terça-feira, 20 de julho de 2010

Propagandas...Modernidades... até onde podemos ir???

Acabei de fazer um "tour" com um amigo meu Ògán que veio de Sampa ao Mercadão de Madureira. Ele, maravilhado com tudo que estava vendo... a quantidade de lojas de artigos religiosos, a variedade, os preços, enfim tudo que aquele comércio (muito conhecido por nós cariocas)  oferece aos adeptos dos Cultos Afro-brasileiros. Porém, uma coisa me impressionou deveras, foi a quantidade de jornais específicos sobre a  religião. Até aí, eu acho que foi uma  bonita conquista nossa, termos nos dias de hoje esse tipo de veículo de mídia, circulando e divulgando à nossa religiosidade. Recolhi todos os exemplares disponíveis. Todavia, deparei com uma situação que me preocupou bastante,  a quantidade de anúncios e propagandas de irmãos se oferecendo em consultas de jogos de búzios, trabalhos com entidades, correntes e etc. Entendo, que  esses veículos precisam sobreviver, o que é feito através desses anúncios, porém, a quantidade é bem grande. Não tenho nada contra aos irmãos utlizarem desse artifício para promover às suas casas, porém fico reticente, e acho isso um tanto quanto perigoso, porque acaba gerando uma incredibilidade a mesma, cada vez maior. Fico com a estranha sensação que estamos vivendo uma guerra santa. Uma quantidade  enorme de serviços prestados, em nome de uma religião onde existem tantos Bàbálòrìsás e Ìyálòrisás por metro quadrado (situação que não deveria ser tão normal assim), é realmente assustador!!
Cadê o antigo boca a boca?? Lembro que minha avó (Iyalorisá não conhecida), tinha os seus clientes (e de certa maneira vivia deles também), ser procurada e bem procurada diga-se de passagem, sem precisar ilustrar jornais ou qualquer outro tipo de mídia. A sua propaganda era a força da sua espiritualidade, onde certamente ajudava aos consulentes que iam à sua procura, os quais retornavam e traziam sempre outros novos clientes. Hoje, essa propaganda e divulgação é mais ampla, tendo em vista, a quantidade de meios de comunicação que temos, reitero... não vejo nada de mais em acompanharmos a evolução tecnológica, a liberdade de expressão, eu mesma, fazendo esse post, posso aos olhos de algumas pessoas, tbm estar querendo me promover de uma forma indireta, o que não é minha intenção, tendo em vista, inclusive,  o pequeno número de pessoas seguidoras desse blog, mas há aqueles que possam pensar desta maneira, e isso, eu não posso descartar e nem impedir. O que na realidade estou questionando, e colocando aqui, é o temor que sinto cada vez mais, que com essa exposição toda, "o tiro possa sair cada vez mais pela culatra". Acho que temos responsabilidade nisso sim... Hello! minha gente, a intolerância religiosa existe...vemos isso no nosso dia a dia, vários movimentos são criados para inibir isso, mas infelizmente ainda é uma realidade cruel e vivida por alguns de nós. Então, acho que pensar um pouco não faz mal... Até onde eu posso contribuir e o que fazer para eu ser respeitado na religiosidade que eu quero para a minha vida?? Será que se eu me expor muito, ao invés de ajudar a imagem do Candomblé/Umbanda, eu possa prejudicar a visão das pessoas quanto à Religião?? Temos que nos conscientizar que a promoção deve ser feita sim... mas... com Moderação!
Grandes nomes do nosso Candomblé, ìcones de respeito, credibilidade e destreza religiosa, nâo tiveram o acesso a essa parafernália toda, e não deixam ou deixaram de ser... Figuras ilustres e respeitadas. Fizeram o seus nomes em cima da sua vivência dentro do santo, do seu compromisso com o Sagrado e com os Orisás. Hoje, temos toda essa tecnologia à nosso favor, à favor das nossas casas, à favor dos nossos Òrìsás, coisa que os "nossos mais velhos" não puderam desfrutar, então, temos que tomar cuidado e sermos coerentes quanto à utilização desses recursos. A própria Mãe Nitinha de  Òsún, deixou registrado em suas sábias palavras: "Não é que não se possa modernizar o Candomblé, mas o puro do Sagrado nunca deve mudar de direção" (Ìyá Nitinha ti Òsún). O Candomblé é uma religião de força, de um conteúdo litúrgico vasto, de ancestralidade e com uma linda filosofia, e precisa ser preservada de maneira salutar. 
Irmãos, temos que mostrar às nossas caras... a Sociedade tem que saber que existimos e o que fazemos,  porém, temos que respeitar às tradições e o bom senso na hora da exposição, evitar que exageros e  deslizes, virem  "armas" contra nós mesmos, nas mãos de outros adeptos de outras religiões.
Volto a repetir... uso esse espaço para desabafo apenas, o meu intuito em nenhum momento é ofender e/ou criticar ninguém, apenas expor minhas idéias, dúvidas e pensamentos. Sem a menor pretensão em ser a dona da verdade, até porque sempre me coloco em nível 0  (zero) de aprendizagem, em constante busca do saber, e que certamente morrerei, e não absorverei o suficiente dentro do culto Lèsè Òrìsá (aos pés do Òrìsá). 
Taí uma coisa para pensar... 

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