sábado, 30 de abril de 2011

DA SENZALA AO TERREIRO: O SIGNIFICADO DA FESTA PARA OS NEGROS



Desde os tempos da Colônia, quando os negros viviam em suas senzalas sob o tacão de chicotes, festa, dança e êxtase sempre estiveram associadas, chegando mesmo a apresentar-se como uma característica da raça negra. Alguns historiadores aduzem que, graças a esses três elementos, o negro conseguiu manter sua cultura no seio de uma realidade tão aterrorizadora como a escravidão.
Para quem vivia nesse ambiente hostil, o momento da festa servia como descanso, devoção, lazer, renovação de ânimo e perpetuação de valores, conquanto distantes de seu torrão natal.
O africanista Nina Rodrigues, em seu livro Os Africanos no Brasil, destaca a importância da festa e da dança na cultura negra ao descrever que “ao som de ruidosos tambores e das melopéias africanas, tão monótonas, passavam os negros noites inteiras e às vezes dias a fio em trejeitos e esgares coreográficos, em danças e saltos indescritíveis” (Rodrigues, 1977:155).
Ressalta, ainda, o autor que música, dança, gesto e mímica funcionavam igualmente como forma de linguagem, à medida que substituíam a palavra, tornando-se, assim, um dos únicos meios que os negros tinham para se fazer compreender.
Diferentemente de Nina Rodrigues e Arthur Ramos, que atribuíam um certo primitivismo ao negro brasileiro, Gilberto Freyre traça, em Casa Grande & Senzala um paralelo entre índios e negros. Apoiado em Pitt-Rivers, “confronta as danças dos negros com a dos índios, salientando naquelas a espontaneidade de emoção exprimida em grandes efeitos de massa sem rigidez nenhuma de ritual com o compassado e o medido das danças ameríndias” (Freire, 2001:348).
Segundo Freyre (2001:348), as danças ameríndias assumem um caráter puramente dramático. “Apolíneos, diria Ruth Benedict, a quem devemos estudos tão interessantes sobre os povos que denomina apolíneos, em oposição aos dionisíacos”. Esse contraste é facilmente distinguível nos xangôs afro-brasileiros: “ruidosos, exuberantes, sem nenhuma repressão de impulsos individuais; sem a impassibilidade das cerimônias indígenas”.
Todavia, é com Édison Carneiro e Manoel Querino que o culto afro-brasileiro começará a receber um tratamento especial, pois ambos, sendo negros, descrevem de maneira própria a culinária, as festas, as situações quotidianas e os hábitos culturais dos cultos afro-brasileiros.
Para Carneiro (1977:18), o surgimento dos candomblés data aproximadamente da primeira metade do século XVIII. O processo de surgimento do culto organizado não floresceu na zona rural, pois para mantê-lo, o negro necessitava de dinheiro e liberdade, o que só aconteceria nos centros urbanos: “a concentração de negros nagôs na Bahia, em fins do século XVIII, quando os mineradores, desinteressados das minas já não precisavam dos negros procedentes da Costa da Mina, nem se dispunham a pagar os altos preços que os traficantes por eles pediam”, foram responsáveis pela organização do culto, juntamente com algumas divindades dos jêjes, que professavam uma religião próxima à dos nagôs.
No início, as práticas rituais urbanas eram realizadas por etnias, em locais que recebiam o nome de “terreiros” ou “barracões”. Para Marlene Cunha (1986:46), “o terreiro aparecia assim, como uma nova forma de relação do indivíduo com a terra, porém, em condições urbanas. Ele vem justamente substituir a roça, a terra das pessoas que se deslocam da zona rural para a urbana”.
Tais práticas, hoje comumente chamadas “Festas dos Orixás”, foram descritas por vários autores, cabendo, contudo, à Rita de Cássia do Amaral, dar um maior relevo ao tema da festa e ao conjunto de valores que dela emerge, a ponto de influenciar o que denominou de estilo de vida do povo-de-santo.
Segundo Amaral (1992), o elemento festivo começa com a idéia de que os deuses vêm a terra para dançar, “comer” e vestir belas roupas, o que parece influenciar a visão de mundo do povo-de-santo:
E é assim que se justifica o apelo da música, da festa e dos prazeres sensuais para o povo-de-santo que é fortemente ligado a eles, seja no candomblé, no pagode, na escola de samba, no futebol, no afoxé, ou feijoadas e peixadas de fim de semana, etc. Ao mesmo tempo, há uma consciência de que todo esse ludismo, essa alegria, têm seu preço em termos de trabalho, dinheiro, empenho e dedicação envolvidos. E sendo assim, a avaliação da qualidade e beleza desses eventos é feita, como observou Bourdieu (1983) tendo como padrão de referência o trabalho, a dedicação e custos envolvidos. O tempo e o número de pessoas envolvidas. Cria-se, a partir desses valores um habitus, cuja fórmula generativa é dada por eles que, por sua vez, criam um gosto específico (Amaral, 1992:167).
A festa no candomblé, portanto, assume uma dimensão social, que rege os mais diversos aspectos da vida dos membros do grupo, dentro ou fora do terreiro, contribuindo para imprimir à vida um caráter festivo.



Fonte: Prof. Dr. Tadeu dos Santos - UNIMES/UNISANTA

sexta-feira, 29 de abril de 2011

CANDOMBLÉ: FÉ E CORPO


Podemos dizer, que o Candomblé ainda guarda em suas tradições o princípio da festa proposto por Durkheim e Burke: superação das distâncias entre os indivíduos, produção de um estado de efervescência coletiva e transgressão das normas coletivas, subvertendo a ordem contemporânea, calcada numa “ética pequeno-burguesa”, e enquadrando-se naquilo que Roberto DaMatta denominou “festas da desordem”.

Graças à essa efervescência, à superação da individualidade e à transgressão das normas coletivas — ingredientes essenciais da festividade —, as festas constituem um ingrediente essencial à vida humana. “Sua perda afeta as raízes do homem no passado e rebate o seu avanço para o futuro. Entorpece sua sensibilidade psíquica e espiritual” (Cox, 1974:31).

Ser feliz, portanto: eis a verdadeira missão do homem na terra, segundo os cânones do Candomblé. E para que isso aconteça, é necessário cultuar seu orixá e festejar sua descida a terra.

No culto afro-brasileiro, os deuses assemelham-se aos homens, municionados de virtudes e defeitos. Nas narrativas mitológicas, os orixás são preguiçosos, namoradores, pacientes, invejosos, impetuosos e vingativos.

Disso se pode concluir que a ética no Candomblé não pressupõe fazer com que o indivíduo passe a enxergar o mundo com olhos outros: “Quando alguém abraça o candomblé como religião, não é necessário que se opere mudança em sua maneira de se ver estar-no-mundo” (Prandi,1991:213). Ao contrário: busca ele aqui, no próprio mundo, os meios necessários para atingir a felicidade, aliás, única missão do homem na terra.

