quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Rei do Banquete



Obalúwáiyè - Omolu - Sànpònná


Obalúwáiyè é uma flexão dos termos: Oba (rei) – Oluwò (senhor) – Àiyè (terra), ou seja, “Rei, senhor da Terra”. Omolu também é uma flexão dos termos: Omo (filho) – Oluwò (senhor), que quer dizer “Filho e Senhor”.

Obalúwáiyè ou Omolu é o Sol, a quentura e o calor do Astro Rei. É o senhor das pestes, das moléstias contagiosas. É o rei da Terra, do interior da Terra, e é o Òrìsá que cobre o rosto com o filá (de palha- da-Costa), porque para os humanos é proibido ver seu rosto, pela deformação feita pela doença, e pelo respeito que devemos a este poderosíssimo òrìsá.

Obalúwáiyè também é o Senhor da Terra e das camadas de seu interior, para onde vamos todos nós. Daí a ligação que tem com os mortos, pois ele é quem vai cuidar do corpo sem vida, e guiar o espírito que deixou aquele corpo. 

O sol também tem a sua regência. Ele também é o calor provocado pelo sol quente. Há quem diga que não se deve sair à rua quando o sol está quente sem a proteção de um patuá, a fim de não correr o riscos e não sofrer a ira de Obalúwáiyè, geralmente fatal.

Obalúwáiyè está presente em nosso dia-a-dia, quando sentimos dores, agonia, aflição, ansiedade. Rege também o suor, a transpiração e seus efeitos. Rege aqueles que tem problemas mentais, perturbações nervosas e todos os doentes. Ele proporciona a doença mas, principalmente, a cura, a saúde. É o Òrìsá da misericórdia.
É o dono da terra, e sempre aparece ligado às coisas quentes, pois as moléstias que provocam a febre estão associadas. Daí a expressão quando uma pessoa fica doente: "Ilè nbá a", ou seja, a terra quente o pegou. Por ser considerado a própria doença, seu nome não é pronunciado em vão. Antigamene, à simples citação de seu nome, as pessoas tocavam os dedos no chão e os levavam à cabeça, no mais profundo respeito. Há a tendência de seus filhos terem o dom de curar as pessoas.

Ao se dizer que Omolu é um santo perigoso, está se falando é no sentido de ele ser entendido como o Òrìsá das doenças transmissíveis. Por isso, quando ele se manifesta dançando e vai passando pelo salão, entende-se que está recolhendo as enfermidades, e, ao abraçá-lo, as pessoas o fazem com muita delicadeza:

Omolu pè
Olóore
Awúrè
Kú áàbo

Por pertencer à família de Nànán e Òsùmàré, algumas casas os reunem num só cômodo do lado externo. Estritamente reservado, o que é dele é somente dele. As doenças de pele, como a varíola que lhe está associada, representam os seus poderes de marcar as pessoas sem o uso da faca. Essa questão deveu-se a uma provocação de Ògún, ao dizer que todos os Òrìsás dependiam de sua faca para o sacrifício de animais. Omolu e Nànán se recusaram a aceitar e passaram a usar de outros métodos. 
A cor vermelha, além de revelar a cor das enfermidades, o revela como irmão mais velho de Sangò, contrariando alguns conceitos do Candomblé que os vêem como adversários. Na realidade, a diferença entre ambos é de conceitos, enquanto um representa a fragilidade da doença, a frieza da morte, o outro é fogo, calor e vida. São posições, e não oposições.
Sua insígnia é o sasàrà, que é composto de nervuras de palmeiras, símbolo coletivo dos ancestrais, e ornamentado por búzios, símbolos da existência individualizada. O Sasàrá de Omolú / Obalúwáiyè, filho de Nànán, é como uma vassoura simbólica que pode varrer ou não as doenças. Está relacionado à mobilização do poder de cura e transformação. A cor vermelha representa o calor, a febre que Omolu pode infringir ou afastar, e as cabaças de cores escuras representam o imenso poder de transformação, morte e geração da vida contido na terra. Poderes que Omolú / Obalúwáiyè carrega consigo. Sua dança com o sasàrá nas mãos, imitam o movimento de varrer as doenças da casa:

