sábado, 9 de abril de 2011

Ko si Ewé ... Ko si Òrìsá!

Aquilo que te cura é o que te escraviza. Veneno e remédio são irmãos e moram no asè da mesma folha. É desta forma que Ifá nos esclarece sobre a natureza do òrìsá Osanyin, o senhor das plantas medicinais e litúrgicas das matas cerradas e densas florestas

Meditar sobre Osanyin coloca o homem diante de perguntas das mais pertinentes sobre a nossa condição e relação com o mundo: determinada coisa  é a minha cura  ou a minha condenação? Me liberta ou escraviza? Quem é o verdadeiro escravo, o cativo ou o seu dono? 

Dizem que Osanyin - que vivia pelas matas ao lado de seu escravo Aroni -  recebeu o poder de Olodumare para conhecer o mistério das folhas. Guardou as folhas todas numa cabaça pendurada no galho de uma árvore. Um dia Yànsán, muito curiosa, enfeitiçou os ventos para que eles derrubassem o galho da árvore e espalhassem as folhas sagradas pela floresta. Os demais Òrìsás, então, recolheram determinadas folhas e passaram a considerá-las como suas.

Esse conto de Ifá, o corpo literário e filosófico dos Yorubás que está em pé de igualdade com os mais belos sistemas de pensamento que a humanidade concebeu, é uma poderosa alegoria sobre a difusão do saber pelo mundo. A curiosidade espalhou o conhecimento e difundiu o segredo.

Havia, porém, um problema. A folha, para se transformar em remédio, tem que ser potencializada pela palavra e o canto. Só o encantamento pelo verbo é capaz de dotar a folha de seus atributos de cura. A ausência da palavra não potencializa a folha. A utilização da palavra errada transforma em veneno o que era para ser o bálsamo.  

Os Òrìsás, então, mesmo tendo recolhido as folhas que o vento de Yànsán distribuiu, precisavam ainda de Osanyin, porque só a ele Olodùmarè dera o conhecimento das palavras e dos cantos capazes de dotar as folhas do asè. E é essa a função de Osanyin desde então, potencializar a folha pela palavra e dotar a planta da capacidade de vida e morte.

Osanyin é, portanto, dos Òrìsás mais perigosos, sedutores e desafiadores. É o senhor da expressão certa que nos cura e o conhecedor da palavra que, mal colocada, pode nos matar. Veneno e remédio, afinal, são irmãos.

Osanyin mostra o poder da palavra que vira poema, canto, evocação do mistério, libertação e vitalidade.
Osanyin alerta para o poder da palavra que desarmoniza, é declaração de guerra, dureza de pedra, escravidão e perda do a - a morte.

Osanyin ri e zomba dos homens que não sabem o que fazer com o verbo. São estes, curiosamente, os que mais falam.


Encanta a folha com a tua palavra, mas não faz do teu verbo a serpente que envenena  o mundo. Eis o desafio poderoso que Osanyin nos lança todos os dias e está expresso em um dos seus mais famosos orikis.

É por isso, segundo a filosofia nagô, que os Bábàlosanyin [sacerdotes de Osanyin e conhecedores dos atributos do encantamento das plantas] são os mais calados dentre os sábios. Eles sabem exatamente que o homem que diz sou, não é.
 
Por conhecer o teor de veneno e remédio que cada palavra guarda, os que reverenciam o senhor das folhas, se não podem encantar o mundo, preferem silenciar.

 Texto de Luiz Antonio Simas






Ábèbè Òsún = Erva Capitão
Abéré = Picão Preto

Ábitólá = Cambará

Àfòmón = Erva de Passarinho

Àgbá = Romã

Àgbàdó = Milho

Àgbaó = Imbaúba

Agbéye = Melão D'Água

Àgbon = Coqueiro

Àgogo = Figueira do Inferno

Àjóbi, Àjóbi Oilé, Àjóbi Pupá = Aroeira Comum, Aroeira Vermelha

Àjóbi Funfun = Aroeira Branca

Akan = Cará Moela

Akòko = Acoco

Jokonije = Jarrinha

Alékèsì = São Gonçalinho

Àlùbósà = Cebola

Àlúkerésé = Dama da Noite

Àlùmóm = Boldo Paulista

Àmù = Sete Sangrias

Apáòká = Jaqueira

Àrìdan = Aridan

Àrùsò = Alfazema

Àsíkùtá e Efin = Malva Branca

Ata = Pimenta Malagueta

Ataare = Pimenta da Costa

Atopá Kun = Arruda

Àtòrìnà = Sabugueiro

Awùrépépé = Agrião do Para, Pimenta D'Água

Bàlá = Taioba

Balabá = Lirio do Brejo

Bánjókó = Bem me Quer

Bàrà = Melancia

Bejerekun = Pindaíba

Bujè = Jenipapeiro

Dandá = Junquinho

Dankó = Bambu

Efínfín = Alfavaca

Efínrín Kékéré = Manjericão

Ègé = Mandioca

Ègúsi = Melão

Èkèlegbara = Perpétua

Ekun = Sapê

Elégédé = Abóbora

Èpà = Amendoim

Eré Tuntún = Levante

Eró igbin = Erva de Bicho

Èsìsì = Urtiga

Etába ou Asá = Tabaco

Étipónlá = Erva Tostão

Ewé Bàbá = Boldo

Ewé Bíyemí = Quebra Pedra

Ewé Boyí = Bétis Cheiroso

Ewé Gbúre = Bredo

Ewé Idá Òrìsà = Espada de São Jorge

Ewé Inón = Folha Fogo

Ewé Isinisini =  Mastruz

Ewé Iyá = Pariparoba

Ewé Kúkúndùnkú = Batata Doce

Ewé Lárà Funfun = Mamona

Ewé Lorogún = Abre Caminho


Local de pesquisa: 
O livro  Ewé Òrìsà.

Autor:  Flavio Pessoa de Barros e Eduardo Napoleão.                                                                                  

Ed. Bertrand Brasil .

2 comentários:

  1. Mãe Elaine ti Òsún, obrigado pelo blog, está lindo, parabéns, aproveitei para postar algumas lendas que você escreveu no meu blog, mas coloquei as devidas referências. Parabéns o Blog está fascinante !

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  2. Eu não costumo me comunicar muitos a respeito dos temas que me interessam, mas quero dizer que a respeito do meu orixa Osanyin esta foi um dos melhores descrições a respeito que ja cheguei a encontrar. Não sou iniciado ainda, mas logo estarei e site como esse são muito bons. O engraçado é que como a questão da comunicação mexe comigo profundamente há tanto tempo, como eu me calo tantas vezes se não posso mostrar o que quero mostra e lendo esse texto hoje me leva a concluir que isso advém do meu orixa. Sinceramente fique emocionado com o texto, de coração.

    Muito obrigado, parabéns pelo site!

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