Diversamente do que se passa com outras religiões, o adepto do candomblé necessariamente não internaliza valores morais com o objetivo de atingir um outro mundo, além deste em que vive. As regras que aprende no terreiro relacionam-se com a forma com que se deve portar nesse espaço, razão pela qual se faz possível compreender a ética no candomblé como sendo a viabilização de si mesmo, pautada numa relação de conduta entre o fiel e seu orixá, seus parentes-de-santo e com a casa de candomblé.

Assimiladas tais regras de conduta, percebe-se claramente que a ética no candomblé se constrói pela experiência vivida no cotidiano do terreiro. A essa experiência — advinda, conseqüentemente, com a apreensão de tal “ética” —, contrapõe-se e complementa-se o corpo, elemento concreto, que deixa exposto, na própria carne, por meio de incisões e cortes, a sabedoria afirmada no processo de iniciação e o ingresso no grupo. E é no corpo e com o corpo que o adepto passa a atuar — síntese dos elementos estéticos que a ele acompanham: indumentárias, cores, comidas, objetos sagrados.

O corpo no candomblé não é, portanto, apenas um veículo da alma ou um receptáculo que contém algo etéreo — espírito, alma —, mas, como destacou Juana E. dos Santos (2001:44), “no candomblé, ele é concebido como um verdadeiro altar vivo, e em comunicação contínua com o mundo da natureza que o abrange. A sua forma, as suas cores, a sua postura o ligam à natureza”.


Fonte: Prof. Dr. Tadeu dos Santos - UNIMES/UNISANTA

Ética no Candomblé, Cuidado com os caça-cabeças!!!

Cuidado com os “caça-cabeças”.


Para aquele que nunca ouviu a expressão “caça-cabeças”, saiba que ela é usada para indicar dentro da linguagem do povo de santo, os zeladores(as), ou pessoas que se dizem da religião, que ficam por aí fazendo de tudo para ter pessoas dentro de suas casas de candomblé, sem usar a ética religiosa, falando em nome do Òrìsá, para o mau exercício da religião.

Em todas as crenças existem pessoas boas e ruins, não estou aqui para falar mal da minha religião, quero simplesmente alertar, você abiyan, ìyáwò ou até mesmo, egbomi, que pensa em sair da sua casa de candomblé, por conversas de outras pessoas, abaixo eu listei algumas atitudes que você deve ficar atento:

Cuidado com...

- Pessoas que se aproximam de você e começam falar mal de seus zeladores, sem mesmo os conhecerem;

- Falam também que você pode ter sido “feito” errado e por isso sua vida está com algum problema, e prometem que vão dá um jeito;

- Te oferecem tudo para fazer o santo, até mesmo cargos;

- Geralmente essas pessoas saíram das casas de seus pais de santo, com brigas e desavenças, ou mesmo fizeram irmãos de santo e clientes acreditarem que suas casas eram melhores;

- E acreditem, eles não respeitam ninguém, seu objetivo é ter seguidores para assim alcançar um status. Status esse, que se pode chegar com um trabalho sério e dedicado, sem precisar usar a famosas malandragem;

Aos recém chegados no Candomblé fica a mensagem: Não se deixe iludir por pessoas que prometem mundos e fundos, o Candomblé tem uma mensagem muito especial, é acima de tudo uma filosofia de vida e não a resolução para todos os seus problemas. Você que tem um ou dois anos de santo, pare sua cabeça e pense se você já conhece tão bem o Òrìsá, a ponto de julgar o que é certo ou errado. Seja amigo do seu zelador(a), é lógico que muito fácil acreditar em quem está fora da situação, afinal santo de casa não faz milagre, só que tudo tem uma conseqüência e muitas vezes não tem volta.

"Desde de pequeno eu vi, muitos desses “caças-cabeças”, surgirem e desaparecerem como em um piscar de olhos, e por que? Porque não tinham ética religiosa. E pra você zelador ou zeladora, não se tornar um deles, tenha cuidado, quando um ìyáwò chegar em sua casa, saiba da onde a pessoa vem, porque saiu da casa de santo do seu antigo zelador, isso é muito importante. Conseguimos com isso minimizar muitas dores de cabeça."

 



Bom esse assunto é polêmico e poderíamos falar disso durante horas, afinal esse tipo de malandro(a) não aparece só no contexto religioso, aparece em todos os ramos da vida.
Estamos vivendo uma epidemia desse tipo de Zeladores(as), que fazem uma busca desenfreada por "cabeças", sem a menor ética, decência, idoneidade ou caráter. Será que em nenhum momento, esse tipo de gente, não percebe ou analisa que estão "firmando" as suas casas baseada na mentira e no mau caratismo? Pegar ìyáwòs "prontos" de outras casas, é coisa de gente pequena, que não tem um propósito religioso, nenhuma diretriz ou conduta moral, e só se limitam a carregar os títulos sem fazer a honra devida aos seus Oyès. Existem aqueles que apenas servem-se ou tentam servir-se da religião para seus próprios interesses. Não esclarecem nem difundem os sublimes ensinamentos e metas do astral superior; pregam ritualísticas sem base moral, sem fundamento; sustentam-se vaidosamente seus egos, dos que "arrecadam"  de zeladores(as) sérios(as) e comprometidos(as) com o seu Sagrado. 

Quanto esses elementos que insistem em esconder os problemas na religião, fazem-no porque, pegando o que é dos outros, acabam ridiculamente sentindo-se mais fortes, porém, estão camuflando as aberrações ético-morais de si mesmos, contaminados pela má conduta, a falta de caráter e a desonestidade repelidas pela religião. Para esses, somente a misericórdia dos Deuses!!

E para os ìyáwos, que pensam que filiando-se ou cercando-se desse tipo de gente, estarão acrescentando algo nas suas vidas espirituais,  nada será acrescido. Suas páginas permanecerão em branco, e deixarão de escrever suas verdadeiras histórias espirituais. Até porque, em sua maioria, foi o próprio Òrìsá dessas pessoas, que escolheu as mãos dos seus zeladores(as). Não entendo, como após a concretização da iniciação, esses filhos começam a colocar impasses e defeitos? É claro que toda regra há exceção! Existem "casos" e "casos", porém, partimos do princípio básico, que não existem erros por parte dos Òrìsás, pois "Eles" sempre sabem o que é melhor para seus filhos(as). Aonde estão esses Òrìsás que sabem chegar na cabeça dos seus filhos, para se colocarem sob os cuidados daqueles zeladores(as), e que  como "passe de mágica" acabam sendo coniventes com a "vontade" dos seus filhos(as) de saírem dos seus Asès, na maioria das vezes sem a menor justificativa??  Acredito que o "Òrìsá inquizilado", tem que falar para o seu respectivo zelador(a), o motivo da sua kizila, e  não, externar a sua kizila para outros que em nada  contribuíram para a sua iniciação, fato que ocorre comumente nos dias de hoje. Esquecendo-se principalmente, do juramento (Kàró)  de fidelidade e compromisso assumidos por conta da sua iniciação. 

"O juramento foi em vão ou existe Judas dentro da religião do Candomblé??" A pergunta que não quer calar!!






