Obará é um odu do oráculo de Ifá, representado no merindilogun com seis conchas abertas pela natureza e dez fechadas.
Odú ligado ao elemento Terra. É um Odú agitado e calmo ao mesmo tempo. Não se conformando com a sua simplicidade, lutou muito para progredir e conseguiu ser o mais atraente pela sua riqueza e prosperidade que adquiriu. A Obará atribui-se os lucros e a evolução rápida. Gera fartura e abundância. Este Odú rege a cabeça dos que são abastados ou os que trazem o sangue real. É o Odú da realeza.
Perfil das pessoas regidas por Obará, possuem grandes idéias e passam boa parte de sua vida tentando realizá-las e dificilmente encontram meios de como começar. Algumas vezes, ou na maioria, fracassam por não pedirem ajuda, porém todo o sofrimento não é duradouro, possuem espírito de luta e não se entregam facilmente. São batalhadoras e possuem o privilégio de muita proteção espiritual.
Significa que a pessoa é alegre, generosa, farta e tem o caminho de prosperidade, desde que procure sempre buscar a positividade deste Odu. Liderança e espiritualidade faz parte da sua vida.
Obara Meji é um composto de dois elementos Ar sobre Terra, com predominância do primeiro, o que indica a evolução atrávés da experiência adquirida na busca do objetivo pretendido.
Sua cores são o azul e o violeta. É um odu masculino, representado esotericamente por uma corda, em referência ao poder que possui de tudo levantar. Exprime a força, o poder e a possibilidade da realização humana.
Obara Meji, criou o ar e por extensão os ventos. Dele depende a existência dos bosques cheios de ramagens, das forquilhas e de todo tipo de bifurcações. Neste odu nasceram as riquezas, o costume de usar jóias, os mestres e o ensino. Aqui surgiu o adultério e neste Odu o ser humano aprendeu a mentir e a ser enganoso. Prenuncia expansão física e moral, regularização, alegria, ambição, questões relacionadas a dinheiro, processos em andamento, solução de problemas de ordem financeira.Os filhos deste Odu são pessoas alegres e festivas, carregadas de religiosidade e que gostam de observar e manter tradições. Um tanto quanto atraídas pela mentira, criam situações fantasiosas, nas quais acabam acreditando, como se fossem a mais pura verdade. Gostam de se envolver em problemas que não lhes dizem respeito, o que quase sempre acaba por deixa-los em situações delicadas. Devem cuidar-se muito bem, pois tem uma tendência muito forte pelas ações fantasiosas, o que pode deixar completamente loucas. Bem dispostas e alegres, são geralmente pessoas saudáveis e que se recuperam com facilidadede qualquer doença, usando para isto, recursos buscados em si mesmo. É um odu de prenúncios quase sempre positivos, muito embora seu aspecto negativo seja terrível e traga fatalidades como loucura, miséria total, traição e calúnia.
OBARA MEJI EM IRE:
Quando em Ire, Obara Meji pode indicar, principalmente: Aquisição de bens materiais de um modo geral, fim de um obstáculo que deve ser o último, expansão física e moral, ausência de enfermidades, evolução no sentido ascendente.
OBARA MEJI EM OSOGBO:
Em Osogbo, este odu pode indicar: deslealdade, imoralidade, orgulho nocivo, injustiças, libertinagem, adultério, maldade, filho adulterino, guerra em família de Santo. Quando em Osogbo arun, pode estar indicando uma das seguintes doenças: infecções do sangue, problemas circulatórios, atrofias musculares, apoplexia, desnutrição, problemas respiratórios, mania de grandeza, loucura. Neste odu falam os seguintes Òrìsás (Nagô): Sangò, Osóòsi, Logun Edè, Ori, Yànsán.
SENTENÇAS DE OBARA MEJI:
(1) O porco-espinho espetou a fêmea do leopardo e o leopardo não pode fazer nada contra ele (se o consulente sofreu algum dano causado por alguém mais poderoso que ele, é melhor deixar como está, pois qualquer atitude que venha a tomar, só agravará a situação de forma desfavorável para ele);
(2) O bem estar que encontramos na água fresca, e o peixe que vem buscar fora delapara nela depositar. (a casa do consulente é pobre, mas tornará rica pelo seu esforço e merecimento. Se o consulente for rico, deverá oferecer sacrifícios para que a fortuna não o abandone);
(3) Sem a lama está misturada a água do rio, o peixe Zoken, que tem os olhos claros, verá o que se passa no fundo. (O consulente descobrirá coisas que se passam em sua casa e que lhe são ocultas.);
(4) A mulher que come de duas mãos, acabará encontrando a morte... (*) (se a mulher do consulente estiver enganando-o, morrerá praticando adultério.)