Sàsàrá gbá'lé
Gbá'lé gbá'lé

Outros elementos deste Òrìsá, é o dono dos búzios, okò, a lança, sáworo, um trançado de palha-da-costa com guizos, usado no tornozelo; lágdígbà, colar de pequenos círculos feitos dos chifres do búfalo.
Mo da'àgo lónan
Ke wa sáworo
Àgo lé'lé
Àgo lónan
Ke wa sàworo
Àgo lé'lé

Quando o òrìsá se manifesta sobre um dos seus iniciados, ele é acolhido pela saudação "Atóto" = silêncio! Seus ìyáwòs dançam inteiramente revestidos de palha da costa. A cabeça também é coberta por um capuz da mesma palha, cujas franjas recobrem seu rosto. Dançam curvados para a frente, como que atormentados por dores, e imitam o sofrimento, as coceiras e os tremores de febre. O seu toque principal é o Opanije, significando em yorubá, "ele mata qualquer um e come".

A sua festa anual de oferendas e comidas chama-se Olúbáje. (Olu-aquele que, ba-aceita, jé-comer ; ou ainda aquele-que-come). Nànán é participante da festa e come com Omolu, e não com as aìyágbás, pois é ela quem esfria a quentura e o perigo as enfermidades de Omolu. Òsùmàré também participa como membro da família, bem como outros òrìsás. 

O Olúbáje, não é uma comida específica, mas sim um banquete oferecido à  Obalúwáiyè.
São oferecidos pratos de aberém (milho cozido enrolado em folha de bananeira), carne de bode e pipocas.

Seus “filhos” devidamente “incorporados” e paramentados oferecem as mesmas aos convidados/assistentes desta festa.

É uma oferenda coletiva para os Òrìsás da Terra, é aguardada durante todo o ano com muito entusiasmo, pois é nesta oferenda que os iniciados ou simpatizantes irão agradecer por mais um ano que passaram livre de doenças e pedir por mais um período de saúde, paz e prosperidade.

A celebração oferece aos participantes um vasto cardápio de “comidas de santo”, e, após todos comerem, participam de uma limpeza espiritual, que evoca a proteção destas divindades por mais um ano na vida de cada um.

É uma das cerimônias mais importantes do Candomblé, e relembra a lenda da festa que ocorria na terra de 
Obalúwáiyè, com todos os Òrìsás, na qual ele não podia entrar.

Segunda-feira é o dia da semana consagrado a ele. Sua comida votiva é o doburu, a pipoca, que as pessoas passam em seus próprios corpos para se preservarem de possíveis doenças, associando, assim numa mesma manifestação, a sua fé à força do Deus africano.
Diz-se que é filho de Nànán e originário, como ela e Òsùmàré, do país Mahi. Os "pejis" dessas três divindades são, por este motivo, reunidos numa mesma cabana, separada dos outros òrìsás.

Obalúwáiyè rege também a força da terra (herdado de sua filiação a Nànán), a umidade dela (por sua adoção por Yemojá) e as doenças das plantações.

Itàn de Obalúwáiyè / Omolu

Chegando de viagem à aldeia onde nascera,
Obalúwáiyè viu que estava acontecendo uma festa com a presença de todos os òrìsás. Obalúwáiyè não podia entrar na festa, devido à sua medonha aparência. Então ficou espreitando pelas frestas do terreiro. Ògún, ao perceber a angústia do òrìsá, cobriu-o com uma roupa de palha, com um capuz que ocultava seu rosto doente, e convidou-o a entrar e aproveitar a alegria dos festejos. Apesar de envergonhado, Obalúwáiyè entrou, mas ninguém se aproximava dele. Yànsán tudo acompanhava com o rabo do olho. Ela compreendia a triste situação de Obalúwáiyè e dele se compadecia. Yànsán esperou que ele estivesse bem no centro do barracão. O sirè (festa, dança, brincadeira) estava animado. Os Òrìsás dançavam alegremente com suas Ekedjis. Yànsán chegou então bem perto dele e soprou suas roupas de palha com seu vento. Nesse momento de encanto e ventania, as feridas de Obalúwáiyè pularam para o alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão.
Obalúwáiyè, o deus das doenças, transformara-se num jovem belo e encantador. Obalúwáiyè e Yànsán Igbàle tornaram-se grandes amigos e reinaram juntos sobre o mundo dos espíritos dos mortos, partilhando o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os homens.

Fonte: Os Orixás - Pierre F. Verger
           As águas de Oxalá - José Beniste
           O Culto dos Orixás


Homenagem especial ao "Meu Negão"... será sempre meu!

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