A tradição oral do Candomblé, repassada pelos versos de Ifá, o adivinho, pode ser condensada em 16 odus, ou caminhos, a ser seguidos por todo aquele que cultua Òrìsás. Ei-los:


Ifá nos aconselha:

1º - ÒKÀNRÀN: Não fazer mal a ninguém.
2º - ÉJÌ ÒkÒ: Não sentir ódio nem destratar o outro.
3º - ETÁ ÒGÚNDÁ: Não guardar sentimentos de vingança.
4º - ÌRÒSÙN: Não fazer armadilhas nem caluniar.
5º – ÒSÉ: Não invejar nada nem ninguém.
6º - ÒBÀRÀ: Não mentir.
7º - ÒDÍ: Não corromper nem se deixar ser corrompido.
8º - ÈJÌ ONÍLÈ: Usar bem a cabeça neste mundo e respeitar os segredos alheios.
9º - ÒSÁ: Não ser falso com o próximo.
10º - ÒFÚN: Não roubar, não jurar em falso nem amaldiçoar.
11º - ÒWÓNRÍN: Não matar, não arruinar a vida de outros e ser grato ao bem que nos façam.
12º - ÈJÌLÁ SEBORÁ: Evitar os escândalos e as tragédias.
13º - ÈJÌ OLÓGBON: Respeitar os Ancestrais.
14º - ÌKÁ: Não espalhar doenças, a corrupção e a maldade sobre o mundo.
15º - ÒGBEGÚNDÁ: Respeitar aos mais velhos, as crianças, o pai e a mãe.
16º - ÀLÀÁFÍÀ: Ouvindo estes conselhos não sentirá vergonha no dia que tiver que se apresentar perante Olódùmarè!




"Esse povo só não dá a cabeça a sapo , porque ele não estica o braço" by Pai Otávio de Omolu

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Òsún - A Rainha de todos os rios




Òsún  é a divindade do rio do mesmo nome que corre na Nigéria, nas regiões Ijesá e Ijebú. Era, segundo dizem, a segunda mulher de Sangò, tendo vivido antes com Ògún, Òrúnmilà, e Osóòsi, seu pai teria sido Osáàlá. As mulheres que desejam ter filhos dirigem-se a Òsún pois ela, com efeito controla a fecundidade, graças aos laços mantidos com Iyami-Ajé, "Minha Mãe Feiticeira". Sobre esse assunto, uma lenda conta que "quando todos os Òrìsás chegaram à terra organizaram reuniões onde as mulheres não eram admitidas. Òsún ficou aborrecida por ser posta de lado e não poder participar de todas as deliberações. Para vingar-se, tornou as mulheres estéreis e impediu que as atividades desenvolvidas pelos deuses chegassem a resultados favoráveis. Desesperados, os Òrìsás voltaram a Olodùmàrè e explicaram-lhe as coisas iam mal sobre a terra. Olodùmàré perguntou se Òsún participava das reuniões e os Òrìsás responderam que não. Olodùmàrè explicou-lhes então que que, sem a presença de Òsún e do seu poder sobre a fecundidade, nenhum de seus empreendimentos poderiam dar certo. De volta à terra, os Òrìsás convidaram Òsún para participar de seus trabalhos o que ela acabou por aceitar, depois de muito lhe rogarem. Logo em seguida, as mulheres tornaram-se fecundas e todos os projetos obtiveram felizes resultados".
 
Òsún é chamada de Ìyálodè, título conferido à pessoa que ocupa o lugar mais importante entre todas as mulheres da cidade. Os asés de Òsún constituem-se de pedras do fundo do rio do mesmo nome, de jóias de cobre e de um pente de tartaruga.
O amor de Òsún pelo cobre - metal mais precioso do país Yorubá nos tempos antigos - é mencionado nas saudações que lhe são dirigidas:

"Mulher elegante que tem jóias de cobre maciço.
É uma cliente dos mercadores de cobre. Òsún limpa suas jóias de cobre antes de limpar seus filhos".

Numerosos lugares profundos, Ibus, entre Igedê, onde nasce o rio, e Leké, onde eles deságuam na lagoa, são os locais de residência de Òsún.

Aí, ela é adorada sob nomes diferentes e suas características são distintas umas das outras. Encontramos:

sún Ijimun, como a que vem a seguir, está em estreita ligação com as Ajés; Òsún Ayalá ou Òsún Yanlá, a Grande Mãe (a Avó) que foi a mulher de Ògún; Òsún Osogbò, cuja fama é grande por ajudar as mulheres a ter crianças; Òsún Opará, a mais jovem de todas, de gênio belicoso;
Òsún Ìyáboto, muito feminina e elegante;
Òsún Abalú, a mais velha de todas;
Yeye Ipetú;
Yeye Ipondá, guerreira;
Yeye Kàrè, muito guerreira;
Òsún Popolokun, cujo culto é realizado próximo à lagoa e que, diz-se no Brasil, não sobe à cabeça das pessoas".
Apesar de todos esses nomes e características diversas é sempre a única e mesma Òsún.
Sobre
Òsún Ayalá, também chamada de Òsún Yanlà,  diz-se que era uma mulher poderosa e guerreira que ajudava Ògún Alagbedé, seu esposo, na forja, na mesma maneira que Oyá, como vimos em outras lendas... . Ogún forjava e, quando o ferro começava a esfriar, ele o colocava no fogo, atiçado por Òsún que fazia funcionar os foles em cadência. O barulho que eles faziam "kutu, kutu, kutu", era tão ritmado que parecia que Òsún tocava um instrumento de música. Um Egungun que passava pela rua se pôs a dançar, inspirado pelos sons que provinham dos foles. Os passantes maravilhados testemunharam seu contentamento oferecendo dinheiro a Egungun. Este, muito honestamente, ofereceu metade da soma recolhida a Òsún, a Avó, o que lhe valeu ser denominada de:

"Tocadora de música num fole para fazer dançar Egungun.
Proprietária de um fole que sussurra como a chuva, e cuja tosse ressoa como explode o cobre e como urra o elefante".

Laços muito estreitos existem entre
Òsún e os reis de Osogbo. Neste lugar, a festa anual das oferendas a Òsún é uma comemoração pela chegada de Larô, fundador da dinastia, às margens deste rio cujas águas correm permanentemente. Larô, depois de muitas atribulações, achando o lugar favorável ao estabelecimento de uma cidade, aí se fixou com sua gente. Alguns dias depois de sua chegada, uma de suas filhas foi se banhar num rio e se perdeu sob as águas. Reapareceu no dia seguinte, soberbamente vestida, declarando ter sido muito bem acolhida pela divindade do rio. Larô, para demonstrar sua gratidão, dedicou-lhe oferendas. Numerosos peixes, mensageiros da divindade, vieram comer em sinal de aceitação, as comidas que Larô havia jogado nas águas. Um grande peixe que nadava próximo ao local onde este se encontrava cuspiu-lhe água. Larô recolheu esta água numa cabaça e bebeu, fazendo assim um pacto de aliança como rio. Estendeu, depois, as duas mãos para frente e o grande peixe saltou sobre elas. Larô recebeu o título de Ataojá - contração da frase Yorubá: A tewo gba ejá, "Ele estende as mãos e recebe o peixe" - e declarou: Òsún gbò, "Òsún está em estado de maturidade", suas águas serão sempre abundantes, esta foi a origem do nome do cidade Osogbo.