ITAN DE OBARA MEJI
(1) Ifá e o Male (Muçulmano) eram amigos. Um dia Male disse a Ifá: “Vou procurar uma mulher grávida, se ela concordar, será instalada em minha casa, pra que não tenha contato com mais ninguém. Se esta mulher parir uma menina, eu a criarei para que seja minha esposa: sou muito ciumento para casar-me com uma mulher de cuja inocência não tenha absoluta certeza. Indo ao mercado, ele encontrou uma mulher grávida, que concordou em colaborar com seus planos. Passado algum tempo a mulher deu à luz uma linda menina, para alegria do Male. O muçulmano ficou muito contente e logo pôs-se a pensar: “Como poderei evitar que olhos masculinos vejam esta menina, até o dia em que possa desposa-la!” Depois de muito pensar, decidiu construir uma casa dentro de sua própria casa e ali instalar mãe e filha. Nenhum homem, nem mesmo ele, tinha acesso a menina, que cresceu rapidamente. Quando a jovem completou dez anos, sua mãe abandonou a casa, deixando-a sozinha. Enquanto isso, Ifá contava os anos de idade da menina. Um dia, achando que ela já deveria estar suficientemente grande, foi visitar Male e chegando a sua casa, entrou saudando-o cordialmente. Depois da visita, Ifá pôs-se a pensar: “Como é que pode? O muçulmano contratou uma mulher grávida que pariu uma menina, esta menina jamais viu ou foi vista por qualquer pessoa do sexo masculino! Nem mesmo Metolõfi, o rei de nosso país, viu a criança. Mas eu vou tentar vê-la!”. Munindo-se de seus instrumentos divinatórios, fez a consulta, surgindo Obara Meji, que lhe recomendou que tomasse uma caixa, akasá, um galo, azeite de dendê e fizesse uma oferenda a Legbá. Feito isto, teria que entrar na casa de Male e trancá-la por dentro com a chave. Ifá preparou tudo e foi a casa do amigo. Lá chegando saudou-o: “Salamaleikun!” E o muçulmano respondeu: “Alakumasala!”. Ifá disse então: “kalafi!” Male respondeu: “Laafia!” Ifá, entrando no quarto do amigo, disse: “amanhã partirei em viagem, gostaria de confiar-lhe a caixa de meu tesouro. Minha mulher preferida lhe entregará a caixa, para que você a guarde em lugar tão seguro que nenhum homem possa encontrá-la. “Como não?” disse o Marabú. “Não somos amigos? Quando partirás?” - “Dentro de três dias e só voltarei daqui a três meses”. No terceiro dia pela manhã, Legbá disfarçado na esposa preferida de Ifá, foi a casa de Male e disse: “meu marido encarregou-me de procurá-lo para entregar-lhe a caixa que se encontra embrulhada nestes panos. Ele virá buscá-la dentro de três meses, quando regressará da viagem. Male chamou a escrava que cuidava da menina, para que guardasse a caixa na casa onde vivia a jovem, mas a caixa era por demais pesada e a mulher não pode carregá-la. Diante do impasse, Male resolveu levar ele mesmo a caixa para o quarto da jovem e ao fazê-lo, viu-a pela primeira vez, saindo em seguida e trancando por fora todas as portas. Ifá, que mantinha-se escondido dentro da caixa, vendo Male sair, trancou por dentro a porta do quarto da jovem e avistou-a, saudou-a, no que foi correspondido.“Você me conhece?” perguntou. “Não!” retrucou a moça. Ifá então colocou-se a vontade e começou a divertir a moça, depois, deitando-se com ela, possuiu-a. Isto feito aconselhou a jovem a lavar-se com água morna, no que foi atendido. Ifá só se alimentava de obi. Na hora da refeição, vendo-o comer somente nozes de cola, a moça perguntou por que não se alimentava das mesmas coisas que ela? e Ifá respondeu: “Eu como feijão sem pimenta, carne defumada, peixe defumado, tudo temperado com lelekun. A jovem ordenou então as servas que não mais pusessem pimenta na comida. Os alimentos passaram desde então a ser preparados com lelekun, Ifá revelou então, que não come cabrito da forma simples que todo mundo prepara e que também não se lava como as outras pessoas. Finalmente, a jovem ficou grávida e Male de nada desconfiou. Como estivesse próximo de findar-se o terceiro mês, Ifá disse a moça: “se o muçulmano lhe indagar sobre sua barriga, não fale nunca no meu nome. Findo, o terceiro mês, Ifá encerrou-se novamente na caixa, que a moça embrulhou nos panos, da mesma forma que viera. Legbá, novamente disfarçado na mulher de Ifá, apresentou-se ao Male dizendo: “meu marido chegou de viagem e pediu viesse buscar sua caixa, assim que se sinta descansado, virá agradecer pessoalmente pelo grande favor prestado. Depois de seis meses, o muçulmano resolveu tomar a jovem como mulher. Lavou-se cuidadosamente, vestiu um belíssimo búbú que lhe havia presenteado Ifá, entrou no quarto e encontrou a moça com uma enorme barriga... Quase sufocado exigiu explicações. “Eu pensava que todas as barrigas deveriam crescer como a minha... não sei como são as coisas do lado de fora desta porta!”. Male correu a contar o acontecido ao rei, que surpreso, mandou que cuidasse do parto, já que havia uma gravidez. O dia do parto chegou, a criança, antes de nascer, tinha que ouvir o nome do pai pronunciado por sua própria mãe. O Marabu não conseguia entender o que se passava. A mulher gemia e contorcia-se em dores. A criança teimava em não nascer. Foi então que resolveu pedir os conselhos deseu amigo Ifá. Ifá consulta e surge novamente Obara Meji, exigindo que uma perna de antílope seja sacrificada. O pernil é cortado em sete partes que depois de cozidos, são entregues, uma a Mawu, uma a Metolõfi, uma a Mingã e é Ifá o encarregado de fazer estas oferendas. O quarto pedaço, é oferecido a esposa preferida do Male, o quinto, a esposa preferida de Ifá , o sextoao Bokono e o último a parturiente, levado pelas mãos de Ifá. Ao receber a oferenda, a mulher cheia de dores, perguntou: “Quem me envia esta carme? - “É Ifá quem te oferece!”- “ Ifá? Que Ifá?” - “O que disse?” Perguntou Ifá. - “Ifa!” - “O que?” - “Ifá! Eu falei Ifá! Foi Ifá que me deu esta carne!”Quando a mulher acabou de falar, a criança, ouvindo o nome de seu verdadeiro pai, resolveu sair para o mundo... e era o retrato de Ifá.
