terça-feira, 24 de maio de 2011

As dificuldades de um Sacerdócio sério


"Sobre Zeladores não li ainda nenhum estudo ou pesquisa que tenha como interesse o que é que motiva alguém a ser Zelador de Orixá.
Muitas são as razões pelas quais alguém se envolve na Religião de "Traição" dos Orixás: Problemas de saúde, de caminho, tradição de família, etc.
Mas, daí a esta pessoa se transformar em um Zelador, há um mistério. Muitos darão a este mistério o nome de “Chamado”, “Missão”, “Sina”, “Karma” ou outra coisa qualquer.
O fato é que muitos empregam esforços e recursos incalculáveis para levar adiante a sua fé. Acreditam com tanta convicção que dedicam suas vidas – e invariavelmente a de suas famílias e pares – a zelar, cuidar, amparar, proteger, auxiliar, ter todo o tempo do mundo, alimentar, curar, dar caminhos a pessoas que nunca viram na vida, que nunca fizeram o menor esforço para a edificação daquela Obra, pelo simples fato de que eles acreditam que qualquer ser humano pode- e deve- ser ajudado.
São guerreiros! Não medem esforços para nada. Altruístas! Desperdiçam grande parte- senão toda – parte de sua juventude e saúde, servindo a outros, sempre em detrimento de si mesmo ou de sua família. São perdulários! Gastam tudo o que têm – e muitas vezes o que não têm – comprando terrenos, fazendo obras – que não terminam nunca – ajudando aos outros, fazendo ebós, ìyáwòs e mais ìyáwòs sem grana, o fósforo, o gás, a conta de luz, o iptu, a prestação dos bichos da última obrigação. Fazem das tripas coração para que tudo ande bem, para que tudo corra bem, para que nada falte em sua Casa. Parece que têm um banco 35 horas à sua disposição.
Dormem pouco, preocupados, tensos, insatisfeitos sempre, porque o “fulano” ainda não arrumou emprego, porque a “sicrana” ainda não casou, porque a criança ainda não ficou boa da última gripe que teve.
Se alimentam mal, engolem sapos, lagartos, e tudo o que não deveria, para que tudo, sempre corra bem. Carregam nas costas o peso e a responsabilidade dos pecados que seus filhos praticam neste mundo. Se algo de mal lhes acontece – Deus é mais! – a culpa é sempre sua.
Afinal, o Zelador não olhou direito. No último ebó, era para ter colocado 300 gramas de farinha e ele só colocou 287 gramas. Na feitura, faltaram 3 galhos de arruda e 2 folhas de guiné. Faça o que faça, a culpa é sua, sempre! Isso quando não dizem coisas piores.
Mas, enfim, o que eu quero saber mesmo, é o que faz alguém, em sã consciência, se meter numa enrascada dessas??"


Postagem Ogan Jaçanã na comunidade Candomblé - aqui sou feliz!


Respondendo o questionamento do Ogan Jaçanã, o que leva uma pessoa a ser um PDS / MDS ? Todavia, não enxergo como enrascada, apesar das dificuldades que encontramos no caminho.

Ser um Sacerdote dentro do Candomblé nos dias de hoje, tem sido cada vez mais difícil; principalmente quando se tem a pretensão de levar à religiosidade dentro de moldes sérios de conduta moral, ética, litúrgica e tradicional. Temos esbarrados com inúmeras situações, que muitas das vezes, o desânimo acaba por nos atingir. Porém, acredito que dificuldades iguais também foram encontradas pelos Zeladores(as) mais velhos.
Não sei se a palavra seria "escolha", acredito que somos movidos por uma consciência empírica, e por um pré-destino, e temos apenas a opção de escolher entre fazermos um sacerdócio medíocre e o sacerdócio sério e comprometido.
Mas, para mim, a palavra de ordem que faz uma pessoa, adentrar nesse caminho é simplesmente o Amor ao Sagrado... o Amor incondicional aos Òrìsás... o amor como complemento soberano da própria identidade do Zelador(a); sem esses ingredientes imprescindíveis, nenhuma pessoa normal, aturaria em sã consciência as dificuldades existentes dentro do sacerdócio (e olha que são inúmeras!).
Não vejo o sacerdócio como obrigação, mas sim, como ancestralidade e vocação latente!

Um comentário:

  1. Realmente imagino o quanto deve mesmo ser difícil exercer este Sacerdócio. Mas também imagino as bençãos e as maravilhas quando bem exercido!
    O amor ao próximo e principalmente o amor e o respeito à Fé são de extrema importância nesta "empreitada" que a vida reserva aos que são "escolhidos".
    Parabéns pelo texto. A cada dia respeito e admiro mais o Candomblé.
    Obrigada por esta oportunidade!
    Beijinhos
    Li

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