No dia da festa anual, Ataojá vai solenemente até as margens do rio. Sua cabeça é coberta por uma coroa monumental feita com pequenas missangas reunidas e é vestido com pesada roupa de veludo. Anda com calma e gravidade, rodeado por suas mulheres e seus dignatários. Uma de sua s filhas leva, nesta procissão anual, a cabaça contendo os objetos sagrados de
Òsún. É a Arugbá Òsún, "aquela que leva a cabaça de Òsún". Ela representa a moça que outrora desaparecera no rio. Sua pessoa é sagrada, e o próprio rei inclina-se à sua frente. Depois que atinge a idade da puberdade ela nào pode mais preencher essa função. Mas, pela graça de Òsún, a descendência de Ataojá é sempre numerosa, não faltando, pois, a possibilidade de se encontrar uma Arugbá Òsún disponível.
Ataojá senta-se numa clareira e acolhe as pessoas que vem assistir a cerimônia. Os reis e os chefes das cidades vizinhas estão todos presentes ou enviaram representantes. As delegações chegam, uma após a outra, acompanhadas por tocadores de tambores. Trocas de saudações, prosternações e danças sucedem-se como formas de cortesia recíproca, com animação crescente. Ao final da manhã, Ataojá, acompanhado pelo seu povo e pelos seus hóspedes, aproxima-se do rio e aí manda lançar oferendas e comidas, no mesmo lugar onde Larô o fizera outrora. Os peixes as disputam sob o olhar atento das sacerdotisas de
Òsún.
Ataojá dirige-se, a seguir, até as proximidades de um pequeno templo vizinho e senta-se sobre a pedra onde seu ancestral Larô havia repousado em outros tempos. A adivinhação é feita para saber se
Òsún está satisfeita e se ela tem alguma vontade de exprimir. Ataojá volta em seguida para a clareira, onde recebe e trata seus convidados com uma generosidade digna da reputação de Òsún, a rainha de todos os rios.
No Brasil, os adeptos de
Òsún usam colares de contas de vidro de cor amarelo-ouro e numerosos braceletes de latão. o dia da semana que lhe é consagrado é o sábado e ela é saudada, como na África, pela expressão Oré Yeyé O!!!. "Chamemos a benevolência da Mãe !!!".
É recomendável fazer sacrifícios de cabra a
Òsún e oferecer-lhe pratos de Omolokun (mistura de cebolas, feijão de espécie fradinho, sal e camarões), de Adúm (farinha de milho misturada com mel de abelha e azeite doce). A sua dança lembra o comportamento de uma mulher vaidosa e sedutora que vai ao rio para se banhar, enfeita-se com colares, agita os braços para fazer tilintar os seus braceletes, abana-se graciosamente e contempla-se com satisfação num espelho. O ritmo que acompanha as suas danças denomina-se Ijesá, nome de uma região da África, por onde corre o rio Òsún.
Ela é sincretizada, no Brasil, com Nossa Senhora das Candeias (na Bahia) e nossa Senhora dos Prazeres (em Recife), e Nossa Senhora da Conceição, enquanto que em cuba é assimilada a Nossa Senhora da Caridade, cuja igreja encontra-se em El Cobre.

O arquétipo de
Òsún é o das mulheres graciosas e elegantes, com paixão pelas jóias, perfumes, vestimentas caras. Das mulheres que são símbolo do charme e da beleza. Voluptuosas e sensuais, porém mais reservadas que Oyá. Elas evitam chocar a opinião pública à qual dão grande importância. Sobre sua aparência graciosa e sedutora escondem uma vontade muito forte e um grande desejo de ascensão social.
(Desconheço a autoria)

Fonte: Moína Lima





Senhora soberana das águas doces. Todos os rios, lagos, lagoas e cachoeiras pertencem a este Òrìsá. O casamento, o ventre e a fecundidade e as crianças são de Òsún, assim como, talvez por consequência, a felicidade. O ouro e o dinheiro em todas as suas espécies também são de Òsún. Pela hierarquia  é o primeiro Òrìsá doce seguida de Yemojá e Osáàlá, formando assim o grupo de Òrìsás mais respeitados e cultuados.
    









Oríkì fún Obàlúàiyé


ÒRÌSÀ Jìngbìnì
Abàtà, Arú Bí Ewé Ajó.
ÒRÌSÀ Tí Nmú Omo Mú Ìyá
Bí Obàlúàiyé Bá Mú Won Tán
O Tún Lè Sáré Lo Mú Bàbá
ÒRÌSÀ Bí Àjé
Obàlúàiyé Mo Ilé Osó, O Mo Ilé Àjé
O Gbá Osó L’ójú
Osó Kún Fínrínfínrín.
O Pa Àjé Ku Ìkan Soso
ÒRÌSÀ Jìngbìnì
Obàlúàiyé A Mú Ni Toùn Toùn
Obàlúàiyé Sí Odù Re Hàn Mí
Kí Ndi Olówó
Kí Ndi Olomo.
Àse


Oríkì para Obàlúàiyé


Òrìsà forte
Abàtà que floresce como as folhas de ajó.
Òrìsà que pune a mãe junto com o filho
Depois que Obàlúàiyé acabar de pegá-los
Poderá ir pegar o Pai.
Òrìsà igual ao feitiço.
Obàlúàiyé conhece tanto a casa do feiticeiro,
quanto a casa da bruxa
Desafiou o feiticeiro
O feiticeiro correu desesperado.
Matou todas as bruxas
e só permitiu que uma sobrevivesse
Òrìsà forte
Obàlúàiyé que faz as pessoas perderem a voz
Obàlúàiyé abra seu odù para mim
para que eu tenha prosperidade
para que eu tenha muitos filhos.
Assim seja, assim seja, assim seja
AXÉ

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ancestrais e Antepassados



Os yorubá, como os demais grupos africanos, crêem na existência ativa dos antepassados. A morte não representa simplesmente um fim da vida humana, mas a vida terrestre se prolonga em direção à vida além-túmulo, exatamente em algum dos nove espaços do òrun, o domínio dos seres desprovidos do èmi. Assim, a morte não representa uma extinção, mas mudanças de uma vida para outra.

Os antepassados ou ancestrais são denominados Òkú òrun e Àgbagbà, ou ainda pelo título de Ésà, usado para reverenciar os ancestrais nos ritos de Ìpàdé, dos Candomblés do Brasil. Um antepassado é alguém de quem uma pessoa descende, seja através do pai ou da mãe em qualquer período do tempo, e que o ser vivente conserva relações filiais afetuosas. Somente alcançarão a condição de Ancestral com merecimento de culto aqueles que atingiram uma idade avançada, com uma vida de boa qualidade e trabalho expressivo para a sociedade, além de terem deixado bons filhos. Para os yorubá, um casamento sem filho é algo mal sucedido. Na verdade, seu sistema de valores tem por base três coisas: Owó (dinheiro), Omo (filhos) e Àikú (vida longa). A vida longa é considerada a mais importante porque proporciona a oportunidade que pode tornar possível as duas outras.
São esses e toda a linhagem de gerações passadas que, depois da morte, se transformam, para seus familiares, nas figuras mais importantes do mundo espiritual. Embora os ancestrais compreendam membros masculinos e femininos das gerações anteriores, os ancestrais masculinos são os mais importantes.

