míticos dos Òrìsà são revelados desta forma.

É ele, ainda, que “dobra o couro”, avisando da chegada de visitantes ilustres, mudando o ritmo do momento, para um bater descompassado. Os dois, o intermediário e o menor, fazem o fundo sem variações maiores. É por eles que se começa o aprendizado e o desenvolvimentos do dom natural de tocar e memorizar.

Enfim, os ritmos musicais diferenciam as nações, não podendo ser misturados, e constituem sequências que não devem ser interrompidas. Permitem diferenciar facilmente três grandes grupos rapidamente identificáveis de orixás, que correspondem as três nações que já conhecemos: Ketu, Angola, Djeje e Ijexá. Por exemplo, os ritmos Ijexá são essencialmente consagrados a Òsún, a divindade de Òsògbò; mas Òsóòsi dança junto com ela, por ser seu marido, assim como Ògún "porque também passou por lá".



"O som é o condutor do Asè do Òrìsá, é o som do couro e da madeira vibrando que trazem os Òrìsás, são sinfonias africanas sem partitura."


Fonte: Awon omi Òsáàlá - José Beniste e Culto aos Orixás - Vivaldo da Costa Lima

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