Male ficou desconfiado com tudo o que acabara de assistir e aborrecido, levou oproblema ao conhecimento do rei Metolõfi que, achando tudo muito natural, aconselhou o muçulmano a deixar de desconfiar do amigo. Um belo dia, Ifá convocou todas as pessoas, inclusive Male e disse a todo o mundo: “Hoje lhes farei uma revelação. A mulher do muçulmano, que recentemente deu a luz uma criancinha... “e revelou todo o segredo que envolvia aquele nascimento. Depois concluiu “Qualquer mulher, mesmo se a prenderem dentro de quarenta caixas, encontrará um dia, um homem. E um ser no qual não se deve confiar e ao qual não se dever revelar segredos. As mulheres são pouco mais que os animais!”
A LENDA da RIQUEZA do ODÚ OBARÁ
Eram dezesseis irmãos:
Okaran, Ejioko, Etaogundá, Yorosum, Osé, Odí, Ejionile, Ossá, Ofum, Owarin, Ejilaseborá, Ejiojoban, Iká, Obetagundá, Aláàfia e OBARÁ. Entre todos OBARÁ era o mais pobre, vivendo em uma casinha de palha no meio da floresta, com sua vida humilde e simples. Um dia os irmãos foram fazer a visita anual ao bàbálawo para fazer suas consultas, e prontamente o bàbálawo perguntou: "Onde está o irmão mais pobre?" Os outros irmão disseram-lhe que havia se adoentado e não poderia comparecer, mas na verdade eles tinham vergonha do irmão pobre. Como era de costume o Bàbálawo presenteou a cada irmão com uma lembrança, simples, mas de coração e após a consulta foram todos a caminho de casa.
Enquanto caminhavam, maldiziam o presente dado pelo Bàbalawo... "Morangas? Isso é presente que se dê? abóboras?" A noite se aproximava e a casa de OBARÁ estava perto, resolveram então passar a noite lá. Chegando a casa do irmão, todos entraram e foram muito bem recebidos, OBARÁ pediu a esposa que preparasse comida e bebida a todos, e acabaram com tudo o que havia para comer na casa. O dia raiando os irmãos foram embora sem agradecer, mas antes lhe deixaram as abóboras como presente, pois se negavam a comê-las. Na hora do almoço, a esposa de OBARÁ lhe disse que não havia mais nada o que comer, apenas as abóboras que não estavam boas, mas OBARÁ pediu-lhe que as fizesse assim mesmo.
Quando abriram as abóboras, dentro delas haviam várias riquezas em ouro e pedras preciosas e OBARÁ prosperou. Tempos depois, os irmãos de OBARÁ passavam por tempos de miséria, e foram ao Bàbálawo para tentar resolver a situação, ao chegar lá escutaram a multidão saudando um príncipe em seu cavalo branco e muitos servos em sua comitiva entrando na cidade, quando olharam para o príncipe perceberam que era seu irmão OBARÁ e perguntaram ao Bàbalawo como poderia ser possível e ele respondeu:
"Lembram-se das abóboras que vos dei? Dentro haviam riquezas em pedras e ouro, mas a vaidade e orgulho não vos deixaram ver e hoje quem era o mais pobre tornou-se o mais rico."
Foram então os irmãos ao palácio de OBARÁ para tentar recuperar as abóboras e lá chegando, disseram a OBARÁ que lhes devolvessem as abóboras e OBARÁ assim o fez, mas antes esvaziou todas e disse: Eis aqui meus irmãos, as abóboras que me deram para comer, agora são vocês que as comerão. E quando o Bàbálawo em visita ao palácio de OBARÁ lhe disse: "Enquanto não revelares o que tens, tu sempre terás." E foi assim que se explica o motivo que quem carrega este Odú não pode revelar o que tem pois corre o risco de perder tudo, como os irmãos de OBARÁ.
Fonte: Sistema oracular - Merindilogun (Leo ti Yemoja) Copyright © 2011 Scribd Inc.