Ao seguirem para o òrun, os ancestrais são libertos de todas as restrições impostas pela Terra; dessa forma, adquirem potencialidades que podem ser usadas para beneficiar seus familiares, que ainda estão na Terra. Por essa razão, é necessário mantê-los num estado de paz e contentamento.
Quando dissemos que existe um culto ao ancestral, queremos dizer que o que existe de fato é uma manifestação de relacionamento familiar indestrutível entre o familiar que partiu e seus descedentes que aqui ficaram. A palavra culto então colocada tem o significado de homenagem que melhor expressa o nosso entendimento sobre o assunto. O encaminhamento do espírito, depois dos rituais realizados, corresponde a passar de volta pelo portão do Oníbodè em direção a Olódùmarè, para receber o julgamento de seus atos na Terra. De acordo com o òrun ao qual foi destinado, continuará a exercer suas funções familiares, agora de modo mais poderoso sobre seus descendentes que a ele continuam a referir como Bàbá mi - meu pai ou Ìyá mi - minha mãe. Esta forma salienta o amor e afeição que caracterizam as relações de ambos. E trata-se de uma revelação viv, pois eles não dizem "Eu vou falar com o espírito do meu pai", mas sim, "Eu vou falar com meu pai", numa comprovação de que eles continuam a ter o título de relacionamento que tinham enquanto chefes de família.

O fim da vida na Terra envolve a questão a respeito do que se transforma o homem após a vida atual. Toda religião encara isto: nascimento, vida e morte (ibí, ìyè àti ikú); o pós-vida - ìyè léhin kú; o julgamento divino - idájó ti Olórun; e o possível retorno em outra vida, sucessivamente - Àtúnwa (reencarnação).




Fonte: Òrun Àiyé - José Beniste

O Jogo de Búzios



O sistema de consulta utilizando búzios foi introduzido no Brasil e aceito pelas primeiras comunidades religiosas ao tempo de Ìyá Nàsó, pela sua possível opção de ser utilizado tanto por homens como por mulheres. Enquanto Ifá e o Òpèlè são, ainda hoje, utilizados somente por homens, os búzios foram opção viável se considerarmos que os primeiros Candomblés foram dirigidos exclusivamente por mulheres. Foi Bámgbósé que implantou um sistema de jogo apoiado em 16 odù, que se dividiam em 70 caminhos; para cada caminho, uma revelação diferente, o que faz o odù ter personalidade variada, na sequência das jogadas efetuadas. Por esse motivo é que se efetuam diferentes jogadas e a interpretação feita pelo conjunto de odù apresentado nas caídas.

Os Búzios

São conchas marinhas compostas de duas faces: dianteira e traseira. A face dianteira contém uma fenda dentada de cima a baixo, a qual podemos chamar de boca, e segundo a totalidade dos Bàbáláwo, é a parte falante do jogo. A face traseira, originalmente fechada, é aberta para propiciar o equilíbrio e a queda dos búzios em duas posições, aberto e fechado, com idênticas probabilidades. Há quem diga que o uso do búzio pela parte aberta manualmente é próprio das mulheres, e o uso da parte aberta naturalmente é próprio dos homens. Não seguimos este processo por fugir às tradições estabelecidas. E mais, observando a face dianteira do búzios verificamos que se assemelha a uma boca, onde vemos os lábios superior e inferior, os dentes da arcada superior e inferior. Esta é, portanto, a parte da frente e a boca pelo qual o búzio fala.




Os Odù no Jogo de Búzios


A posição que os búzios tomam ao serem lançados durante o jogo é denominada de Odù. Par cada posição do búzio entre o lado aberto e o fechado, o Odù toma um nome diferente num total de 16, que são denominados de Ojú Odù, ou seja, os Odú principais. Possuem um total de 70 caminhos, Ese, distribuídos de forma desigual entre si. Para cada caminho, uma história, Ìtán, que será analisada por analogia como forma de orientação ao consulente, e que determinará o tipo de Ebo a ser realizado, se for o caso. No decorrer de um jogo, um determinado lance pode indicar a necessidade de dar caminho a um Odù (Adimú), o que indevidamente se costuma dizer "despachar Odù". Nesses casos, devem ser observados os Odù que não podem ser "despachados" e o que fazer com esta circunstância muito comum de ocorrer.

No sistema Bámgbósé, cada Odù possui sua história baseada na fecundação que lhe dá origem, o que lhe propicia posicioná-lo na tábua de colocação do jogo de 1 a 16. Esse posicionamento é importante para a prática do Jogo do Ìbò, um elemento auxiliar para determinadas respostas durante o jogo de búzios, tomando-se como referência os Odù mais velhos e os Odù mais novos.



Distribuição dos Caminhos entre os Odù do Jogo de Búzios

1 - Òkànràn                    5 caminhos

2 - Éjì Òkò                     4 caminhos

3 - Étà Ògúndá               5 caminhos

4 - Ìròsùn                       5 caminhos

5 - Òsé                           5 caminhos

6 - Òbàra                       4 caminhos

7 - Ódi                           5 caminhos

8 - Éji Onílè                    8 caminhos

9 - Òsá                           5 caminhos

10- Òfún                         4 caminhos

11- Òwónrín                    5 caminhos

12 - Èjilá Seborà              5 caminhos

13 - Éjì Ológbon              5 caminhos

14 - Ìka                           5 caminhos

15 - Ogbègúndá                     -

16 - Àlàáfíà                            -

Os Òrìsás no Jogo de Búzios

Os Òrìsás falam durante um jogo, posicionando-se como porta-vozes das mensagens transmitidas pelos Odù, podendo aí revelar-se como guardiões da pessoa, Elédá. A características de cada Òrìsá deve ser levada em consideração por ocasião das caída, sendo que, em muitos casos, são eles próprios os personagens das histórias reveladas pelos Odù. Como ilustração podemos considerar algumas posições de Òrìsá e o que representam no jogo: Omulu - doenças, morte; Ògún - luta, emprego; Òsóòsi - viagens; Òsàálá - tranquilidade, sofrimento; Òsún - amor, choro.

O Jogo de Búzios e outras formas de predição devem ser vistos como mecanismo essencial para relações entre o òrun e o àiyé . Os odù posicionados representam a Ciência, Filosofia e Religião de um povo. Explicam o Ser Humano, a razão e origem de todas as coisas, a Vida e a Morte, determinam a Ética e a Moral a serem seguidas; explica os Òrisás e seus fundamentos, as folhas e tabus, as cores e razões dos ritos religiosos. Seria emocionante ouvir essa riqueza de informações por parte dos "olhadores", o que não ocorre em sua quase totalidade, seja, pela falta de conhecimento sobre o assunto, ou interesse, apenas, no sucesso financeiro que a arte do jogo lhes dá.



