Acabei de fazer um "tour" com um amigo meu Ògán que veio de Sampa ao Mercadão de Madureira. Ele, maravilhado com tudo que estava vendo... a quantidade de lojas de artigos religiosos, a variedade, os preços, enfim tudo que aquele comércio (muito conhecido por nós cariocas) oferece aos adeptos dos Cultos Afro-brasileiros. Porém, uma coisa me impressionou deveras, foi a quantidade de jornais específicos sobre a religião. Até aí, eu acho que foi uma bonita conquista nossa, termos nos dias de hoje esse tipo de veículo de mídia, circulando e divulgando à nossa religiosidade. Recolhi todos os exemplares disponíveis. Todavia, deparei com uma situação que me preocupou bastante, a quantidade de anúncios e propagandas de irmãos se oferecendo em consultas de jogos de búzios, trabalhos com entidades, correntes e etc. Entendo, que esses veículos precisam sobreviver, o que é feito através desses anúncios, porém, a quantidade é bem grande. Não tenho nada contra aos irmãos utlizarem desse artifício para promover às suas casas, porém fico reticente, e acho isso um tanto quanto perigoso, porque acaba gerando uma incredibilidade a mesma, cada vez maior. Fico com a estranha sensação que estamos vivendo uma guerra santa. Uma quantidade enorme de serviços prestados, em nome de uma religião onde existem tantos Bàbálòrìsás e Ìyálòrisás por metro quadrado (situação que não deveria ser tão normal assim), é realmente assustador!!
Cadê o antigo boca a boca?? Lembro que minha avó (Iyalorisá não conhecida), tinha os seus clientes (e de certa maneira vivia deles também), ser procurada e bem procurada diga-se de passagem, sem precisar ilustrar jornais ou qualquer outro tipo de mídia. A sua propaganda era a força da sua espiritualidade, onde certamente ajudava aos consulentes que iam à sua procura, os quais retornavam e traziam sempre outros novos clientes. Hoje, essa propaganda e divulgação é mais ampla, tendo em vista, a quantidade de meios de comunicação que temos, reitero... não vejo nada de mais em acompanharmos a evolução tecnológica, a liberdade de expressão, eu mesma, fazendo esse post, posso aos olhos de algumas pessoas, tbm estar querendo me promover de uma forma indireta, o que não é minha intenção, tendo em vista, inclusive, o pequeno número de pessoas seguidoras desse blog, mas há aqueles que possam pensar desta maneira, e isso, eu não posso descartar e nem impedir. O que na realidade estou questionando, e colocando aqui, é o temor que sinto cada vez mais, que com essa exposição toda, "o tiro possa sair cada vez mais pela culatra". Acho que temos responsabilidade nisso sim... Hello! minha gente, a intolerância religiosa existe...vemos isso no nosso dia a dia, vários movimentos são criados para inibir isso, mas infelizmente ainda é uma realidade cruel e vivida por alguns de nós. Então, acho que pensar um pouco não faz mal... Até onde eu posso contribuir e o que fazer para eu ser respeitado na religiosidade que eu quero para a minha vida?? Será que se eu me expor muito, ao invés de ajudar a imagem do Candomblé/Umbanda, eu possa prejudicar a visão das pessoas quanto à Religião?? Temos que nos conscientizar que a promoção deve ser feita sim... mas... com Moderação!
Grandes nomes do nosso Candomblé, ìcones de respeito, credibilidade e destreza religiosa, nâo tiveram o acesso a essa parafernália toda, e não deixam ou deixaram de ser... Figuras ilustres e respeitadas. Fizeram o seus nomes em cima da sua vivência dentro do santo, do seu compromisso com o Sagrado e com os Orisás. Hoje, temos toda essa tecnologia à nosso favor, à favor das nossas casas, à favor dos nossos Òrìsás, coisa que os "nossos mais velhos" não puderam desfrutar, então, temos que tomar cuidado e sermos coerentes quanto à utilização desses recursos. A própria Mãe Nitinha de Òsún, deixou registrado em suas sábias palavras: "Não é que não se possa modernizar o Candomblé, mas o puro do Sagrado nunca deve mudar de direção" (Ìyá Nitinha ti Òsún). O Candomblé é uma religião de força, de um conteúdo litúrgico vasto, de ancestralidade e com uma linda filosofia, e precisa ser preservada de maneira salutar.
Irmãos, temos que mostrar às nossas caras... a Sociedade tem que saber que existimos e o que fazemos, porém, temos que respeitar às tradições e o bom senso na hora da exposição, evitar que exageros e deslizes, virem "armas" contra nós mesmos, nas mãos de outros adeptos de outras religiões.
Volto a repetir... uso esse espaço para desabafo apenas, o meu intuito em nenhum momento é ofender e/ou criticar ninguém, apenas expor minhas idéias, dúvidas e pensamentos. Sem a menor pretensão em ser a dona da verdade, até porque sempre me coloco em nível 0 (zero) de aprendizagem, em constante busca do saber, e que certamente morrerei, e não absorverei o suficiente dentro do culto Lèsè Òrìsá (aos pés do Òrìsá).
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