terça-feira, 26 de julho de 2011

Nàná Buruku


Nàná Buruku ou Nàná Bùkùú é uma divindade muito antiga. É conhecida no Novo Mundo, tanto no Brasil como em Cuba, como a mãe de Obàluwàiyé - Omolu - Sapanà. É sincretizada  como Sant'Ana no Brasil e como Nossa Senhora do Carmo ou Santa Teresa em Cuba. Os colares de vidro, usados  por aqueles que lhe são consagrados, são na cor branca com listras azuis. Segundo uns, o seu dia é a segunda-feira, juntamente com seu filho Obalúwàiyè, segundo outros, na terça-feira, e ainda os que consagram o sábado, ao lado das outras divindades das águas. Seus adeptos dançam com dignidade que convém a uma senhora idosa e respeitável. Seus movimentos lembram um andar lento e penoso, apoioado num bastão imaginário que os dançarinos, curvados para a frente, parecem puxar para si. Em certos momentos, viram-se para o centro da roda e colocam seus punhos fechados, um sobre o outro, parecendo segurar um bastão.

Quando Nàná se manifesta numa de suas iniciadas é saudada pelos gritos de "Salúba!". Fazem-lhe sacrificios de cabra e galinhas-d'angola, sem utilizar facas.

É considerada a mais antiga das divindades das águas, não das ondas turbulentas do mar, como Yemojá, ou das águas calmas dos rios, domínio de Òsún, mas das águas paradas dos lagos e lamacentas dos pântanos. Estas lembram as águas primordiais que Odúduwà encontrou no mundo quando criou a terra.

Senhora de muitos búzios, Nàná sintetiza em si morte, fecundidade e riqueza. O seu nome designa pessoas idosas e respeitáveis e, para os povos Djedje, da região do antigo Daomé, significa “mãe”. Nessa região, onde hoje se encontra a República do Benin, Nàná é muitas vezes considerada a divindade suprema.

Sendo a mais antiga das divindades das águas, ela representa a memória ancestral do nosso povo: é a mãe antiga (Iyá Agbà) por excelência. É mãe dos òrìsás Iroko, Obaluwáiyè e Osùmàré, mas por ser a deusa mais velha do candomblé é respeitada como mãe por todos os outros òrìsás.

A vida está cercada de mistérios que ao longo da História atormentam o ser humano. Porém, quando ainda na Pré-História, o homem se viu diante do mistério da morte, em seu âmago irrompeu um sentimento ambíguo. Os mitos aliviavam essa dor e a razão apontava para aquilo que era certo no seu destino.

A morte faz surgir no homem os primeiros sentimentos religiosos, e nesse momento Nàná faz-se compreender, pois nos primórdios da História os mortos eram enterrados em posição fetal, remetendo a uma idéia de nascimento ou renascimento. O homem primitivo entendeu que a morte e a vida caminham juntas, entendeu os mistérios de Nàná.

Nàná é o princípio, o meio e o fim; o nascimento, a vida e a morte. Ela é a origem e o poder. Entender Nàná é entender o destino, a vida e a trajetória do homem sobre a terra, pois Nàná é a História. Nàná é água parada, água da vida e da morte.
Nàná é o começo porque Nàná é o barro e o barro é a vida. Nàná é a dona do asè por ser o Òrìsá que dá a vida e a sobrevivência, a senhora dos igbás que permite o nascimento dos deuses e dos homens.
Nàná pode ser a lembrança angustiante da morte na vida do ser humano, mas apenas para aqueles que encaram esse final como algo negativo, como um fardo extremamente pesado que todo o ser carrega desde o seu nascimento. Na verdade, apenas as pessoas que têm o coração repleto de maldade e dedicam a vida a prejudicar o próximo se preocupam com isso. Aqueles que praticam boas ações vivem preocupados com o seu próprio bem, com a sua elevação espiritual e desejam ao próximo o mesmo que para si, só esperam da vida dias cada vez melhores e têm a morte como algo natural e inevitável. A sua certeza é a imortalidade da sua essência.
Nàná, a mãe maior, é a luz que nos guia, o nosso cotidiano. Conhecer a própria vida e o próprio destino é conhecer Nàná pois os fundamentos dos Òrìsás e do Candomblé estão ligados à vida. A nossa vida é o nosso Òrìsá.
É na morte, condição para o renascimento e para a fecundidade, que se encontram os mistérios de Nàná. Respeitada e temida, Nàná, deusa das chuvas, da lama, da terra, juíza que castiga os homens faltosos, é a morte na essência da vida.

Características dos filhos de Nàná Burukú
 
Os filhos de Nàná são pessoas extremamente calmas, tão lentas no cumprimento das suas tarefas que chegam a irritar. Agem com benevolência, dignidade e gentileza. As pessoas de Nàná parecem ter a eternidade à sua frente para acabar os seus afazeres; gostam de crianças e educam-nas com excesso de doçura e mansidão, assim como as avós. São pessoas que no modo de agir e até fisicamente aparentam mais idade.
Podem apresentar precocemente problemas de idade, como tendência a viver no passado, de recordações, apresentar infecções reumáticas e problemas nas articulações em geral.
As pessoas de Nàná podem ser teimosas e “ranzinzas”, daquelas que guardam por longo tempo um rancor ou adiam uma decisão. Porém agem com segurança e majestade. As suas reações bem equilibradas e a pertinência das suas decisões mantêm-nas sempre no caminho da sabedoria e da justiça. Embora se atribua a Nàná um caráter implacável, os seus filhos têm grande capacidade de perdoar, principalmente as pessoas que amam. São pessoas bondosas, decididas, simpáticas, mas principalmente respeitáveis, um comportamento digno da Grande Deusa do Daomé.

Constatamos que os Oríkì para Nàná, colhidos em Keto e Abeokutá, cidades situadas na região leste da África, descrevem bem as suas diversas características definidas para o culto dessa divindade:

" Proprietária de um cajado.
Salpicada de vermelho, sua roupa parece coberta de sangue.
Orixá que obriga os fon a falar Nagô.
Minha mãe era inicialmente da região Bariba.
Água parada que mata de repente.
Ela mata uma cabra sem utilizar a faca."


Itan de Nàná

Nàná fornece a lama para a modelagem do homem

Dizem que quando Olorun encarregou Òsáàlá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o òrìsá tentou vários caminhos.
Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu.
Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura.
De pedra ainda a tentativa foi pior.
Fez de fogo e o homem se consumiu.
Tentou azeite, água e até vinho-de-palma, e nada.
Foi então que Nàná veio em seu socorro.
Apontou para o fundo do lago com seu ibiri, seu cetro e arma, e de lá retirou uma porção de lama.
Nàná deu a porção de lama a Òsáàlá, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nàná.
Òsáàlá criou o homem, o modelou no barro.
Com o sopro de Olorun ele caminhou.
Com a ajuda dos Òrìsás povoou a Terra.
Mas tem um dia que o homem morre e seu corpo tem que retornar à terra, voltar à natureza de Nàná Buruku.
Nàná deu a matéria no começo, mas quer de volta no final de tudo o que é seu.


Fonte: Orixás - Deuses Yorubás na África e no Novo Mundo - Pierre Fatumbi Verger
            Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi
            www.candomble.wordpress.com

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