Fonte: Òrun Aiyè - O encontro de dois mundos - Josè Beniste

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Divulgando - Curso gratuito de Inclusão Digital jovens e 3a.idade

ORTC oferece, curso gratuito de Inclusão Digital para Jovens e 3ª Idade

A ORTC- Organização Cultural Remanescentes de Tia Ciata está oferecendo , curso de Inclusão Digital para Jovens e 3ª Idade, este projeto de Inclusão Digital, busca democratizar o acesso às tecnologias da informação e comunicação, alfabetizando digitalmente, proporcionando (ou ampliando) o contato da maioria das pessoas com as novas ferramentas. Todo cidadão tem direito à informação, principalmente jovens e idosos. Nesse sentido, a Inclusão Digital é a promoção do acesso às “novas tecnologias”, aplicada na solução dos problemas sociais, através da geração de conhecimentos e de intercâmbio de informações, temos objetivo de ampliar a proporção de cidadãos, sobretudo os de baixa renda , acesso às tecnologias da informação, Buscamos também aumentar as iniciativas de desenvolvimento de projetos de Inclusão Digital para a Terceira Idade no país.

( Em frente ao terminal rodoviário Shopping Center, encima do restaurante popular no CRJ – Centro de Referencia da Juventude)
Informações: (21) 2775-9066 / 8881 1262.


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  Contato: 7713 36 99 ID 87*137086

AOS INTERESSADOS FAVOR MANTER CONTATO ATRAVÉS DO E-M: ileyeyekareatidei@hotmail.com - Ìyálòrìsá Elaine ti Òsún

culinária afro brasileira


CULINÁRIA AFRO-BRASILEIRA




O negro introduziu na cozinha o leite de coco-da-baía, o azeite de dendê, confirmou a excelência da pimenta malagueta sobre a do reino, deu ao Brasil o feijão preto, o quiabo, ensinou a fazer vatapá, caruru, mungunzá, acarajé, angu e pamonha.
A cozinha negra, pequena mais forte, fez valer os seus temperos, os verdes, a sua maneira de cozinhar. Modificou os pratos portugueses, substituindo ingredientes; fez a mesma coisa com os pratos da terra; e finalmente criou a cozinha brasileira, descobrindo o chuchu com camarão, ensinando a fazer pratos com camarão seco e a usar as panelas de barro e a colher de pau. 

Milagre para o governador tomar sopa 


O primeiro negro pisou no Brasil com a armada de Martin Afonso. Negros e mulatos (da Guiné e do Cabo Verde) chegaram aqui em 1549, com o Governador Tomé de Souza, que comia mal e era preconceituoso: entre outras coisas, não admitia sopa de cabeça de peixe, em honra a São João Batista.
Bem que o Padre Nóbrega tentou convencê-lo de que era bobagem, mas Tomé de Souza resistiu, até que o jesuíta mandou deitar a rede ao mar e ela veio só de cabeça de peixe, bem fresca e o homem deixou a mania, entrou na sopa.

Da Guiné vieram, principalmente, fulas e mandingas, islamitas e gente de bem comer. Os fulas eram de cor opaca, o que resultou no termo "negro fulo" (entrando depois na língua a expressão "fulo de raiva", para indicar a palidez até do branco). Os mandingas também entraram na língua como novo sinônimo para encantamentos e artes mágicas. Mas os iorubanos ou nagôs, os jejes, os tapas e os haussás, todos sudaneses islamitas e da costa oeste também, fizeram mais pela nossa cozinha porque eram mais aceitos como domésticos do que a gente do sul, o povo de Angola, a maioria de língua banto, ou do que os negros cambindas do Congo, ou os minas, ou os do Moçambique, gente mais forte, mais submissa e mais aproveitada para o serviço pesado.

O africano contribuiu com a difusão do inhame, da cana de açúcar e do dendezeiro, do qual se faz o azeite-de-dendê. O leite de coco, de origem polinésia, foi trazido pelos negros, assim como a pimenta malagueta e a galinha de Angola.

   
A INTRODUÇÃO DA CULINÁRIA AFRICANA NO BRASIL
 

 

CONHECIMENTOS SOBRE A COZINHA DE SANTO
 

A cozinha de santo nas Nações de Ketu, Djeje, Angola, Nagô, Ioruba, Bantos, etc., inclusive no Omolocô quando puxado para uma das outras Nações, é bem diferente das cozinhas profanas, onde se prepara os alimentos do homem em geral.

Há uma série inteira de preceitos do ritual que se há que obedecer. Os utensílios não são iguais aos da cozinha comum. Por essa razão traçaremos um plano de organização, colocando em seqüência as coisas que precisam ser observadas para que tenhamos ORDEM e gozemos das simpatias e estima constante, de todos os ÒRÌSÁS para os quais preparamos os alimentos, as OBRIGAÇÕES.

Algumas receitas ficaram comuns com a inclusão dessa culinária:

Abará: Bolinho de origem afro-brasileira feito com massa de feijão-fradinho temperada com pimenta, sal, cebola e azeite-de-dendê, algumas vezes com camarão seco, inteiro ou moído e misturado à massa, que é embrulhada em folha de bananeira e cozida em água. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Yànsán, Obá e Ibeji).


 

Aberém: Bolinho de origem afro-brasileira, feito de milho ou de arroz moído na pedra, macerado em água, salgado e cozido em folhas de bananeira secas. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Omulu e Osùmàrè).

Abrazô: Bolinho da culinária afro-brasileira, feito de farinha de milho ou de mandioca, apimentado, frito em azeite-de-dendê.



Akasá: Bolinho da culinária afro-brasileira, feito de milho macerado em água fria e depois moído, cozido e envolvido, ainda morno, em folhas verdes de bananeira. (Acompanha o vatapá ou caruru. Preparado com leite de coco e açúcar, é chamada akasá de leite.) [No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Osáàlá, Nanan, Ibeji, Yemoja e Esú.] 


 

Adum: Doce de origem afro-brasileira feito de milho torrado e moído, misturado com azeite-de-dendê e mel. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Òsún). 

 
Aluá: Bebida refrigerante feita de milho, de arroz ou de casca de abacaxi fermentados com açúcar ou rapadura, usada tradicionalmente como oferenda aos òrìsás nas festas populares de origem africana. 



 

Kibebe:  Prato típico do Nordeste, de origem africana, feito de carne-de-sol ou com charque, refogado e cozido com abóbora. Tem a consistência de uma papa grossa e pode ser temperado com azeite-de-dênde e cheiro-verde.



REGRAS SEGUIDAS NA COZINHA DE SANTO


    Via de regra, a Cozinha de Santo tem os seguintes apetrechos, os seguintes utensílios:

MESA OU BANCA onde se colocam os fogareiros à carvão, se na casa não existe ou não tem FOGÃO DE LENHA. Como medida de precaução e até mesmo de maior higiene a mesa modesta, ou banca, deve ser forrada de folha de Flandres (ou folha de alumínio) que evitará seja a madeira queimada pela quentura dos fogareiros e/ou pelas brasas que escapam pela grelha; ela pode ser um pouco comprida para comportar, ao lado, um grande alguidar ou bacia, onde se procede a lavagem dos utensílios, panelas e louça.

Um FOGAREIRO (ou vários) conforme a necessidade, de ferro, para carvão vegetal. São facilmente encontrados em lojas de ferragens, principalmente nos bairros mais modestos.

PANELAS DE BARRO, vidradas ou simples, ou então de ferro. Nós preferimos as de barro, como nos tempos passados.

AS COLHERES são de pau, de variados tipos. RALOS para côco são de folha. URUPEMBA (peneira) é de taquara e a encontramos em casas especializadas, o COADOR deve ser de folha.

MÁQUINA de moer carne. Atualmente já não se encontra PEDRA DE RALAR, DE MOER (mó) para triturar grãos e por esse motivo só pode ser resolvido com um moinho ou pilão (que já é difícil de encontrar). A escumadeira também é de folha.

O FOGAREIRO ou o FOGÃO DE LENHA não se abana para os dois lados, como na feitura de alimentos profanos; abana-se da Direita para a Esquerda, a princípio parece difícil, mas em pouco tempo acha-se o jeito.

Constituída ou organizada a Cozinha, vejamos agora as pessoas que nela vão trabalhar:

As ÌYÁBÁS ou ÌYÁBASÉS, as cozinheiras do Santo, trabalham paramentadas, vestidas no ritual. Colocam ao pescoço os fios de conta do òrìsá cujo alimento está sendo preparado.

Se tem-se recursos maiores, procura-se ter um depósito ou numa dispensa o material ou ingredientes mais usados para se poder atender rapidamente, ao pedido ou ordem superior, referente à qualquer obrigação.

Nos depósitos da cozinha de Santo, não devem faltar os seguintes artigos ou gêneros mais aplicados na alimentação ou nas obrigações:

Azeite de dendê.

Azeite de Oliveira (azeite doce)

Arroz quebradinho

Canjica

Canjiquinha de milho vermelho

Cebolas

Farinha de mandioca, farinha de guerra, farinha de pau.

Feijão fradinho, feijão miúdo

Feijão branco

Feijão vermelho

Fubá de milho vermelho

Fubá de milho branco

Fubá de Arroz

Maisena

Milho alho - para pipocas

Noz moscada

Ori

Pimenta malagueta

Velas



 

Antes de começar o trabalho de cozinhar para o santo, a ÌYÀBÁ, ou filha de fé, ou filha de santo, acende uma vela ao seu ELEDÁ, próximo ou ao lado do local onde vai executar o dito trabalho e ao lado da vela, um copo d'água. Se o trabalho se alongar e a vela terminar, antes que isso aconteça, acende-se outra sobre o toco que está terminando, uma outra e ao terminar o trabalho, retira-se a vela e o copo d'água de perto do fogão ou fogareiro, colocando-a no PEJI ou em lugar alto para terminar, terminada a vela, despacha-se a água em lugar que haja água corrente, no lavatório, no tanque.

Após o serviço, as brasas dos fogareiros são apagadas com areia, nunca com água.

Organizada a cozinha, poderemos a qualquer momento, preparar a iguarias originariamente destinadas aos Òrìsás tal qual são realizadas na fonte doutrinária do Candomblé.
 

A história da alimentação, dá-nos uma coleção de preceitos e crendices, conforme segue:

Não se come despido ou sem camisa, é ofensa ao Anjo da Guarda;

Comer com chapéu na cabeça é comer acompanhado de forças negativas;

Não se come com o prato na mão, a miséria fareja;

Não se come as pontas dos animais ou aves são Asés (pertencem ) ao santo;

Dinheiro sobre a mesa de refeições provoca miséria;

Quando cai comida no chão ou escapa do talher e vai ao solo é sinal de que existe parente passando necessidade;

Não se apanha alimento que cai ao chão. É das almas;

Recebe-se o prato com a mão direita  - é benção do prato cheio (C. Cascudo);

Pão não se joga fora -  é corpo de Deus;

Donzela não serve sal, não corta galinha, nem passa palitos - custa a casar. (C. Cascudo);

Relativamente à cozinheira, prescrevem:

Não se mexe alimentos que estão cozinhando, no sentido da mão esquerda, senão desanda ou encrua;

Não se mexe comida de Esú com a mão direita, para não absorver fluídos negativos;

Antes de começar a cozinhar para o santo, faz-se o sinal da cruz, tudo correrá bem;

Não bata com a tampa da panela quando estiver cozinhando, afugenta a proteção;

Quando a comida não quer amolecer, coloca-se na panela, três caroços de milho, amolece rápido;

Não deve cozinhar para o santo: os homens de corpo sujo e as mulheres de corpo aberto; Corta o efeito das obrigações;

São várias as  determinações referentes ao ritual de Candomblé, assim:

Não se cortam aves ou bichos de quatro pés a não ser nas juntas. O santo recusa.

Obrigação mal feita ou mal arriada, paga-se em dobro.

Quando se arreia uma obrigação na encruzilhada, não se volta, nem se passa pelo mesmo caminho durante 24 horas, para não pegar os miasmas de retorno.

Antes de se sacrificar um animal (quando necessário) nos terreiros, manda-se limpá-lo com o omi (água), sem isso o santo não aceita.

O Sacrifício de aves e/ou animais só são aplicados por conta da necessidade vista através da consulta dos búzios ao Òrìsá.


VARIEDADES DAS COMIDAS DE SANTO


ESÚ - farofa - dendê e pinga.
ÒGÚN - feijão preto com cebola.
OSÓÒSI - milho e coco.
OSANIYN - feijão preto com mel e coco.
OBALUWAIYÈ - pipocas.
SANGÒ - quiabo ( Ajegbò e Amalá ).
OSÙMÀRÈ - batata doce ou amendoim cozido com casca e mel.
ÒSÚN - ovos cozidos, camarão, milho e coco.
YÁNSÀN - acarajés.
NANAN - folha de Mostarda ou Taioba.
OBÁ - divide com Sangò, o quiabo ( Amalá ).
YEWÁ - frutas.
IROKO - verduras e cebola.
YEMOJÁ - arroz, mel, peixe, manjar branco.
OSÁÀLÁ - rroz branco, canjica, inhame pilado e cozido.








COMIDA PARA ESÚ:
Material ecessário: Farinha, azeite-de-dendê, mel, milho branco e vermelho, figado, coração e bofe de boi, cebola, camarão seco socado, oberó.
 

Maneira de Preparar:
Mi-Ami-Mi : É a farofa amarela ( farinha misturada com Azeite-de-Dendê ).

Pade branco : É a farofa de Mel ( farinha de mandioca misturada com mel de Abelha ).


 

Akasá branco: O akasá feito de milho branco de canjica, moído e enrolado na folha da bananeira depois de cozido.
 

Eran : Fígado, coração e bofe de boi, cortados em pedaços muídos, misturados com azeite-de-dendê, camarão seco socado e cebolas cortadas em rodelas, num oberó.

COMIDA PARA OGÚN
Material necessário: Inhame, azeite-de-dendê, mel de abelhas.

Maneira de Fazer:
Frita-se o inhame na brasa. Depois disso, descansa-se e tempera-se no azeite-de-dendê e o mel de abelhas.


 

ERAN - O Eran de Ogún é feito com miúdos de boi, cortados bem pequenos e cozidos no azeite-de-dendê. Depois, eles são passados num refogado de cebola ralada e estão prontos.

EFUN - Farofa de mel - mistura-se a farinha de mandioca com mel de abelhas e pronto. Pode-se colocar num Oberó, nos pés de Ogún, ou nas estradas, pedindo a Ogún que adoce os seus caminhos e suas estradas.


COMIDA PARA OXÓSSI (ODÉ)

Material necessário: Milho Vermelho, côco, 1 oberó

Maneira de Fazer:

Asosó - É a comida mais comum de Osóòsi - cozinha-se o milho vermelho somente em água, depois deixa-se esfriar, coloca-se num Oberó e enfeita-se por cima com fatias de côco.



 

COMIDA PARA ÒSÚN

Omolokún 

Material necessário: Feijão fradinho, cebola, camarão seco socado, azeite-de-dendê, ovos cozidos.

Maneira de Fazer:

Cozinha-se o feijão fradinho só em água. Em seguida, tempera-se num refogado de cebola ralada com camarão seco socado de dendê. Coloca-se em uma tigela e enfeita-se por cima com ovos, descascados.


 
           

COMIDA PARA YÁNSÀN - OYÁ
      

Acarajé
 
Material necessário: Feijão fradinho, camarão seco socado, cebola, azeite-de-dendê.

Maneira de Fazer:

Coloca-se o feijão fradinho de molho em água, para descansá-lo crú. Depois, moesse o feijão e mistura-se com a cebola ralada, camarão seco socado e deixa-se a massa descansar, coberta por um pano ou uma pedra de carvão no meio. Depois, bate-se bem a massa para dar ponto, e fritam-se bolos tirados com a colher, no azeite-de-dendê bem quente.




COMIDA PARA OSÙMÀRÈ

 
Material necessário: Feijão fradinho, milho vermelho, cebola, azeite-de-dendê.

Maneira de fazer:

Cozinha-se o feijão fradinho em água. Separado, cozinha-se o milho vermelho também em água. Depois, juntar o feijão e o milho, num refogado de cebola ralada com Azeite-de-Dendê.

Nota: Osùmàrè e Yewá comem juntos.
Osùmàrè é a cobra macho e Yewá a cobra, chamados no Djeje de Dan-Bessén ou Azaundo.

Material necessário: Milho vermelho, feijão fradinho, azeite-de-dendê, camarão seco, 1 oberó, batata-doce, ovos cozidos, 1 côco, mel.

Maneira de Fazer:

Cozinha-se o milho só em água. Separado, cozinha-se o feijão fradinho, também só em água. Refoga-se o feijão com azeite-de-dendê, cebola ralada e camarão seco socado. Coloca-se o feijão em metade de um oberó e, na outra metade o milho vermelho. Frita-se a batata-doce e coloca-se por cima em fatias, em volta, enfeita-se um ovos cozidos em rodelas, fatias de côco e coloca-se bastante mel de abelha por cima.



COMIDA PARA OSANYIN

Material necessário: Batata-doce, cebola, azeite-de-dendê, oberó.

Maneira de fazer:

Cozinha-se a batata-doce só em água. Depois, descansa-se e amassa-se feito purê. Ai, mistura-se num refogado de cebola ralada com azeite-de-dendê, e coloca-se tudo num oberó.


COMIDA PARA OBÁ

Material necessário: Feijão fradinho, cebola, camarão seco socado, azeite-de-dendê, farinha de mandioca,  oberó.

Maneira de Fazer:

Cozinha-se o feijão em água. Depois, mistura-se num refogado de cebola raladas, camarão seco socado, azeite-de-dendê e água. por cima, adiciona-se farinha de mandioca, fazendo um pirão e coloca-se num oberó.

Nota: Conta-se que Obá é a dona do amor e quando se quer solucionar uma questão de amor, oferece-se uma comida desta na beira do lago, com muitas velas e flores.
     


COMIDA PARA YEMO

Ejá (peixe)

Material necessário: Peixe de qualidade vermelho, azeite doce, camarão seco socado, cebola ralada.

Maneira de Fazer:

Cozinha-se o peixe em refogado de azeite doce com camarão seco socado e cebola.


 

EGBÒIYÁ

Material necessário: Canjica cozida, azeite doce, camarão seco socado, cebola ralada.

Maneira de Fazer:

Cozinha-se a canjica, tempera-se com azeite doce, camarão seco socado e cebola ralada.


COMIDA PARA NANAN

Damborò

Material Necessário: Folha de Taioba ou Mostarda, cebola ralada, camarão seco socado, azeite-de-dendê.

Maneira de Fazer:

Cozinha-se bem a folha de taioba ou mostarda,e em seguida tempera-se num refogado de cebola ralada, camarão seco socado e azeite-de-dendê.

 

COMIDA DE OMOLU E OBALÙWAIYÈ

Doburù

Material Necessário: Milho alho ( para pipoca ) ou milho vermelho, areia da praia.

Maneira de Fazer:

Numa panela quente com areia da praia, estourar o milho e está pronto o doburú.




OUTRAS COMIDAS

Material Necessário: Feijão preto, cebola, ½ K de camarão seco, azeite-de-dendê.

Maneira de Fazer:

Cozinha-se o feijão preto, só em água, e depois refoga-se cebola ralada, camarão seco e azeite-de-dendê.


COMIDA PARA SANGÒ

Amalá

Material necessário: Quiabos, Mel,  azeite-de-dendê,  água,  gamela, carne de sol.

Maneira de Fazer:

Cortam-se os quiabos em pedacinhos bem pequenos, depois tempera-se com cebola ralada, camarão seco socado e azeite-de-Dendê. Cozinha-se bastante e depois mistura-se com a carne de sol cozida e cortadas em pedacinhos.


 


COMIDA PARA OSÁÀLÁ

Egbò

Material necessário: Canjica branca, Mel, Algodão, Água.

Maneira de Fazer:

Cozinha-se a canjica somente em água. Depois de bem cozida, coloca-se numa vasilha branca, coloca-se bastante mel de abelhas e cobre-se com algodão.

Akasá

Material necessário: Canjica branca, folha de bananeira.

Maneira de Fazer:

Moe-se o milho de canjica, cozinha-se até dar até dar o ponto de ficar bem durinho e enrole os bolinhos na folha da bananeira.


 

Inhame Acará

Cozinha-se o inhame e depois amassa-se feito um purê. Faz-se bolinhos na mão e coloca-se em pratos brancos. Oferece-se a Osáàlá.



 




Nota: Todos os Òrìsás do Candomblé comem akasá branco. Em cima da comida do Òrìsá, antes de oferecer-lhe, deve-se abrir um akasá branco.
         

 Fonte:
http://www.reideife.rg3.net/